Bloomberg — A Bristol Myers Squibb (BMY) concordou em comprar a desenvolvedora de medicamentos para esquizofrenia Karuna Therapeutics (KRTX) por US$ 14 bilhões em um acordo que destaca como as gigantes farmacêuticas globais correm para preencher lacunas no seu plano de desenvolvimento e lançamento de medicamentos.
As negociações da Bristol para adquirir a Karuna se concretizaram nas últimas duas semanas, segundo pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.
A empresa farmacêutica fez uma proposta não solicitada dias depois que a concorrente AbbVie (ABBV) anunciou a aquisição de US$ 8,7 bilhões da Cerevel Therapeutics, outra empresa de biotecnologia que trabalha em medicamentos neurológicos, de acordo com as fontes, que pediram para não serem identificadas, pois a informação não é pública.
A Bristol Myers pagará US$ 330 por ação em dinheiro pela empresa sediada em Boston, de acordo com um comunicado divulgado na sexta-feira (22), ou cerca de 53% a mais do que o preço de fechamento da Karuna na quinta-feira. As ações da Karuna subiram 45% na sexta-feira, enquanto as da Bristol avançaram 2,01%.
A Karuna desenvolve um tratamento para esquizofrenia chamado KarXT, que está em processo de aprovação nos EUA e expandiria o portfólio da Bristol na área de neurociência, um segmento de interesse crescente para muitas empresas farmacêuticas. Espera-se que a terapia gere até US$ 4 bilhões até 2030, de acordo com um relatório de Jared Holz da Mizuho Securities.
Corrida das farmacêuticas
A compra destaca uma “corrida às compras” de empresas que pagam grandes prêmios para fortalecer seus planos de desenvolvimento existentes ou ajudá-las a entrar em novas áreas, disse Holz na nota.
O CEO da Bristol, Christopher Boerner, afirmou em uma entrevista que a empresa estava em contato com a Karuna ao longo de vários meses.
“Gostamos da ciência. Conhecemos e realmente gostamos da equipe que eles montaram lá”, disse ele em uma entrevista, acrescentando que o KarXT tem “um potencial comercial significativo”.
Boerner não descartou mais acordos, dizendo que a estratégia da empresa tem sido buscar aquisições em ou perto das áreas terapêuticas em que a Bristol já está trabalhando.
“Continuamos tendo um poder significativo como empresa, mas sempre seremos disciplinados e estratégicos”, disse ele.
O KarXT oferece oportunidades em outras condições, como psicose de Alzheimer e doença bipolar, disse Boerner. As vendas máximas poderiam atingir US$7 bilhões levando em consideração esses outros usos, disseram analistas da William Blair em uma nota.
A empresa também considera a Lei de Redução da Inflação do Presidente dos EUA, Joe Biden, em suas decisões de investimento, disse Boerner. A lei permite que o programa de saúde Medicare do governo para idosos, o maior pagador de serviços de saúde do país, negocie preços com empresas farmacêuticas pela primeira vez.
A Karuna espera uma decisão da Food and Drug Administration sobre o medicamento até setembro de 2024. Até agora, os dados de estágio avançado mostraram promessas para reduzir drasticamente os efeitos colaterais severos observados com outros medicamentos. Se aprovado, o KarXT representaria a primeira abordagem farmacológica nova para o tratamento da esquizofrenia em várias décadas, afirmou a empresa.
A neurociência é uma área de interesse crescente para muitas empresas farmacêuticas. A Bristol tem sido ativa em aquisições recentemente, concordando em outubro em comprar a Mirati Therapeutics por US$ 4,8 bilhões para expandir sua linha de medicamentos contra o câncer.
Interesse do mercado
Embora a movimentação da Bristol faça sentido, a história recente sugere que o desafio chave da empresa está na execução comercial de medicamentos lançados, disse o analista da Bloomberg Intelligence, John Murphy, citando a lenta adoção inicial de novos produtos como o tratamento para psoríase Sotyktu.
A Bristol tem sido uma grande player em medicamentos psiquiátricos, com tratamentos como o Abilify para distúrbios de humor. O aumento do entendimento científico sobre o funcionamento do cérebro tem levado a um maior interesse de mercado em medicamentos para tratar suas doenças.
A transação, prevista para fechar na primeira metade de 2024, também expandiria o pipeline da empresa, enquanto ela enfrenta o vencimento de patentes do Opdivo, um importante medicamento contra o câncer que é fundamental para seu portfólio, e do Eliquis, um anticoagulante vendido com a Pfizer.
O acordo é “muito significativo para o espaço de neurociência, onde muitos investidores têm esperado por uma onda de fusões e aquisições por anos”, disseram analistas da Stifel liderados por Paul Matteis em uma nota. “É validador que mecanismos inovadores em psiquiatria têm potencial de blockbuster mesmo diante de muitos genéricos.”
Gordon Dyal e Citigroup atuam como consultores financeiros da Bristol. O Goldman Sachs atuam como consultor financeiro exclusivo da Karuna.
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