Bloomberg Línea — Há quase 20 anos, a construtora catarinense Embraed lançou o que era, na época, o prédio residencial mais alto da América Latina.
Com duas torres com 160 metros de altura e 46 andares cada uma, o Villa Serena foi o primeiro empreendimento a aproveitar o então novo plano diretor da cidade litorânea de Balneário Camboriú que liberava a construção de arranha-céu de frente para o mar.
O complexo inaugurado em 2013 foi apontado como pioneiro na verticalização mais acentuada da cidade, que ganhou nos anos seguintes fama pelo skyline com os prédios mais altos – e com o metro quadrado mais caro – do Brasil, a tal ponto que passou a ser conhecida como a Dubai brasileira.
O preço médio do metro quadrado na cidade é o mais elevado do país desde março de 2022 e está cotado a R$ 14.000 segundo o levantamento mais recente do FipeZAP.
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No segmento de alto padrão, os empreendimentos são negociados, em média, ao preço de R$ 55.000 e R$ 75.000 o metro quadrado, segundo estimativas da Embraed.
O próximo boom nos preços deve vir com a revitalização da avenida Atlântica, em frente à praia, onde estão localizados os prédios mais luxuosos da cidade.
A reurbanização da orla será feita pelo escritório de arquitetura Indio da Costa, responsável pelo calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro. As obras começaram no fim de 2023 e devem durar até 2034.
“É a hora certa de lançar empreendimentos que estão localizados na frente do mar porque o mercado vai experimentar nova onda de muita valorização”, disse a CEO da Embraed, Tatiana Rosa, em entrevista à Bloomberg Línea.
O desafio é encontrar um terreno disponível, dado que a orla da cidade tem apenas sete quilômetros de extensão. Para contornar a escassez, a Embraed pretende demolir um prédio de 16 andares para colocar no mercado seu maior projeto em VGV até o momento, de R$ 1,5 bilhão, em projeto em parceria com a Armani Casa.
O edifício com 78 andares será o mais alto da empresa até hoje, com 270 metros de altura. Serão 113 unidades com até 1.100 metros quadrados. O lançamento será em 2026.
Será o segundo prédio assinado da Embraed, que lançou em 2019 um empreendimento em parceria com a Tonino Lamborghini.
“A Embraed já tem uma marca consolidada, mas para alguns projetos trazemos marcas de prestígio para a nossa visão. É algo que acelera muito a velocidade de vendas”, disse.
A meta é gerar R$ 7 bilhões em VGV nos próximos cinco anos com novos projetos já incluídos no banco de terrenos da empresa. Além de Balneário Camboriú, a Embraed tem lançamentos em Itapema, também no litoral catarinense, e em Curitiba e Maringá, no Paraná.
Além dos edifícios, a Embraed tem no horizonte de longo prazo um projeto ainda mais ambicioso.
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A companhia tem uma propriedade com 800 mil metros quadrados em Balneário Camboriú que pretende transformar em um complexo misto, com 800 metros de praia privativa. O local abrigava o antigo hotel Infinity Blue Resort & SPA.
A CEO da Embraed não abre detalhes do projeto, mas disse estimar que o empreendimento tem um potencial maior que todos os outros já lançados pela companhia. “É um projeto com custo em torno de R$ 8 bilhões. Nossa meta é criar um novo destino turístico”, antecipou sobre a ambição.
Ascensão de BC
“A Embraed foi propulsora do altíssimo padrão em Balneário Camboriú. Somos a construtora mais antiga da cidade e participamos da criação desse boom de preços e de prédios altos”, afirmou Tatiana Rosa.
Na Embraed desde 2000, a executiva assumiu a liderança da companhia em 2013 após o falecimento de seu pai, o fundador Rogério Rosa, e foi responsável pela profissionalização da empresa familiar, auditada desde 2015 por alguma das Big Four - Deloitte, PwC, EY e KPMG, as maiores empresas de auditoria do mundo.
“Conseguimos manter a essência do negócio, trazida pelo meu pai, e também adicionar processos de transparência, governança corporativa e de manutenção do nosso padrão de qualidade.”
Entre os imóveis já lançados, o edifício mais alto da Embraed é o New York, com 176 metros de altura e 51 andares – atualmente 11º no ranking dos arranha-céus do Brasil.
No top 5, quatro empreendimentos estão em Balneário Camboriú, ou BC como a cidade é conhecida, e todos tem mais de 200 metros de altura.
O maior de todos ainda aguarda lançamento: o Senna Tower, da FG Empreendimentos, promete ter mais de 500 metros de altura e ser o maior residencial do mundo.
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Apesar do pioneirismo, a Embraed não tem ambição de brigar na corrida pela construção do prédio mais alto. “A altura é uma consequência, mas não algo que buscamos ativamente. Não adianta fazer um prédio altíssimo com uma área de lazer pequena que pode ficar muito cheia na temporada”, afirmou.
“A cidade é conhecida pelos skyline, mas existem clientes que querem andares mais baixos, para sentir a brisa do mar. Outros querem o horizonte e estar nas alturas. Temos opções para todos os perfis.”
O crescimento vertical de Balneário Camboriú a partir dos anos 2000 remodelou a cidade e levou, inclusive, à necessidade de alargamento da faixa de areia em 2021 de 25 para 70 metros para evitar que a praia passasse a maior parte do dia sob sombra dos edifícios à beira-mar.
Questionado por ambientalistas, o projeto foi considerado um sucesso sob o ponto de vista imobiliário. A CEO da Embraed estimou que o alargamento, combinado à atração do litoral na pandemia, valorizou os imóveis da região de 15% a 20%.
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