Os planos do CEO destituído da GetNinjas após disputa com gestoras Reag e ARC

Eduardo L’Hotellier, fundador da companhia e ainda o segundo maior acionista, avalia adesão à OPA ou venda de ações, segundo fonte que conversou com a Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — A GetNinjas (NINJ3), maior plataforma para contratação de serviços do Brasil, está sob nova direção. E não terá mais o principal obstáculo a um possível fechamento de capital dois anos e meio depois do IPO (oferta inicial de ações) em maio de 2021 na B3.

As gestoras Reag Investimentos, de João Carlos Mansur, e ARC Capital, de Sérgio Firmeza Machado (ex-Credit Suisse), conseguiram ontem (27) destituir o fundador Eduardo L’Hotellier do cargo de CEO por meio de decisão do conselho de administração.

Na reunião do conselho, Leonardo Meneses foi eleito novo CEO, e Thiago Souza Gramari, o novo diretor de Relações com Investidores, cargo que L’Hotellier acumulava. Fabiana Franco assume o cargo de CFO, no lugar de Lucas Arruda, que também foi destituído.

O edital da OPA (oferta pública de aquisição), convocada depois que a Reag atingiu 25% do capital e acionou o poison pill (veja mais abaixo), deve ser publicado até o dia 11 de dezembro. A gestora declarou anteriormente que pretende comprar todas as ações em circulação no mercado.

O agora ex-CEO aguarda as condições da operação para avaliar se vai aderir ou não à OPA, disse à Bloomberg Línea uma pessoa a par da situação, que pediu anonimato, pois a questão é privada. Ele vem sendo o principal opositor às mudanças na gestão da companhia.

L’Hotellier é o segundo maior acionista da companhia com 24,59% do capital. Caso decida não aderir à OPA, ele poderá ajustar essa posição vendendo ações, acrescentou a fonte.

No mês passado, o fundador aumentou sua fatia para tentar aprovar uma redução de capital na GetNinjas, mas a proposta acabou rejeitada, o que representou uma vitória para a Reag, maior acionista da plataforma com 32,15% e que controla dois dos cinco assentos do conselho.

Mansur foi eleito chairman, com Luis Camisasca (co-fundador do BizHub) como vice-presidente. A ARC Capital, com cerca de 23,49%, tem direito a uma vaga. Além de L’Hotellier como conselheiro, Mansur e Camisasca, o board é formado por Claudio Hermolin, da imobiliária digital eXp Brasil, e Demian Pons, sócio da ARC. O tempo do mandato dos conselheiros é de dois anos.

Meneses, que entrou na consultoria de gestão Alvarez & Marsal em novembro de 2015, é conhecido por seu trabalho em reestruturação de dívidas no varejo.

No LinkedIn, ele disse ocupar a posição de CFO na varejista de moda GEP (Luigi Bertolli, Cori, GAP, Offashion) e contou que atuou na Cybelar, no Atacadão dos Eletrodomésticos e na Leader Magazine, em que foi responsável pela reestruturação da área comercial e marketing.

Caso não venda as ações, L’Hotellier tem expressado disposição para confrontar os próximos passos da Reag e da ARC na condução da companhia que fundou, segundo a fonte.

Ele teria a propensão a rejeitar um preço de R$ 4,50 por ação na OPA por se tratar de valor abaixo do que há no caixa, acrescentou a pessoa. A GetNinjas fechou cotada a R$ 4,51 na segunda-feira (27). Por volta das 17h, o papel subia 2,00%, para R$ 4,60.

A GetNinjas tem R$ 280 milhões em caixa, e o CEO acredita, segundo a fonte, que o interesse da Reag é utilizar esses recursos em aquisições.

Segundo a mesma fonte, o tema chegou a ser colocado em pauta na reunião de ontem, mas acabou retirado por não existir consenso sobre o uso do caixa para aquisições de companhias de qualquer atividade. A ata da reunião do conselho será divulgado em sete dias.

Caso o preço a ser fixado na OPA seja considerado atrativo para L’Hotellier, ele avaliaria uma possível adesão à oferta e deixaria a companhia, reforçou a fonte.

O executivo teria planos de tirar um período sabático para em seguida voltar a trabalhar no setor de tecnologia, pois ainda tem compromissos com investidores que apostaram na GetNinjas, disse a pessoa.

A destituição de L’Hotellier começou a ser desenhada em setembro, quando ele propôs a devolução de R$ 223,5 milhões aos acionistas, com a alegação de fazer o valor da companhia em bolsa ficar menor do que o seu valor patrimonial e, assim, evitar entraves na agenda de M&A com possíveis dissidências de ações (direito de recesso garantido aos minoritários).

A Reag se opôs à proposta, justificando que a companhia deveria usar os recursos de caixa para acelerar o crescimento inorgânico, como prometido aos investidores durante o IPO.

No dia 11 de outubro, a Reag acionou o poison pill (obrigação de fazer uma OPA) ao ultrapassar 25% do capital. No dia 23 de outubro, a proposta de redução de capital foi rejeitada no conselho com 54% dos votantes contra a devolução dos recursos, mesmo após L’Hotellier ter mobilizado a base de 4.800 acionistas para participar da assembleia.

Segundo a fonte, a mudança de voto de Gregory Reider (R6 Capital e ex-Warburg Pincus) surpreendeu L’Hotellier, bem como a venda da participação da R6 Capital na companhia para a ARC duas semanas depois.

Em outubro, a Reag havia negado relação com a ARC e com a WHG (Wealth High Governance). Desde o início dos desentendimentos na GetNinjas, L’Hotellier lançou suspeitas sobre um suposto alinhamento nos bastidores entre essas gestoras.

As gestoras negaram a suspeita lançada pelo fundador da GetNinjas. Por outro lado, o executivo viu exposta a proposta de uma bonificação de R$ 1,8 milhão aprovada no conselho, referente ao valor que receberia após ser destituído do cargo de CEO.

Segundo a fonte, a matéria passou pelo conselho no meio do ano após avaliação de que a administração teria superado metas. L’Hotellier ainda não recebeu esse bônus e está disposto a entrar na justiça caso o novo conselho anule esse direito, disse a pessoa ouvida pela reportagem.

A Reag, a ARC, a WHG, a R6 Capital e a nova administração da GetNinjas não responderam imediatamente ao pedido de comentários por parte da Bloomberg Línea.

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