Bloomberg Línea — A GE Aerospace (GE), empresa formada após o spin-off da divisão de aviação da General Electric, elegeu o Brasil como um mercado chave para a expansão dos seus negócios globais.
Dentro da estratégia de crescimento após a separação do conglomerado industrial, concluída no início de abril, a companhia planeja um investimento de R$ 430 milhões (aproximadamente US$ 84 milhões) na expansão de uma de suas unidades de manutenção, reparo e revisão no Brasil, localizada no município de Três Rios, no estado do Rio de Janeiro.
Os recursos serão aplicados neste ano e em 2025 até a conclusão da obra, prevista para o segundo trimestre do ano que vem, de acordo com Luiz Froes, diretor executivo regional e vice-presidente de relações governamentais da América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea.
“Nós esperamos aumentar a capacidade em torno de 15% a 20% com essa expansão”, disse Froes.
A operação de manutenção e reparo no Brasil é a maior do mundo da GE Aerospace. Atualmente, a empresa revisa cerca de 500 motores por ano nas unidades no país, provenientes de cerca de 30 companhias aéreas de todas as regiões.
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A expansão inclui a construção de um novo hangar de montagem e desmontagem dos motores CFM Leap, usado em aeronaves como 737 Max, da Boeing, A320neo, da Airbus, e C919, da chinesa Comac.
A unidade de Três Rios também realiza testes dos motores GEnx, um dos mais vendidos pela empresa e usado no Boeing 787 Dreamliner e no Boeing 747-8.
Além do local, a GE Aerospace também tem três unidades de manutenção e reparo em Petrópolis, também no Rio de Janeiro, e uma unidade de provas no Aeroporto do Galeão, na capital fluminense.
Atualmente, a desmontagem, a manutenção e a montagem é feita nas unidades em Petrópolis e parte dos motores é enviada para a unidade de Três Rios para a realização de provas. Com a expansão, o plano é que os motores passem pela manutenção e, depois, pelos testes no mesmo local, segundo Froes.
O objetivo do investimento é atender uma demanda por manutenção e reparo dos motores CFM56 e CFM Leap. Segundo o executivo, o pico da demanda por serviços desses motores é esperado para 2025 e 2026, uma vez que boa parte foi vendida nos anos de 2008, 2009 e 2010.
“A maioria desses motores que foram vendidos lá atrás vão requerer essa manutenção mais robusta entre 2025 e 2026″, afirmou o executivo.
Globalmente, a empresa tem cerca de 44.000 turbinas de aviões comerciais em operação. A empresa é líder do segmento, com cerca de 55% de participação, de acordo com dados compilados pela plataforma Statista. Os principais concorrentes são a Rolls-Royce e a Pratt & Whitney.
A prestação de serviços compõe uma parte significativa das receitas da GE Aerospace. No primeiro trimestre, a empresa teve faturamento total de US$ 8,1 bilhões, com crescimento de 15% sobre o mesmo período do ano passado.
As vendas de equipamentos somaram US$ 2,4 bilhões, enquanto a receita de serviços foi de US$ 5,7 bilhões, ou cerca de 70% do total, segundo balanço divulgado em abril.
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Segundo Froes, a empresa já previa fazer um investimento para expandir as operações quando construiu o banco de provas em Três Rios, em 2018, mas os planos foram adiados com a pandemia.
“Agora que a demanda retornou, nós retomamos esse plano e vamos executá-lo e fazer esse investimento”, afirmou.
As operações da GE Aerospace fazem parte da operação da GE Celma. A empresa tem origem em 1951, quando foi fundada em Petrópolis como uma fabricante de equipamentos eletroeletrônicos. Na década de 1950, a Celma foi comprada pela Panair do Brasil e passou a fazer a manutenção dos motores da antiga companhia aérea.
Durante a ditadura militar, o governo estatizou a companhia e a utilizou para fazer a manutenção de motores dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Em 1991, já no governo do ex-presidente Fernando Collor, a empresa foi privatizada, e a GE, que adquiriu uma participação minoritária na privatização, assumiu o controle da companhia em 1996.
Spin off da GE
Em novembro de 2021, a General Electric tomou a decisão de se dividir em três companhias separadas negociadas em bolsa: a GE Healthcare (focada em produtos voltados para a área de saúde), a GE Vernova (energia) e a GE Aerospace (aviação).
O objetivo anunciado à época era fazer com que as empresas pudessem ser mais flexíveis e ágeis com atuação de forma independente, definindo suas próprias prioridades. Dessa forma, o conglomerado avalia que os negócios podem gerar mais retorno para os acionistas, em um processo conhecido como “destravar valor” que tem sido adotado por grupos corporativos em todo o mundo.
A GE Healthcare foi a primeira a concluir sua separação do conglomerado industrial americano, no início de 2023, operando com o símbolo GEHC na Nasdaq. Em abril deste ano, a GE concluiu a separação das demais áreas.
A GE Vernova, que atua com turbinas, motores e outros sistemas de geração de energia elétrica, passou a ser negociada na Bolsa de Nova York com o símbolo GEV, enquanto a GE Aerospace manteve o símbolo original GE.
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