Oncoclínicas prevê aumento de capital de R$ 1,5 bi para reduzir alavancagem

Grupo líder em oncologia projeta fechar o ano com alavancagem de 2,0x o Ebitda, versus 3,9x no primeiro trimestre, e disse que recursos vão ajudar também a melhorar o caixa

Oncoclínicas
23 de Maio, 2024 | 10:11 AM

Bloomberg Línea — A Oncoclínicas (ONCO3) planeja realizar um aumento de capital no valor de R$ 1,5 bilhão com a emissão de novas ações fixadas a R$ 13 cada uma, o que representa um prêmio de 74,5% em relação ao último fechamento (R$ 7,45). A operação foi aprovada pelo conselho de administração, segundo fato relevante enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na noite de ontem (22).

A empresa lidera o mercado de tratamento oncológico no país e tem o Goldman Sachs como principal acionista. O grupo tem acelerado a abertura de cancer centers, além de feito parcerias e joint ventures para aumentar escala e capturar sinergias.

“Os recursos oriundos do aumento de capital serão destinados à redução da alavancagem financeira consolidade da companhia, à melhora da posição de caixa, à manutenção da estratégia de crescimento e continuidade dos planos de expansão orgânica, bem como ao uso corporativo geral da companhia”, disse a companhia em documento.

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Após a subscrição privada de novas ações, o capital social passará de R$ 2,454 bilhões para R$ 3,147 bilhões, sendo R$ 807,692 milhões destinados à formação de reserva de capital, cita o fato relevante.

A operação foi ancorada pelo Banco Master, de Daniel Vorcaro, por meio de dois fundos, e pelo fundador e CEO da Oncoclínicas, Bruno Ferrari. “O setor de saúde no Brasil é muito promissor. Fazer parte de uma empresa com tanto potencial ao lado do Goldman Sachs é uma grande oportunidade”, disse Daniel Vorcaro, CEO do Banco Master, em nota.

Para ancorar a operação, o Master usou dois veículos de investimento, os FIPs (fundo de investimento em participações) Quíron e Tessália, que vão subscrever R$ 1 bilhão das novas ações emitidas, e os restantes R$ 500 milhões serão subscritos por Ferrari, para o qual o Master estruturou a operação de funding, segundo a nota do Master.

Os FIPs representantes do Goldman Sachs (Josephina e Josephina II) se comprometeram a ceder seus respectivos direitos de preferência aos investidores no aumento de capital, acrescentou a instituição.

Questionamento sobre alta de ações

Um dia antes de divulgar o fato relevante sobre o aumento de capital, a companhia foi questionada pela CVM e pela B3 sobre uma movimentação atípica de ações entre os dias 6 e 17 deste mês, culminando com uma alta de 10,47% na última sexta-feira (17), após valorização de 7,02% (quinta) e 7,36% (quarta).

“No dia 13, após o final do pregão, a companhia divulgou resultado do primeiro trimestre, o qual continha informações que podem ter justificado a oscilação da cotação de suas ações no dia 14 e nos dias seguintes”, respondeu a companhia.

A companhia divulgou ainda seu guidance para alavancagem financeira no final de 2014: 2,0 x o endividamento líquido sobre o Ebitda atualizado do quarto trimestre.

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“A projeção apresentada reflete o atual plano estratégico e financeiro da companhia, pode ser alterada por eventuais mudanças em planos, inclusive ocasionadas por impactos decorrentes de fatores externos, e não constitui promessa de desempenho”, ressalvou.

A dívida líquida da companhia era de R$ 4,264 bilhão no final do primeiro trimestre, enquanto o nível de alavancagem era de 3,9x - um aumento em relação ao patamar de 3,1x do quarto trimestre.

Alerta da Fitch sobre alavancagem

A agência de classificação de risco Fitch observou uma “redução de alavancagem mais lenta” em 2023 em relatório divulgado em março. “O forte consumo de caixa operacional por juros e capital de giro, em especial no último trimestre de 2023, frustrou a expectativa da Fitch de redução da alavancagem da companhia em 2023″.

