‘O jogo é outro.’ Renault explica parceria com montadora chinesa Geely no Brasil

Montadora francesa será responsável pela rede de distribuição do grupo chinês no mercado brasileiro; primeiro modelo a ser comercializado pela Geely no país será um SUV 100% elétrico

Geely
10 de Abril, 2025 | 09:29 AM

Bloomberg Línea — “O jogo hoje é outro.” Foi assim que o CEO da Renault na América Latina, Luiz Fernando Pedrucci, definiu a parceria com a montadora chinesa Geely em apresentação à imprensa nesta quarta-feira (9).

O grupo francês será responsável pela distribuição e pelo pós-vendas dos carros da Geely no Brasil, em uma parceria que pode envolver a produção de modelos da marca chinesa no complexo fabril da Renault em São José dos Pinhais, no Paraná – o que ainda depende da conclusão de acordo entre as partes.

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Pedrucci disse que o grupo Renault ficará responsável pela implantação da rede da Geely, que prevê 105 pontos de vendas no país. Na primeira fase, serão 23 concessionárias. A distribuição de peças e serviços de pós-vendas também serão supervisionadas pela montadora francesa.

Segundo o diretor de vendas da Geely na América Latina, Michael Gao, as negociações para a parceria tiveram início há cerca de dois anos.

“A Renault está no Brasil há mais de 25 anos, conhece muito o mercado brasileiro e nós queríamos uma empresa que nos ajudasse nessa jornada”, explica o executivo.

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Pedrucci disse que a decisão é para perdurar no longo prazo. “O jogo hoje é outro, é através de parcerias. Encontramos uma janela de mercado e fomos buscar a melhor marca chinesa para ter uma parceria no Brasil. Não é algo oportunista”.

Com o acordo, a Renault passa a gerenciar as duas marcas, mas não haverá complementaridade de portfólios, explica Pedrucci.

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Embora haja a busca por sinergias, a Geely não terá interferências na estratégia da Renault. “Em algum momento seremos até concorrentes”, disse o executivo.

Globalmente, a Renault já possui uma aliança estratégica com a japonesa Nissan desde 1999.

Outras montadoras também seguiram essa mesma estratégia de firmar uma parceria com um grupo chinês.

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É o caso da Stellantis, que fechou uma parceria global para comercializar os veículos da chinesa Leapmotor ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

Gigante chinesa

A Geely é um grupo chinês que entrou no setor automotivo em 1997. No ano passado, comercializou 2,17 milhões de carros ao redor do mundo, sendo mais de 888 mil eletrificados.

O grupo tem parcerias com diversas montadoras internacionais, além de ser controladora da Volvo Cars (divisão de automóveis da marca sueca) desde 2010.

A companhia também detém uma joint venture com a Mercedes-Benz para a marca de carros Smart.

Esta é a segunda vez que Geely atua no Brasil. Há cerca de dez anos, os carros da marca foram vendidos no país pelo grupo Gandini, responsável pela operação da sul-coreana Kia no mercado brasileiro.

Agora, o primeiro modelo a ser comercializado pela Geely no Brasil, através de importação, será o EX5, um SUV 100% elétrico. O lançamento oficial será em julho deste ano.

Geely EX5

Segundo executivos, a proposta é oferecer um carro eletrificado com tecnologias de modelos de categorias superiores, porém com preços mais acessíveis. A montadora não forneceu mais detalhes sobre versões e preços.

Neste contexto, a montadora trabalha com os grupos concessionários para a inauguração, entre os próximos três e quatro meses, dos primeiros pontos de vendas da marca.

Produção local

Pedrucci destacou que a conclusão do acordo, em sua totalidade, entre as montadoras depende da aprovação por autoridades em diversos países e que, por ora, não há previsão para o início da produção de veículos da Geely no complexo paranaense.

“O mundo moderno demanda que tudo seja feito de forma rápida. Caso o acordo [para produção] seja confirmado, vamos trabalhar para que aconteça o mais rapidamente possível”, disse o executivo.

Paralelamente, ele explica que outros mercados da América Latina que já têm comercialização da Geely, caso do México, do Uruguai e do Chile, seguem operando normalmente. “Nosso foco é 200% no Brasil, a Geely tem representantes nos outros países [da região].”

O executivo reforçou que a Renault segue investindo na região. Recentemente, o grupo anunciou um investimento de US$ 250 milhões na Argentina para a produção de uma picape e ainda esta semana iniciou a produção do compacto Kwid na Colômbia para venda local e exportação.

“Acreditamos que a base para qualquer negócio é a produção local, isso é o coração para uma estratégia sustentável. Vamos continuar fazendo investimentos neste sentido, mas isso não impede de olharmos oportunidades para trazer sinergias e novos negócios”, disse.

Pedrucci acrescenta que, diante das incertezas no cenário global, a Renault não vai mudar a sua estratégia.

“Quando falamos de volatilidade, somos especialistas nisso, no Brasil e na América Latina. Um acordo como esse vem sendo trabalhado há mais de dois anos e tem como objetivo durar 10, 20, 30 anos. Não é algo que acontece no dia, na política, que vai mudar essa estratégia.”

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.