PagBank, ex-PagSeguro, colhe frutos de diversificação e reduz custo de funding

Resultados trimestrais, em linha com estimativas, começam a refletir estratégia de ampliar a oferta de serviços, como foi o caso da alta de 18% em depósitos

Sede do PagBank, ex-PagSeguro, em São Paulo
25 de Agosto, 2023 | 12:39 PM

Bloomberg Línea — Na apresentação do balanço há três meses, os principais executivos do PagBank (PAGS), ex-PagSeguro, destacaram o novo momento da instituição, com uma oferta mais abrangente de serviços financeiros, indo além da indústria de adquirência que fez sua fama e ainda é o carro-chefe.

É uma estratégia que, se espera, traga resultados no médio e no longo prazos, mas que já começou a se refletir nos números do segundo trimestre, divulgados no início da noite de quinta-feira (24).

O volume de depósitos consolidados cresceu 18% no segundo trimestre de 2023 em relação ao mesmo período de 2022 diante da “estratégia de priorizar depósitos na conta do PagBank, em vez de distribuí-los para plataformas terceiras como XP, BTG, Genial, Itaú”, disse o diretor de Relações com Investidores (RI) do PagBank, Eric Oliveira, em entrevista à Bloomberg Línea ao lado do CEO, Alexandre Magnani, e do CFO, Artur Schunck.

A expectativa é de que os depósitos cresçam ainda mais, com efeito positivo para o resultado dado que a empresa usa esses ativos como ferramenta para reduzir o custo de financiamento.

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A remuneração média desses depósitos ficou em 94% do CDI. Schunck disse que os depósitos são divididos em duas classes: os depósitos à vista e os CDBs emitidos por meio da plataforma. Segundo o CFO, os clientes que investem em CDBs da empresa acabam deixando mais saldo na conta.

“Com o avanço desses depósitos, devemos ter uma redução nesse custo de funding”, disse. “Esses depósitos acabam gerando engajamento dentro da conta e são relevantes para que a gente consiga movimentar o nosso ecossistema, com a oferta de outros produtos e gerando outras receitas. Ou seja, não é positivo só do lado de redução de custo financeiro mas também de aumento de receita.”

Essa é uma parte da história dos números apresentados pelo PagBank no período de abril a junho. A empresa continuou com a agenda de busca de ganhos operacionais e de crescimento puxado principalmente pela frente de negócios de adquirência - as famosas “maquininhas” de cartões de crédito e débito.

Os executivos apontaram que o aumento do número de transações, o controle de despesas operacionais e a redução de perdas contribuíram para um lucro líquido ajustado de R$ 415 milhões no segundo trimestre, em linha com as expectativas do consenso da Bloomberg (R$ 415,9 milhões).

Os analistas consultados pela Bloomberg esperavam um Ebitda ajustado de R$ 843,7 milhões e a empresa atingiu R$ 849 milhões. Apesar dos números em linha com o projetado, as ações caíram cerca de 6% nas negociações no after market na quinta. Nesta sexta (25), operavam com leve alta pela manhã.

A empresa reduziu em 55% o total de perdas no trimestre, um efeito do fato de que as novas originações são de crédito com garantia, e teve uma queda de 25% nas despesas gerais, ano contra ano. Foi o terceiro trimestre consecutivo de queda nas despesas financeiras.

O PagBank teve um lucro por ação non-GAAP de R$ 1,21 e GAAP de R$ 1,18. O valor do lucro por ação non-GAAP e GAAP representa o lucro atribuível a cada ação em circulação, mas calculado de acordo com diferentes critérios contábeis.

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A empresa teve um volume total de pagamentos de R$ 220 bilhões, superando o consenso da Bloomberg, que esperava R$ 213,3 bilhões.

O PagBank registrou uma evolução nas margens líquidas, impulsionadas por melhores resultados em áreas como receitas de adquirência, redução de perdas e controle de despesas operacionais, conforme os executivos da empresa disseram à Bloomberg Línea.

“Temos adotado disciplina na alocação de recursos e isso tem impulsionado a nossa geração de caixa”, disse Oliveira. A posição líquida de caixa do PagBank superou os R$ 10 bilhões, um crescimento de 17% ano contra ano. A geração de caixa líquido foi de R$ 319 milhões, 24% maior na comparação anual.

Em abril, entrou em vigor o novo teto de intercâmbio nos cartões pré-pagos e de débito no Brasil, o que fez com que o PagBank tivesse uma queda de 30% nas receitas de serviços financeiros trimestre contra trimestre, que já era esperada, segundo Oliveira.

