Pagamentos não terão senhas nem números no cartão até 2030, diz CEO da Mastercard

Marcelo Tangioni, que lidera a operação no Brasil, diz que o processo de abandono de senhas já começou com o avanço da tokenização de transações e da autenticação biométrica, que oferecem mais segurança

Marcelo Tangioni, CEO do Mastercard Brasil
21 de Fevereiro, 2025 | 07:05 AM

Bloomberg Línea — A autenticação biométrica vai substituir o uso de senhas dos cartões da Mastercard até 2030, segundo disse o CEO da gigante global de serviços financeiros e tecnologia no Brasil, Marcelo Tangioni, em conversa com jornalistas nesta quinta-feira (20).

O executivo explicou que esse processo de abandono das senhas acompanhará o avanço da tokenização das transações, que resultará também no fim do padrão de 16 números para identificação de um cartão dos usuários, também previsto para 2030.

PUBLICIDADE

Segundo Tangioni, a Mastercard tokenizou cerca de 4 bilhões de transações por mês globalmente em 2024, um movimento classificado como um “embrião” do projeto de abandono total das senhas até 2030.

A autenticação biométrica poderá ser feita por meio de reconhecimento facial ou físico. A Mastercard também poderia testar a leitura de íris como tecnologia de biometria, disse o executivo.

Leia mais: Quanto vale a sua íris? Para a startup do fundador da OpenAI, R$ 740 no Brasil

PUBLICIDADE

“Lembrar as senhas são uma dor de cabeça hoje para todo mundo, mas são importantes para a segurança das transações. É muito complicado fazer a gestão de senhas. As empresas têm protocolos diferentes quanto ao tamanho das senhas, uso de caracteres especiais ou não”, disse Tangioni.

Ao anotar suas senhas digitalmente ou em papel, o usuário cria uma potencial fragilidade para a segurança das transações, disse o executivo. Por outro lado, se os protocolos de segurança são exagerados, isso acaba criando uma fricção no processo de checkout e pode gerar abandono da conclusão da transação.

“Nosso compromisso é que até 2030 as novas transações com cartões abandonem o uso de senhas, ou seja, 100% das transações têm de ser tokenizadas”, reforçou o CEO da Mastercard Brasil.

PUBLICIDADE

Leitura de íris

A Mastercard também poderia testar a leitura de íris como tecnologia de biometria, disse o executivo. “Estamos abertos a testar qualquer tipo de biometria que esteja disponível, inclusive a leitura de íris. Vamos olhar a segurança, a baixa fricção e a escalabilidade”, disse Tangioni.

O executivo afirmou que a Mastercard busca garantir que todas as transações online possam ser tokenizadas e autenticadas, para tornar o checkout online mais simples e seguro. Ele citou que existem sete vezes mais fraudes nas compras online na comparação com a presencial. Além disso, 25% dos “carrinhos” da experiência de compra online são abandonados no checkout.

A Mastercard adota a autenticação biométrica com passkey, que substitui senhas e OTP (One-Time Password, senha de uso único). A tecnologia está habilitada para o Click to Pay ou Card on File, que resultam em uma experiência de pagamento mais fluida, segura e sem fricções, segundo o CEO.

PUBLICIDADE

Leia mais: Mastercard comprará empresa de cibersegurança que usa IA por US$ 2,65 bi

Projeção de crescimento

Tangioni também disse que a Mastercard Brasil está alinhada com a projeção de crescimento para 2025 divulgada pela Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) no último dia 12.

Para 2025, a entidade estima um crescimento do valor movimentado pelo uso dos cartões no intervalo entre 9% e 11%, acima da marca de R$ 4,5 trilhões.

Em 2024, pela primeira vez, as compras realizadas com cartões de crédito, débito e pré-pagos superaram a marca de R$ 4 trilhões, após crescimento de 10,9% - o total chegou a R$ 4,1 trilhões.

“Sabemos que vamos crescer em um nível relevante, mas os fatores de aceleração ou desaceleração vão depender dos fatores macros”, afirmou o CEO.

No Brasil, a Mastercard ocupa a liderança de mercado há oito anos. Tangioni mencionou dados do Banco Central de que o market share da empresa atingiu 59,5% das transações com cartões de crédito no primeiro semestre de 2024, último dado disponível. Globalmente, o Brasil está em geral entre os três maiores mercados da Mastercard, em um ranking liderado pelos Estados Unidos.

“Historicamente, em períodos de recessão, a Mastercard continuou a crescer, a acelerar ou a desacelerar, enquanto houver oportunidades para simplificar os pagamentos de forma mais segura, em cima da substituição de outras modalidades como o papel moeda”, apontou o executivo.

Crescimento do mercado em PMEs e B2B

Tangioni destacou a visão de mercado de que novas fintechs (com licença de instituições de pagamento) entram no mercado brasileiro, com foco em segmentos como pequenas e médias empresas. Na prática, isso representa um estímulo à emissão de cartões da Mastercard e de outras bandeiras.

“Notamos um mix diferente de novos entrantes, no momento em que o segmento de pessoa física começa a desacelerar. Há muitas fintechs que entram no segmento de pequenas e médias empresas, B2B e pagamentos internacionais”, observou o executivo.

Leia também

Pão de Açúcar: podemos acelerar redução de dívida com venda de ativos, diz CEO

Cartão de débito terá mais benefícios e ofertas, diz CEO da Mastercard Brasil

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.