Para a Itaúsa, cenário adverso no país exige cautela e impede a expansão do portfólio

CEO da holding, Alfredo Setubal, avalia que os juros elevados e a inflação acima da meta reduzem as oportunidades de novos investimentos

'Continuamos estudando alternativas de investimento, mas com muita cautela, em função da conjuntura', diz o CEO Alfredo Setubal
13 de Novembro, 2024 | 10:43 AM

Bloomberg Línea — A Itaúsa (ITSA4) voltou a descartar a inclusão de novas empresas no portfólio, no momento em que os juros elevados e a inflação acima da meta do Banco Central tornam o ambiente de negócios mais adverso no Brasil, na visão do CEO da holding, Alfredo Setubal.

O executivo avalia que o cenário requer ainda mais atenção na busca por novas oportunidades. “Continuamos estudando alternativas de investimento, mas com muita cautela, em função da conjuntura”, afirmou Setubal em entrevista a jornalistas na terça-feira (12). “Nunca encontramos oportunidade em agronegócio. Queríamos ter algum investimento nesse setor”, citou ele, como exemplo.

Setubal expressou confiança na continuidade da trajetória de crescimento da holding, considerando que o Itaú Unibanco (ITUB4) anunciou no início do mês a projeção de maior avanço de sua carteira de crédito em 2024.

Leia mais: Na Itaúsa, o desafio é encontrar novos investimentos com retorno acima de 16%

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O banco é o maior investimento da Itaúsa. No primeiro semestre, correspondia a 84% dos investimentos da holding e 94,4% do resultado recorrente de equivalência patrimonial das empresas investidas, segundo a Fitch Ratings.

Além do banco, a Itaúsa investe em empresas dos setores de infraestrutura e energia (CCR, Aegea, Copa Energia e NTS) e em empresas ligadas aos ciclos de consumo, como calçados e vestuário (Alpargatas) e materiais de construção civil (Dexco).

Em agosto, o CEO da holding havia dito que, no curto prazo, o mercado não deveria esperar uma alocação de capital em alguma empresa investida, pois o custo de capital estava elevado, sem oportunidade de oferecer retorno e geração de valor aos acionistas.

“O cenário é desafiador, mas estamos caminhando na direção certa. Esperamos que o governo e o Congresso aprovem medidas que segurem o déficit público. Temos um otimismo de médio prazo de que a economia vai manter um certo nível de crescimento do PIB e uma inflação controlada”, disse o CEO na conversa com jornalista nesta semana.

No terceiro trimestre, a Itaúsa teve um lucro líquido recorrente de R$ 3,9 bilhões no trimestre, crescimento de 13% em 12 meses, com um ROE (retorno sobre patrimônio líquido) de 17,8% no acumulado do período.

O resultado recorrente proveniente das empresas investidas, refletido na Itaúsa no terceiro trimestre, totalizou R$ 4,1 bilhões, aumento de 16% na comparação anual, reflexo, principalmente, do bom desempenho do Itaú Unibanco somado aos resultados crescentes das demais investidas do portfólio da Itaúsa.

“O terceiro trimestre foi marcado por resultados crescentes das investidas, além do melhor resultado financeiro da holding, em decorrência da nossa bem executada estratégia de liability management. Esses números reforçam a solidez da Itaúsa e do portfólio, característica que acompanha a holding ao longo do tempo e que, com certeza, nos guiará para os próximos anos”, disse o CEO.

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As ações da Itaúsa acumulam valorização de 2,70% desde o início do ano. Os papéis da empresa registravam queda de 0,47%, cotados a R$ 10,52, por volta das 10h30 (horário de Brasília) nesta quarta-feira.

Dividendos extraordinários

Com o crescimento do lucro líquido, Setubal sinalizou que a holding pode realizar o pagamento de um dividendo extraordinário em 2025. A Itaúsa tem cerca de 900 mil investidores na pessoa física em sua base de acionistas.

Setubal informou ainda que o conselho de administração da Itaúsa aprovou aumento de R$ 7 bilhões no capital social da empresa, com a emissão de novas ações que serão concedidas aos acionistas a título de bonificação.

No dia 4 de janeiro, serão entregues aos acionistas cinco novas ações para cada 100 ações, considerando a posição acionária no final do dia 2 de dezembro. Será atribuído um custo de R$ 13,56 por cada nova ação bonificada – o que proporcionará ganhos fiscais aos acionistas no momento que realizarem suas ações.

“É de se esperar um dividendo extraordinário para o início de 2025. Esse dividendo será repassado. A expectativa é que haja crescimento do JCP [juro sobre capital próprio] e dividendos. Vamos aguardar o início do ano que vem”, afirmou o executivo.

A expectativa se fundamenta na sinalização dada pelo CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, no último dia 5 de novembro, quando indicou que, em fevereiro, o banco deve anunciar o pagamento de dividendo extraordinário.

A holding continua num ritmo de distribuição de 25% do seu resultado trimestral, segundo o CEO. No passado, a holding já chegou a distribuir até 90% do seu lucro aos acionistas.

O chamado payout (percentual do lucro distribuído) caiu para o mínimo de 25%, percentual fixado em seu estatuto. O aumento da taxa Selic e da inflação tem sido o principal motivo citado pela companhia para essa redução.

Os investidores que permaneceram como acionistas nos últimos 12 meses, até o último dia 30 de setembro, receberam o montante bruto total de R$ 7,6 bilhões em proventos, equivalentes a R$ 0,74 (bruto) por ação. Dividido pela cotação da ação preferencial em 30 de setembro, o valor distribuído resultou em um dividend yield de 6,6%, informou a companhia.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.