Por que vendedores na Amazon passaram a comprar mais anúncios no Google

Nova tendência do mercado acontece em momento de mudança de comportamento do consumidor, que amplia pesquisa na internet em vez de entrar direto na plataforma de e-commerce

Vendedores da Amazon estão recorrendo a anúncios do Google para aumentar as vendas e atrair novos clientes (Foto: Octavio Jones/Getty Images)
Por Spencer Soper
01 de Junho, 2024 | 01:59 PM

Bloomberg — A Great Oral Health tem vendido produtos dentários na Amazon (AMZN) por quase uma década. E compra anúncios do gigante do e-commerce para se destacar no vasto mercado. Mas, ultimamente, a empresa notou que gastar mais em anúncios na Amazon estava fazendo pouco para gerar novos negócios.

Então, ela recorreu a outra empresa de publicidade online bem conhecida: o Google (GOOG), da Alphabet.

Os compradores encontram os anúncios da Great Oral Health no Google quando pesquisam soluções para mau hálito, doenças gengivais e outras enfermidades. Os resultados os direcionam para o probiótico oral da empresa na Amazon, que, na verdade, paga aos sellers para atrair clientes de outros sites, pois prefere manter o negócio do que perdê-lo para o Walmart ou outro concorrente.

As empresas que vendem pela Amazon há muito tempo usam o Google para direcionar compradores para seus próprios sites, com resultados variados.

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Agora, novos softwares de terceiros ajudam a direcionar quem faz buscas no Google para a Amazon, plataforma em que se sentem confortáveis em comprar.

Os sellers - vendedores - dizem que a técnica tem aumentado as vendas e melhorado seus lucros, porque os anúncios no Google são tipicamente mais baratos do que os da Amazon. O crédito que a Amazon paga pelo tráfego externo – normalmente 10% do preço do produto – “adoça o negócio.

“A Amazon sabe que o Google é um ‘monstro’ e que todos os compradores estão nesses corredores,” disse Ryan Duminy, consultor da Bullseye Sellers, que gerencia a publicidade para a Great Oral Health.

A Amazon vende anúncios há mais de uma década, apesar do receio inicial de que isso poderia atrapalhar a experiência de compra.

Hoje, a big tech com sede em Seattle é um grande player na indústria e gera US$ 47 bilhões em receita de publicidade no ano passado. Mas está se tornando cada vez mais difícil se destacar na loja online da Amazon, o que leva vendedores e marcas a buscarem alternativas de marketing.

O Google, que há muito tempo luta para se tornar um destino de compras, está mais do que feliz em ajudar. Em um esforço para atrair consumidores afetados pela inflação, o gigante da pesquisa lançou uma ferramenta de busca de ofertas. No início deste mês, o Google disse que está testando novos recursos que permitem às marcas fazer upload de vídeos curtos para aparecer nos resultados de busca.

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‘Game changer’

Mas o que realmente mudou o jogo para os vendedores da Amazon é o surgimento de startups como a Carbon6, sediada em Toronto, e a Ampd, sediada em Seattle, que desenvolveram algoritmos hábeis em explorar buscas no Google para compradores ávidos por comprar.

Quem faz buscas podem ser segmentados por idade, estado civil e renda, métricas que podem ser usadas para calcular a probabilidade de eles fazerem uma compra. O software também filtra os buscadores de informações, que podem não estar prontos para fechar a compra.

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“A grande revolução é segmentar compradores prováveis no Google e enviá-los para a Amazon,” disse Tim Jordan, diretor de comunidade da Carbon6, cujo software PixelMe ajuda empresas a aperfeiçoar suas campanhas de marketing no Google.

“Se você envia muito tráfego do Google para a Amazon e essas pessoas não estão comprando, isso é um tráfego ruim. Você não ganha dinheiro.”

Mais de 70% de todas as compras feitas na Amazon por consumidores direcionados de anúncios no Google estão fazendo sua primeira compra dessa marca, o que torna o canal valioso para novos clientes, de acordo com um relatório da Jungle Scout.

Mais de um terço dos vendedores da Amazon disse que aumentar o tráfego para seus produtos na Amazon a partir de sites externos como o Google é uma prioridade neste ano, segundo o relatório.

A Amazon, em um comunicado por e-mail à Bloomberg News, disse que ajuda os vendedores a alcançar os consumidores por meio de uma variedade de iniciativas de publicidade, que continuam a crescer.

“Uma dessas opções é o programa Brand Referral Bonus, que ajuda as marcas a melhorar a eficiência de suas campanhas de marketing fora da Amazon.”

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A Ampd, que diz em seu site que seu software direcionou 12 milhões de usuários do Google para a Amazon, se recusou a comentar para a Bloomberg News.

As ferramentas de software tendem a fazer mais sentido financeiro para itens de preço médio a alto, já que os custos de palavras-chave não estão diretamente ligados ao preço do produto. Se uma loja que vende um item de US$ 50 na Amazon compra o termo de busca no Google por US$ 5 ou menos, é essencialmente uma compra de anúncio gratuita, pois a Amazon o credita US$ 5 pela referência de tráfego.

Mudança de comportamento

Os vendedores online também estão respondendo a uma mudança decisiva no comportamento do consumidor.

Até 2022, quase 52% das jornadas de compra nos EUA começavam em plataformas online como a Amazon, de acordo com uma pesquisa anual da EMarketer.

No ano passado, 40% das viagens de compras começaram lá. Quase 30% dos compradores começaram sua pesquisa em motores de busca como o Google, um aumento em relação aos 25% do ano anterior.

A analista da EMarketer Sky Canaves disse que os consumidores à procura de ofertas estão navegando entre sites em vez de se limitarem a um mercado. A proliferação de anúncios na Amazon também torna mais difícil para eles encontrarem o que desejam, disse.

“Os consumidores estão procurando economizar e esticar seu dinheiro o máximo possível,” disse Canaves. “Eles podem achar mais fácil comparar preços e encontrar ofertas entre varejistas via busca em vez de entrar diretamente em determinados mercados.”

Com mais compradores usando motores de busca para encontrar produtos, faz sentido que os vendedores da Amazon anunciem lá.

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