PagBank supera projeções, recompõe margem e retoma apetite a ‘micro cliente’

Executivos da fintech preveem crescimento de 12% a 16% no TPV em 2024 e dizem que processo de redução de risco na carteira de crédito continua em vigor

Sede do PagBank, ex-PagSeguro, em São Paulo: números do quarto trimestre acima do consenso de mercado
28 de Fevereiro, 2024 | 09:29 PM

Bloomberg Línea — O Pagbank (ex-PagSeguro) divulgou resultados para o quarto trimestre de 2023 que superaram o consenso de estimativas de analistas.

A empresa de adquirência e outros serviços financeiros também apresentou guidance para o ano de 2024, como a de um Capex (investimento) de R$ 2 bilhões a R$ 2,2 bilhões, com aumento de até 10% e ênfase em maquininhas e novos produtos. A depreciação e amortização estão projetadas para se aproximar do Capex total da empresa.

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Segundo Eric Oliveira, diretor de Relações com Investidores (RI) da fintech, “2024 será o último ano em que a depreciação tende a pressionar as margens da companhia”.

O PagBank anunciou também previsão de crescimento entre 12% e 16% no TPV (Volume Total de Pagamentos) na vertical de negócios de adquirência, que cresceu 21% em 2023.

O lucro líquido tende a crescer mais rápido do que a volumetria da companhia, segundo Oliveira, que afirmou que a empresa irá crescer com melhora de margem ao longo de 2024. No quarto trimestre, a fintech registrou um lucro líquido ajustado de R$ 520 milhões (+27% ano contra ano).

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A empresa teve um lucro por ação R$ 1,53 no quarto trimestre, versus estimativa de analistas de R$ 1,40.

Para o CEO Alexandre Magnani, a fintech tem uma vantagem competitiva porque consegue integrar serviços financeiros de forma mais eficiente. Para ele, diferentemente de outros concorrentes, o PagBank não enfrenta grandes desafios ao juntar diferentes partes do negócio.

Já Artur Schunck, o CFO, destacou que a empresa possui R$ 13 bilhões em patrimônio e também tem um programa de recompra de suas próprias ações. No ano passado, foram investidos cerca de R$ 400 milhões com essa finalidade e a empresa considera abrir um novo programa de recompras quando terminar o programa atual (que ainda tem R$ 250 milhões para executar).

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“Ainda não temos dividendos, reinvestimos na operação. Sabemos que temos produtos que precisamos desenvolver que trazem retorno no futuro”, disse Schunck. “Nosso retorno sob patrimônio líquido [ROE] é acima de 15% [excluindo caixa livre], esperamos projetos para complementar e integrar as operações de retorno similares ou até maiores do que esse.”

Micro merchant no foco

Segundo Schunck, a companhia voltou a ter um apetite maior no chamado long tail [a cauda longa, ou seja, a venda de produtos e serviços em pequenos volumes para um número maior de comerciantes], o que quer dizer que olha desde o “nano merchant” ao micro, em particular este último.

“Voltamos a trazer promoções, fizemos a integração da Moip [instituição de pagamentos que fazia parte da Wirecard Brazil, comprada pelo PagBank] no segundo semestre do ano passado e isso tem ajudado a trazer clientes.”

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“Como sempre fomos líderes no long tail, começamos a entender mais qual era o pedaço mais rentável, em que tínhamos os maiores problemas com fraude, e nos reorganizamos para formatar as nossas ofertas, selecionar nossos canais de venda e comunicar melhor com essa base de clientes”, disse Magnani.

“Se olharmos as perdas, o chargeback de transações fraudulentas caíram 50% ano contra ano. A operação fica mais saudável.”

Para Oliveira, a fintech teve grandes conquistas dentro do segmento de microempreendedores: as maquininhas tiveram o maior nível de ativação desde 2021, enquanto os paybacks de investimentos de maquininhas novas têm sido mais curtos, com retorno mais rápido do investimento.

Os chamados nano clientes representam 1% do TPV total da companhia.

Recomposição de margens

“Reduzimos os subsídios na venda de terminais, o que ajudou a filtrar a entrada de nano merchants. Já viemos de um movimento de reprecificar nossas taxas de antecipação e já entramos neste ano recompondo as nossas margens”, disse Magnani.

“Conseguimos com isso ter uma melhor rentabilidade e diminuir as perdas na nossa operação. No começo do segundo trimestre do ano passado, retomamos uma série de iniciativas pra voltar a acelerar o crescimento em cima de uma base mais sólida, mais organizada”, disse. “Já entramos nesse crescimento embalado nos primeiros meses deste ano.”

Essas iniciativas de crescimento, segundo o CEO, incluem lançamentos de uma série de produtos e serviços, aumento da produtividade nos hubs de venda e investimento para ampliar a força de vendas para as regiões que têm demanda latente.

