Petrobras: reserva de capital de R$ 43 bi não vai para investimento, diz CEO

Jean Paul Prates e CFO Sergio Caetano Leite são questionados em teleconferência sobre destino de capital que não será mais distribuído como dividendos extraordinários

Jean Paul Prates, CEO da Petrobras: 'a Petrobras voltou e para gerar valor no longo prazo' (Foto: Maria Magdalena Arrellaga/Bloomberg)
08 de Março, 2024 | 06:41 PM

Bloomberg Línea — Investidores e analistas expressaram nesta sexta-feira (8) frustração em relação à nova política de dividendos da Petrobras (PETR3, PETR4). Mesmo com esclarecimentos sobre o tema por parte de executivos da estatal, as ações da companhia despencaram mais de 10% na bolsa brasileira, enquanto analistas de bancos e corretoras cortaram recomendação para os papéis.

A companhia anunciou na noite de ontem (7) que não pagará dividendos extraordinários referentes ao quarto trimestre e informou que o conselho de administração aprovou a destinação de cerca de R$ 43 bilhões para a reserva de capital.

Os executivos não deram detalhes sobre quando isso deve acontecer, caso a proposta seja aprovada em Assembleia Geral Ordinária (AGO).

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Em duas longas teleconferências nesta sexta, executivos da estatal reforçaram que a reserva só poderá ser usada para pagamento de proventos, mas investidores perguntaram - inúmeras vezes - sobre o tema, em uma demonstração de dúvidas e insegurança do mercado sobre a nova política.

O CEO da estatal, Jean Paul Prates, disse que a companhia apresentou “excelentes resultados” em 2023. “Temos convicção que estamos construindo uma companhia mais sólida e resiliente. A Petrobras voltou e para gerar valor no longo prazo”, afirmou em teleconferência com investidores.

Prates minimizou a forte queda das ações nesta sexta-feira. “Não vejo exagero nem histeria no mercado. A conta de reserva é uma novidade, existe em todas as empresas, mas não existia na Petrobras”, observou.

Segundo ele, os recursos da reserva serão sempre utilizados para o pagamento de dividendos, mas a cronologia pode eventualmente variar. “Esses recursos não podem ser usados para investimentos, ficam provisionados em caixa para remuneração do capital”, disse.

O diretor financeiro e de relacionamento com investidores da estatal, Sergio Caetano Leite, esclareceu que a norma contábil do Brasil prevê que qualquer reserva estatuária pode ser incorporada ao capital em algum momento, ou, caso a empresa tenha prejuízo, pode ser usada para cobrir as perdas.

“É uma determinação do código, mas não quer dizer que isso vai ocorrer. Ninguém no conselho de administração ou na diretoria da Petrobras está analisando a incorporação [da reserva] ao capital ou reversão de prejuízo, até porque não está no horizonte de cinco anos ou mais algum prejuízo na empresa”, disse o executivo.

Ele reforçou que é “pouco provável” ou mesmo “impossível” um prejuízo na Petrobras nos próximos dois anos. “O principal objetivo da reserva é o pagamento de dividendos.”

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Leite acrescentou que 2024 e 2025 serão anos de intensos investimentos na companhia. “Qualquer movimento em caixa tem que ser analisado à luz do impacto na empresa.”

Nesse contexto, analistas do Bradesco BBI cortaram a recomendação de Petrobras para neutro.

Analistas do Santander também rebaixaram os papéis para neutro, citando que a falta de dividendos extraordinários “envia sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo”. Já o time de equity research do Bank of America cortou o preço-alvo dos papéis preferenciais para R$ 38, de R$ 48 anteriormente, além de rebaixar de compra para neutra a recomendação.

As ações preferenciais fecharam a sexta-feira a R$ 36,12 depois da queda de 10,57%.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.