Para CSN, aço barato da China é ameaça maior ao setor do que tarifas dos EUA

Diretor executivo da siderúrgica brasileira, Luis Fernando Martinez, diz em call que o Brasil é o ‘quintal do mundo’ para o país asiático enviar seus produtos

Medida antidumping tomada pelo Brasil foi “inócua” para preservar a competitividade do setor, disse Martinez. (Foto: Rolf Schulten/Bloomberg)
Por Mariana Durao - James Attwood
14 de Março, 2025 | 03:16 PM

Bloomberg — A CSN, um dos principais fabricantes de aço do Brasil, afirma que o fluxo “injusto” de aço chinês barato é um problema maior para o país do que as tarifas dos Estados Unidos.

“O Brasil ainda é o quintal do mundo para a China enviar materiais”, disse o diretor executivo da CSN, Luis Fernando Martinez, na quinta-feira (13), em uma teleconferência de resultados financeiros.

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As restrições comerciais dos Estados Unidos ao aço do Brasil são uma preocupação secundária em comparação com o desequilíbrio das importações provenientes da China, acrescentou.

Leia também: Do Brasil à UE: países enfrentam dilema sobre como reagir às tarifas de Trump

Os comentários da siderúrgica brasileira foram feitos um dia após a entrada em vigor das tarifas de 25% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as importações de aço e alumínio do país.

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Embora o Brasil tenha sido o segundo maior fornecedor de aço estrangeiro para os Estados Unidos no ano passado, de acordo com dados comerciais dos Estados Unidos, a CSN considera mais significativo o fluxo de matéria-prima chinea para o país.

No ano passado, o Brasil intensificou a proteção de suas siderúrgicas contra uma onda de importações lideradas pela China, impondo um sistema de cotas de importação para 11 tipos de produtos de liga metálica.

A medida foi “inócua” para preservar a competitividade do setor, disse Martinez, criticando a decisão do governo brasileiro de aprofundar as investigações de um caso antidumping sobre produtos laminados a frio da China, apesar de ter identificado danos à indústria nacional.

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O Brasil deveria agora usar as mesmas táticas de outros países, aumentando o imposto sobre o aço chinês, disse Martinez.

"O que cabe ao Brasil agora é fazer ctrl+c, ctrl+v o que o mundo está fazendo", disse ele, acrescentando que outros países asiáticos, como o Vietnã e a Tailândia, aumentaram os impostos sobre as importações de aço chinês.

A CSN vê espaço para negociação entre o Brasil e o governo Trump, inclusive potencialmente por meio de cotas, e disse que tais medidas poderiam trazer oportunidades comerciais, incluindo a venda de chapas metálicas.

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Autoridades do Brasil e de outros países latino-americanos produtores de aço já estão em contato com autoridades nos Estados Unidos, de acordo com Ezequiel Tavernelli, chefe da associação latino-americana de aço Alacero.

Embora Tavernelli tenha dito não ter conhecimento em primeira mão do que está sendo discutido, um bom resultado seria a repetição das isenções concedidas aos países latino-americanos durante o primeiro mandato de Trump.

Ele concordou com Martinez que a principal queixa é com relação ao dumping praticado pela China e outras nações asiáticas, pedindo que os Estados Unidos vejam a América Latina como uma aliada devido ao seu aço limpo e de alta qualidade.

"Somos a melhor alternativa para os Estados Unidos substituírem o fornecimento asiático", disse Tavernelli. "Estamos sofrendo o mesmo problema - uma enxurrada de aço chinês a preços subsidiados."

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