Pane global causa caos em aeroportos e voos e efeitos de atrasos devem durar dias

Colapso global generalizado de software afetou mais de 21.000 voos no mundo, segundo a FlightAware, e atrasos e suspensão decorrente da falha serão sentidos por mais dias

Passageiros no aeroporto de Berlin Brandenburg em filas causadas pela pane no sistema global de software, na Alemanha
Por Siddharth Philip - Mary Schlangenstein - Kate Duffy - Julie Johnsson
19 de Julho, 2024 | 11:35 AM

Bloomberg — Companhias aéreas começaram a retomar lentamente algumas operações depois de um colapso global generalizado de software, mas é provável que o efeito de milhares de voos atrasados ou cancelados se espalhem pelo sistema durante dias.

A United Airlines disse que retomou algumas operações depois que todos os seus voos chegaram a ser suspensos anteriormente.

A Delta Air Lines também retomou algumas decolagens e emitiu uma isenção de viagem para ajudar as pessoas a remarcarem ou reorganizarem seus planos.

Outras companhias aéreas dos EUA que suspenderam temporariamente os voos foram a American Airlines e a Spirit Airlines, de acordo com a FAA (Administração Federal de Aviação).

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Filas de passageiros após pane no aeroporto de Sydney, na Austrália (Foto: Brendon Thorne/Bloomberg)

A lenta reinicialização ocorreu depois de uma manhã marcada por um grave colapso do sistema de TI que prejudicou a comunicação entre as aeronaves e as equipes de controle de solo.

A interrupção atingiu os viajantes em um dia particularmente ativo, a sexta-feira antes do fim de semana nas férias de verão no hemisfério norte - o Reino Unido, por exemplo, estava se preparando para o maior número de partidas diárias desde outubro de 2019, de acordo com o provedor de dados de aviação Cirium.

A FlightAware estimou os atrasos globais em mais de 21.000 voos, enquanto a Cirium disse que os cancelamentos nos EUA foram equivalentes a cerca de 4,2% de todos os voos programados - muito além do que é típico nessa hora do dia.

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O caos ocorreu em aeroportos de todo o mundo, com hubs de conexões de Berlim e Amsterdã e o Aeroporto Internacional de Delhi, na Índia, sofrendo o impacto de passageiros retidos no momento em que se preparavam para sair de férias.

No aeroporto de Newark, em Nova Jersey, um dos aeroportos mais movimentados do mundo e dos dois principais que servem os passageiros que chegam ou saem de Nova York, uma mulher chorando estava sentada no portão de embarque da United para seu voo cancelado para Phoenix.

Painel de casa de câmbio exige a tela azul típica de queda no sistema no aeroporto de Hong Kong (Foto: Yik Yeung-man/Bloomberg)

“Ninguém está passando nenhuma informação. Não sei nem o que fazer”, disse Bari Nochimson, 28 anos, que estava a caminho de sua despedida de solteira com outras quatro mulheres, antes de seu casamento em setembro. “Pagamos por essas passagens há meses”, disse Nochimson, que usava uma camiseta em que estava escrito “Mamãe vai se casar”.

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Embora os sistemas geralmente tendam a ser reiniciados rapidamente, a retomada do serviço normal pode levar vários dias, pois as aeronaves e as tripulações estarão fora de posição e os centros de operações de rede ficarão offline. O cancelamento de voos de longa distância, em especial, terá um “efeito dominó” durante dias, pois ocorre no auge da temporada de viagens de verão.

Prejuízos para companhias

O custo financeiro do colapso não será conhecido por algum tempo. A United informou que emitiu uma isenção para facilitar a alteração dos planos de viagem pelos clientes. Mas, para milhares de pessoas que planejavam sair de férias, a viagem começou com um caos grave e potencialmente caro.

"As interrupções e os atrasos impõem custos às companhias aéreas europeias, mesmo que elas não sejam obrigadas a compensar os consumidores por atrasos resultantes de 'circunstâncias extraordinárias'", escreveu Ruairi Cullinane, analista da RBC, em uma nota na sexta-feira.