O resultado teve também outra explicação. “Também [ocorreu] pela mudança que temos feito do nosso portfólio de crédito para produtos de risco mais baixo, que tem um juros menor”, explicou Oliveira.

Ele disse que esse efeito negativo da receita foi neutralizado pelos menores custos de transação no negócio de maquininhas com o teto de intercâmbio estabelecido pelo Banco Central. “Temos feito um trabalho de crescer receitas, aumentar diversidade de produtos e também compensar esse efeito.”

Terceiro trimestre em alta

Para o terceiro trimestre, a expectativa do PagBank é que haja um aumento significativo nas transações. O início do que se espera que seja um ciclo de queda nas taxas de juros pode impulsionar o mercado.

No negócio de adquirência com as “maquininhas”, o PagBank disse que cresceu o dobro da indústria no Brasil em segmentos priorizados como micro, pequenas e médias empresas.

“Quando olhamos o volume consolidado, crescemos 4% no trimestre e percebemos que esse período parece ter sido o mais fraco para a indústria e para nós. Tanto que, olhando os primeiros 45 dias do terceiro trimestre, a volumetria de pagamentos está crescendo 8%, praticamente o dobro do que foi no segundo trimestre”, disse Oliveira.

No segundo trimestre, o PagBank ultrapassou R$ 2 trilhões em transações financeiras processadas em sua história. “Esse marco é extremamente relevante na nossa jornada de construir esse ecossistema completo”, disse Oliveira.

A empresa conseguiu um rating brAAA atribuído pela S&P Global, que, segundo o diretor de RI, “traz credibilidade e reforça a solidez financeira da empresa, com baixa alavancagem”.

Visão de analistas

Os analistas do Itaú BBA Pedro Leduc, William Barranjard e Mateus Raffaelli avaliaram os resultados como “mistos”. Em relatório, eles escreveram que, ainda que o PagBank tenha relatado um lucro líquido que correspondeu aproximadamente às estimativas, com um aumento de 3% em relação ao ano anterior, as tendências de negócios subjacentes são fracas.

”Os volumes de aquisição de total de pagamentos processados (TPV) foram lentos (aumento de 4% em relação ao ano anterior) com taxas de captação em declínio”, afirmaram em relatório.

Eles escreveram ainda que as receitas financeiras também foram lentas. O banco teve depósitos mais altos dos clientes, mas viu uma queda acentuada nas receitas após a implementação do teto de intercâmbio em cartões pré-pagos. A ausência de despesas de provisão ajudou a sustentar os resultados do segundo trimestre de 2023, na visão dos analistas.

”O fluxo de caixa melhorou em relação ao trimestre anterior, mas um aumento nos gastos de capital para a construção de estoque de maquininhas compensou o fluxo de caixa operacional. No geral, foi um trimestre decente, mas também refletiu os desafios contínuos da indústria.”

Nova marca e posicionamento

O PagBank, que mudou o nome da marca para destacar a integração de serviços financeiros e de pagamento, agora tem como foco as pequenas e médias empresas, embora ainda atenda contas maiores “quando é vantajoso”.

A mudança de marca foi acompanhada por uma campanha de comunicação para destacar a oferta que vai desde pagamentos até serviços financeiros. Isso levou a um “ligeiro aumento” nas despesas com publicidade em relação ao primeiro trimestre, segundo Magnani.

“Mas quando comparo o primeiro semestre de 2023 com o primeiro de 2022, o marketing tem sido uma linha que tem contribuído para melhora de margem da companhia. Estamos conseguindo fazer mais com menos”, disse o CEO.

Recompra de ações

O PagBank segue com uma estratégia de alocação de capital que inclui recompra de ações - em um plano que foi lançado em 2018 - e investimentos em tecnologia e maquininhas. A recompra de ações nos últimos trimestres é uma forma de retornar dinheiro aos acionistas sem pagar dividendos.

“Executamos aproximadamente 50% do plano de recompra, o que significa tem um certo espaço ainda para fazer”, disse Schunck. “Quando observamos o preço da ação atual, olhamos para o futuro e vemos que há um potencial muito grande. Usamos uma parte de capital também para fazer as recompras e é algo que deve permanecer ainda para frente.”

Segundo Oliveira, a empresa teve “um ligeiro aumento” nos investimentos no trimestre. O Capex foi de R$ 530 milhões. O investimento em Capex é uma forma de alocação mais eficiente para o PagBank, tanto do lado de tecnologia quanto de “maquininhas”, segundo Schunck.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups