Para a 3M, Brasil pode passar de polo regional a hub global de exportações

Em entrevista à Bloomberg Línea, Andrew Bennet, VP Sênior Global, e Paulo Gandolfi, presidente para o Brasil, contam por que a operação no país se tornou parte relevante dos planos

3m
25 de Setembro, 2024 | 05:53 AM

Bloomberg Línea — Poucas empresas se tornaram tão conhecidas por suas patentes como é o caso da 3M (MMM), referência em produtos que vão de notas adesivas coloridas, os “post-its”, às máscaras de proteção N95, amplamente utilizadas durante a pandemia de covid-19. Mas transformar esse awareness de produto em negócios que continuam a crescer requer uma estratégia que vai além do preço.

“Não somos arrogantes a ponto de achar que todo mundo pode pagar o produto mais premium. Fazemos um trabalho de contar com negócios para diferentes camadas da população, sempre priorizando a qualidade. No fim do dia, buscamos resolver os problemas das pessoas”, disse Andrew Bennet, Vice-Presidente Sênior de Country Governance & Emerging Markets, em entrevista à Bloomberg Línea.

O executivo, cujo cargo como VP inclui a responsabilidade operacional para todas as entidades legais globais da 3M, esteve recentemente no país e ressaltou a visão de que há um ambiente positivo para as empresas. “Alguns lugares do mundo são difíceis de se fazer negócio, mas o Brasil não é um deles.”

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Atualmente, a 3M conta com quatro fábricas no Brasil, localizadas em Manaus, no Amazonas, e nas cidades de Itapetininga, Sumaré e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A empresa projeta investir no país, em 2025, cerca de R$ 110 milhões (US$ 20 milhões), capex médio anual dos últimos quatro anos.

“É um número saudável. Temos grandes apostas no país, com foco no desenvolvimento de nossas tecnologias”, disse o presidente da 3M no Brasil, Paulo Gandolfi, na mesma entrevista.

Para a empresa global com sede em Saint Paul, no estado do Minnesota, e receitas líquidas de US$ 32,7 bilhões (dados de 2023), o Brasil tem um papel relevante nos planos para os próximos anos.

Bennet disse que a companhia tem trabalhado para elevar as exportações. “Não queremos somente produzir em nossas fábricas e vender internamente, porque isso é muito arriscado. Ficamos suscetíveis às intempéries do mercado. Exportar é uma ferramenta poderosa e dilui os riscos”, explicou.

Segundo Gandolfi, 70% da produção da companhia no Brasil é vendida localmente e de 15% a 20% do total é exportado. “Em segmentos importantes, somos um fornecedor regional, mas também pretendemos nos tornar um player global a partir do Brasil.”

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O país, segundo Bennet, figura entre os seis maiores mercados do mundo para a 3M. Em sua visão, parte do desempenho se deve ao fato de o país ser a subsidiária mais antiga da empresa fora dos Estados Unidos. Outra razão, acrescentou, é que a operação brasileira desenvolveu diversas tecnologias localmente.

Nesse contexto, ele apontou que os principais setores de atuação para a 3M no Brasil são o de segurança, o de embalagens e o automotivo. “Somos muito fortes na indústria automotiva. Todos os grandes players globais estão no Brasil e temos uma participação importante no setor”, disse.

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Solução acima de preços

Segundo ele, a estratégia tem sido buscar conciliar inovação com produtos de qualidade. “Talvez você queira pagar US$ 1 a mais para ter uma máscara que não rasga rapidamente”, disse o executivo. “Nós inventamos a N95 décadas atrás e durante a pandemia essa máscara se mostrou extremamente importante.”

Com a competição cada vez mais acirrada em diferentes segmentos, especialmente com o avanço de empresas chinesas, Bennet disse que a 3M tem preferido se concentrar em soluções. “Conseguimos oferecer produtos de diferentes níveis, sempre com foco na resolução de problemas. Em vez de falar de preços, preferimos falar de soluções. Não sentamos com o cliente para discutir preço”, explicou.

Ele citou como exemplo desse racional um dispositivo desenvolvido pela 3M para a pintura de carros. “Inventamos uma gun [pistola industrial] que usa 20% menos tinta do que as convencionais. No processo de pintura de um carro, essa é a etapa mais cara. Quanto vale isso?”, questionou.

Conhecimento local

Bennet afirmou que o movimento pós-covid que ficou conhecido como “nearshoring”, de aproximar a cadeia de fornecedores da indústria, não é um conceito novo para a 3M. “Internamente, chamamos esse movimento há muito tempo de regional source supply (RSS) e não foi a covid que fez com que começássemos a olhar para isso”, disse.

Em sua avaliação, o movimento traz não só ganhos de produtividade mas também de sustentabilidade. “Temos um número grande de clientes globais que produzem carros, aviões e outros veículos que querem seus fornecedores por perto. Temos sido parceiros dos nossos clientes nesse sentido.”

Gandolfi disse que a experiência no mercado brasileiro tem sido um trunfo para a companhia. “Sabemos fazer negócios no Brasil. Embora nossa empresa seja uma multinacional, temos conhecimento local.”

Para Bennet, essa visão é importante para o crescimento da operação brasileira. “As melhores subsidiárias da 3M no mundo são aquelas que conseguem mesclar o conhecimento local com a expertise global.”

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.