Embora possam ocorrer interrupções no setor de aviação, uma em escala global como a que ocorreu nesta sexta é um evento raro.

Passageiros buscam informações sobre o status de seus voos no aeroporto de Berlin Brandenburg (Foto: Liesa Johannssen/Bloomberg)

Em agosto passado, o espaço aéreo do Reino Unido sofreu a pior falha de tráfego aéreo em uma década, levando a centenas de atrasos e cancelamentos em um dos dias mais movimentados da temporada de viagens.

A interrupção nesta sexta-feira também lembrou uma interrupção do sistema da FAA no início de 2023, que paralisou brevemente os voos nos EUA. Esse problema, que levou a milhares de atrasos e cancelamentos de voos, foi atribuído a um arquivo danificado que afetou a emissão de avisos críticos de voo conhecidos como Notams.

O colapso desta semana afeta as companhias aéreas de forma diferente. Para algumas, a interrupção restringiu a capacidade dos centros de operações de rede de se comunicarem com estações e aeroportos, enquanto, para outras, os passageiros não conseguiram acessar os sistemas de reserva ou os serviços de check-in online.

Volta do check-in manual

Com os sistemas fora do ar, algumas companhias aéreas foram forçadas a fazer manualmente o check-in dos passageiros nos aeroportos, causando longas filas e atrasos.

As interrupções nas comunicações se estenderam às cabines das aeronaves, com a United Airlines enfrentando problemas intermitentes com as ferramentas que utiliza para enviar mensagens aos pilotos, como o ACARS, informou a FAA em um comunicado.

Em Amsterdã, a KLM disse que foi forçada a suspender “a maioria das operações”, já que a interrupção tornou “impossível lidar com os voos”.

As companhias aéreas indianas de baixo custo SpiceJet e IndiGo relataram problemas técnicos que afetaram os serviços on-ine, como reservas, check-in e acesso aos cartões de embarque. As companhias aéreas alertaram sobre a possibilidade de longas filas nos aeroportos para o check-in manual.

O Aeroporto Internacional de Delhi relatou que alguns serviços foram afetados, com relatos e reclamações de passageiros nas mídias sociais de longas esperas nos balcões de check-in e de bagagem, bem como de painéis de informações de voos fora do ar.

O site de rastreamento de voos FlightRadar24 mostrou que entre os aeroportos mais atingidos na Europa estavam os de Berlim, Londres Stansted e Amsterdã.

A Norwegian Air disse que teve que desviar um voo com destino a Berlim de volta para Oslo - o aeroporto da capital alemã estava quase sem movimentos de voos de acordo com o site de rastreamento. O aeroporto de Gatwick, em Londres, disse que enfrentava alguns problemas com seus sistemas de TI.

Algumas companhias aéreas, por outro lado, tiveram seus sistemas de volta rapidamente.

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A Iberia disse que seus sistemas voltaram ao normal depois que a empresa aérea concluiu os processos de check-in manualmente. Os sistemas começaram a funcionar novamente por volta das 9h30 no horário local, informou a companhia aérea espanhola.

Em Paris, que já começou a receber turistas para a Olimpíada que começa em uma semana, os sistemas de TI nos aeroportos Paris-Charles de Gaulle e Paris-Orly não foram diretamente afetados, embora a desaceleração global tenha prejudicado os processos de check-in.

Houve ainda atrasos e a suspensão temporária de determinados voos em algumas companhias aéreas que operam nos dois aeroportos, informou a Aeroports de Paris.

O aeroporto de Heathrow, em Londres, o mais movimentado da Europa, disse que os voos estão em operação, “embora estejamos enfrentando atrasos”.

“Estamos implementando planos de contingência para minimizar qualquer impacto nas viagens”, disse em comunicado a administração do aeroporto.

- Com a colaboração de Clara Hernanz Lizarraga, Albertina Torsoli, Leen Al-Rashdan, Kimberley Mannion e Ira Boudway.

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