Bloomberg Línea — O mercado de locação de veículos enfrenta um período de incertezas no mundo e também no Brasil. Nos Estados Unidos, o investimento para a eletrificação da frota tem sido colocado em xeque diante da demanda aquém da esperada e da queda dos preços de usados, como foi assumido pela Hertz.
No mercado nacional, há riscos que espreitam as empresas do setor, a começar pela maior delas, segundo apontaram três diferentes bancos de Wall Street em relatórios a clientes nas últimas semanas.
O mais recente a fazer o alerta, e de maneira mais incisiva, foi o Goldman Sachs (GS), cujos analistas rebaixaram nesta semana a recomendação para a ação da Localiza (RENT3) de compra para neutro.
Uma semana trás, o time de equity research do Bank of America (BAC) demonstrou preocupação com as margens no segmento de aluguel de curto prazo, o chamado rent a car (RAC, no jargão do mercado). E o Citi (C), por sua vez, apontou o segmento de seminovos com desempenho abaixo do esperado.
A Localiza é a maior locadora de veículos do país, com uma frota que ultrapassa 600 mil unidades, muito acima da segunda colocada do mercado, a Movida (MOVI3).
No relatório do Goldman Sachs, os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins explicaram por que, apesar da visão ainda positiva para as perspectivas de longo prazo para o negócio principal da Localiza, de aluguel de veículos, decidiram rebaixar a recomendação.
“Vemos um claro risco de queda para as estimativas de consenso em 2024 e 2025, devido principalmente a um cenário incerto e à deterioração do mercado de automóveis usados”, disseram os analistas.
Eles destacaram que os preços de carros usados têm caído desde meados de 2023, enquanto os de veículos novos permaneceram resilientes desde então.
“A Localiza é compradora de carros novos e vendedora de usados e essa tendência provavelmente pressionará as margens de seminovos”, apontaram no relatório.
Segundo os analistas, a depreciação também tende a ficar mais acentuada e, como resultado, as estimativas de lucros no futuro próximo são mais baixas.
Os analistas do Goldman Sachs ponderaram que o horizonte para a companhia ainda é obscuro. Se os preços dos automóveis novos e usados não recuperarem a paridade no longo prazo, locadoras de veículos terão que buscar meios para resolver a equação de depreciação mais elevada com preços do zero quilômetro estruturalmente mais elevados, sob o risco de uma taxa mais lenta de crescimento.
Para este ano de 2024, os analistas projetam que os volumes de modelos da Localiza devem crescer aproximadamente 5% no RAC, rent a car; 15% em frotas e 10% no consolidado da operação. Já as tarifas cobradas de clientes devem crescer 5% no RAC e 9% na operação de terceirização.
Isso deve levar a um avanço da receita líquida de 19% nas operações de aluguel e um crescimento do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 24% no ano também no aluguel.
O banco projeta para a companhia um lucro líquido de R$ 3,5 bilhões em 2024, cerca de 10% abaixo do que aponta o consenso de analistas ouvidos pela Bloomberg.
Incertezas de longo prazo
O BofA, por sua vez, manteve a recomendação de compra para a ação da Localiza no relatório divulgado na semana passada, mas destacou uma visão neutra para os resultados financeiros no longo prazo.
Segundo o documento, o cenário é positivo neste momento de redução da taxa de juros, a Selic, de crescimento da frota e de maiores tarifas marginais na divisão de frotas.
Os analistas lembraram que a companhia anunciou que estuda mudar a linha de custos referentes à desativação de frota da divisão de seminovos para a de RAC e de terceirização de frotas, o que reduziria as margens no aluguel. Por outro lado, o Ebitda de seminovos aumentaria, apontou o banco.
Em relatório no início de janeiro, o Citi apontou para o cenário de preços de venda de carros ligeiramente mais baixos para a Localiza, com atividade de seminovos abaixo do esperado. Também alertou para a trajetória de crescimento da depreciação na terceirização de frota em 2024 e 2025.
Por outro lado, a depreciação por modelo no segmento de rent a car deve caminhar para uma normalização em 2024, em paralelo a uma combinação de menor dívida total e de taxa de juros mais baixa que levará a menores despesas financeiras neste ano e no próximo.
Apesar das ressalvas operacionais, o Citi elevou o seu preço-alvo para a ação de R$ 55 para R$ 62 ao fim de 2024 em razão justamente do efeito da queda esperada dos juros.
O que disse a Localiza
Procurada pela Bloomberg Línea para comentar os pontos citados pelos bancos, a Localiza informou por meio de nota que “está sempre atenta a fatores específicos do cenário macroeconômico, que impactam diretamente o setor, e reforça a solidez de sua estratégia de negócios pautada em uma visão de longo prazo, gerando valor aos clientes e parceiros mesmo diante de cenários desafiadores”.
O Goldman Sachs tem preço-alvo para a ação de R$ 67,10 em 12 meses, e o Bank of America, de R$ 76, sem especificar um período. A ação encerrou negociada a R$ 53,52 nesta quarta-feira (7).
No ano, acumula queda de 15,85%, que se acentuou depois do relatório do Goldman na segunda-feira (5). Em 12 meses, a perda de valor é de 7,86%.
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