“Quanto maior você fica, mais difícil fica de crescer a uma taxa muito alta. Ainda assim, abrimos as primeiras semanas de 2024 com tendência de crescimento similar ao do quarto trimestre, em torno de 20%, e isso implica que o TPV tende a crescer trimestre a trimestre, mas com ligeira desaceleração do crescimento a partir do segundo semestre de 2024 para que alcance os 12 a 16% [do guidance]”, disse Oliveira.

O PagBank tem hoje 6,5 milhões de comerciantes ativos.

“Os últimos dois anos foram de recomposição de margem, dado que, no pós-pandemia, houve pressão dos juros que subiram. Agora entramos em um ponto de inflexão com a queda de juros, algo que, combinado com nossa estratégia de recomposição de margem no quarto trimestre, traz crescimento”, disse o diretor de Relações com Investidores.

Segundo Magnani, durante 2023 a fintech adotou uma série de ajustes operacionais com reorganização estrutural, o que incluiu a redução do quadro em 700 pessoas no primeiro semestre.

Diversificação da base

A adquirência (maquininhas) ainda representa a maior parte do negócio, com um crescimento de 31% no TPV (volume total de pagamentos) de pequenas e médias empresas (SMB, na sigla em inglês).

Microempreendedores tiveram aumento de 14%, enquanto grandes contas (e-commerce, pagamentos online e cross border) cresceram 11% no quarto trimestre ante o mesmo período em 2022. Em entrevista, os executivos destacaram o foco na diversificação da base de clientes.

A fintech chegou a R$ 113,7 bilhões em TPV no quarto trimestre. Espera-se que o volume de pagamentos processados em 2024 tenha um crescimento entre 12% a 16%. “A indústria projeta um crescimento em torno de 10%. Nossa estratégia para 2024 é crescer e subir em pequenas e médias empresas”, disse Schunck.

“Nossa carteira de crédito voltou a crescer e entendemos que esse é um dos principais vetores de diversificação dos negócios nos próximos anos, ainda que, neste momento, os produtos de baixo risco sejam o foco da companhia”, afirmou.

O CFO citou produtos como crédito consignado, antecipação do saque-aniversário do FGTS, cartões de crédito (parte deles garantidos por CDB do Pagbank) e capital de giro para o comerciante.

“Temos o menor nível de inadimplência desde o segundo trimestre de 2022, agora em 7,5%, e que continua caindo porque temos trocado carteira de maior risco por de menor risco.”

Outros números do trimestre

O lucro líquido ajustado do PagBank foi de R$ 520 milhões no quarto trimestre, um crescimento de 27% ano contra ano, acima da estimativa mediana de mercado de R$ 476,9 milhões.

A receita total ficou R$ 4,35 bilhões no quarto trimestre, com aumento de 9,7% contra o mesmo período do ano passado, e também acima da estimativa do consenso Bloomberg de R$ 4,2 bilhões.

O TPV ficou em R$ 394 bilhões entre outubro e dezembro, com um crescimento de 89% ano contra ano. O resultado superou a estimativa de mercado de R$ 254,48 bilhões.

Já o Ebitda ajustado foi de R$ 975 milhões, um aumento de 24% ano contra ano, também acima da estimativa de R$ 951,2 milhões.

Teste de crédito sem garantia

A empresa enfatizou a busca por produtos de baixo risco: 66% dos R$ 2,5 bilhões em crédito são de carteira de baixo risco ou com garantia.

A carteira de crédito voltou a crescer, com a inadimplência em queda, atingindo 7,5%.

O PagBank utiliza depósitos para financiamento prévio e antecipação de recebíveis para comerciantes, destacando que é um funding mais barato que títulos, remunerando o equivalente a 72% do CDI.

O diretor de RI explicou que a fintech começou a oferecer crédito a clientes menores e que está melhorando suas ofertas e a comunicação para garantir um serviço de qualidade.

Segundo Magnani, “oportunamente devemos voltar a originar, de forma gradual, o crédito não colateralizado [sem garantia]”. Ele não forneceu, contudo, uma data específica.

Para o CEO, “sem dúvida o foco no curto prazo é acelerar o crédito com garantia”.

“Temos em paralelo trabalhado gestão de risco, modelagem e originação e toda a parte de cobrança. Temos no nosso portfólio produtos não-colateralizados [cartão de crédito, limite especial de conta] e estamos fazendo testes, cada vez mais preparados para originar no futuro.”

O tema também foi comentado pelo CFO do PagBank. “Não vemos dificuldade dentro da nossa proposta de valor de gerar engajamento [em crédito não-colateralizado]”, disse Schunck, que apontou que a empresa está preparada para a oferta de crédito, mas não será agressiva.

- Matéria atualizada às 10h12 do dia 29/02 com a informação de que o foco do PagBank é no micro cliente, e não no nano cliente.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups