Bloomberg Línea — O Grupo Porto (PSSA3), que tem uma das maiores seguradoras do Brasil, acelerou a venda cruzada (cross sell) de produtos para reforçar o crescimento de suas unidades de negócios, uma tendência que deve se acentuar nos próximos trimestres, segundo o CEO da companhia, Paulo Kakinoff.
No primeiro trimestre, o grupo lucrou R$ 651 milhões, um crescimento anual de 90,2%, enquanto a receita total avançou 14,2% para R$ 8,6 bilhões, no comparativo anual. Já a rentabilidade medida pelo ROAE (retorno ajustado sobre o patrimônio líquido) cresceu 8,1 pontos percentuais para 20,9% em 12 meses.
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“Uma das principais expectativas de 2024 é a venda cruzada de produtos no aquário de clientes da Porto. Isso está se acelerando e pode ser visto no crescimento dos números das unidades de negócios. É o caso da venda estimulada de cartão de crédito pela venda de seguro”, exemplificou o executivo em conversa com jornalistas nesta terça-feira (14).
Com 17 milhões de clientes, o grupo atua em quarto verticais: Porto Seguro, Porto Saúde, Porto Bank e Porto Serviço.
A maior contribuição para a receita total (R$ 8,6 bilhões) no trimestre veio da vertical da Porto Seguro, que faturou R$ 5,1 bilhões, alta anual de 14,2%. Em seguida está a Porto Saúde, cuja receita atingiu R$ 1,5 bilhão, um aumento de 48,9% em 12 meses.
Desde janeiro, Kakinoff comanda a Porto, em substituição a Roberto Santos.
Uma das expectativas de analistas do setor é que o executivo aumente o número de negócios por cliente com a otimização da venda cruzada por meio de combos, como, por exemplo, a inclusão de seguro para celular e bicicleta quando o cliente contratar um seguro residencial.
“Não precisamos forçosamente de um M&A para o crescimento das verticais. O M&A passa por negociações com outras partes e considera a incorporação de know-how e tecnologia, além de uma representatividade em geografia onde não estamos presentes”, respondeu o CEO ao ser questionado sobre o tema.
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O Porto Bank, vertical financeira, elevou em 21% sua receita no comparativo anual, para R$ 1,3 bilhão. O resultado foi impulsionado pela alta de 38,7% nas receitas de consórcio. No cartão de crédito, o volume total transacionado cresceu 17,7%, totalizando R$ 13,6 bilhões.
A inadimplência das operações de crédito acima de 90 dias encerrou o trimestre em 6,5%, uma redução de 1 ponto percentual em 12 meses e 0,5 ponto percentual abaixo da média de mercado, segundo o grupo.
A companhia passou a divulgar os resultados da Porto Serviço, nova vertical que conta com um portfólio de serviços de assistências residenciais, empresariais e automotivas.
Entre janeiro e março, a vertical realizou 1,2 milhão de atendimentos e obteve R$ 612,4 milhões em receitas. Segundo nota do grupo, a Porto Serviço tem focado na ampliação de vendas no B2C e B2B2C, intensificado parcerias estratégicas para distribuição de seu portfólio de serviços e buscado potenciais operações de M&A para alavancar seu crescimento, como havia sinalizado o CEO em fevereiro.
Em um ano, as ações da Porto acumulam valorização de 24%, acima do desempenho acumulado pelo Ibovespa no período (+19,30%).
Impacto das enchentes no Rio Grande do Sul
O Grupo Porto ainda não precisou o impacto da sinistralidade provocada pelas cheias históricas no Rio Grande do Sul. Segundo a administração, a prioridade é prestar assistência aos times de segurados e colaborar com as autoridades nos trabalhos de resgate e transporte de suprimentos.
As cheias do Rio Grande do Sul podem causar volume de indenizações da ordem de R$ 10 bilhões para as seguradoras, de acordo com projeções de mercado.
A Porto pode rever as projeções (guidances) de 2024, se necessário, após o fim das vistorias. O futuro impacto material da ocorrências de enchentes costuma estar indicado em seu tradicional planejamento dos ranges em que estimam as perdas para a temporada de temporais severos no país.
Os modelos de cálculo de riscos da Porto já incorporam a maior recorrência de eventos climáticos de maior sinistralidade. No início do ano passado, as chuvas extremas causaram mortes, deslizamentos, inundações e danos em diversas partes do país, como o litoral norte de São Paulo, o que deixou a indústria de seguros em alerta redobrado sobre as mudanças climáticas.
Naquela época, a sinistralidade do seguro auto da Porto foi de 61,6% no primeiro trimestre, puxada pelo mês de fevereiro de 2023, em que foi de 64,80% por causa dos sinistros da chuva em São Paulo. O impacto material foi absorvido pelo tamanho da carteira.
No Rio Grande do Sul, a frota atingida pelos alagamentos em regiões gaúchas estaria em uma faixa entre 0,5% e 1% do total de veículos segurados pela Porto, segundo fontes do mercado. A companhia fechou o trimestre com cerca de 6 milhões de veículos segurados.
A Porto aumentou o prazo de vencimento do pagamento de apólices de seguro em 15 dias na região atingida pelas enchentes. Notebooks foram enviados às equipes gaúchas para viabilizar o trabalho remoto.
Segundo essas pessoas com conhecimento do mercado, é esperado em tese um cenário de que, após a normalização da situação de emergência no Rio Grande do Sul, a demanda por apólices aumente na região, a exemplo do que houve com a procura por seguros de vida durante o pico da pandemia da Covid-19.
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