Ao atribuir um rating a uma proposta de emissão de debêntures no valor de até R$ 800 milhões, com vencimento final em 2031, a agência disse que o cenário-base da nota incorporava uma redução de alavancagem em 2024, com índice dívida líquida/Ebitda inferior a 3,5 vezes, apoiado no contínuo fortalecimento da geração operacional de caixa da companhia e menores pressões no capital de giro.

“A Oncoclínicas deve ser capaz de manter índices de alavancagem bruta e líquida inferiores a 5,0 vezes e 3,5 vezes, respectivamente, a fim de evitar pressões nos ratings, o que dependerá da sua capacidade de administrar seu ritmo de crescimento e gerenciar as pressões de capital de giro”, avaliou a Fitch.

No ano, as ações da companhia acumulam queda de 42% ante um Ibovespa negativo de 4,80%.

O aumento de capital é visto como insuficiente para normalizar a geração de caixa da companhia, segundo relatório elaborado pela equipe de research do Goldman Sachs.

“Embora vejamos mérito na redução da alavancagem no curto prazo, ainda nos falta visibilidade de quando a geração orgânica de fluxo de caixa poderá se normalizar, já que alguns dos principais clientes da empresa parecem estar enfrentando condições financeiras restritivas, nomeadamente a Unimed-RJ e a Central Nacional das Unimeds”, citou relatório assinado pelos analistas Gustavo Miele e Emerson Vieira, em referência a uma das maiores redes de assistência médica do Brasil.

Segundo eles, desde o quarto trimestre, a geração de fluxo de caixa da Oncoclínicas tem sido decepcionante, uma vez que o consumo de capital de giro continuou sendo um dos principais impulsionadores do aumento da alavancagem da empresa ao longo de 2023.

Redução da fatia do Goldman Sachs

O Goldman Sachs reduziu a participação acionária na empresa de atendimento oncológico em 2023 mesmo com a ação negociada com um preço cerca de 40% abaixo do valor do IPO.

A posição do banco no capital da empresa saiu de 62% no IPO para 45,48% após uma oferta subsequente de ações (follow-on) realizada no ano passado.

Segundo os principais executivos do grupo de saúde ouvidos por Bloomberg Línea, o movimento faz parte de uma estratégia de desinvestimento do banco americano, que será gradual, à medida que a companhia ganha escala e melhora seus resultados financeiros.

O banco de Wall Street investiu cerca de R$ 1,75 bilhão ao longo de vários anos para adquirir uma participação de 93,52% na Oncoclínicas, segundo dados compilados pela Bloomberg. Começou a comprar ações em 2015 e continuou a aumentar a sua participação até 2019 por meio de dois fundos de private equity denominados Josephina, que venderam parte das ações no IPO.

“O Goldman Sachs está saindo da Oncoclínicas desde que entrou. É um investimento financeiro”, disse o CFO da companhia, Cristiano Camargo, que foi diretor executivo de investimentos de private equity no Brasil para a asset management do Goldman Sachs, à Bloomberg Línea em julho do ano passado.

Com o banco americano como acionista majoritário, a Oncoclínicas tem atualmente 3,11% de seu capital nas mãos do médico Bruno Ferrari, fundador da companhia e atual CEO. As fatias detidas pelo banco americano estão em dois fundos de investimento em participações multiestratégia (Josephina II e Josephina). A gestora WNT detém 5,02%.

Segundo relatório da Fitch, divulgado hoje, após o aumento de capital, a participação acionária do Goldman Sachs será diluída para em torno de 36%, enquanto os fundos de investimentos Quíron e Tessália, do Banco Master, terão aproximadamente 18% (dos atuais 6%) e Ferrari passará a deter cerca de 11% (dos atuais 3%).

“A Oncoclínicas continua com os desafios de gerenciar as pressões em seu capital de giro decorrentes do crescimento de seus negócios e da atual dinâmica do setor de saúde, caracterizada pela extensão de prazo de pagamento por parte das operadoras de saúde, a fim de permitir uma redução mais consistente de sua alavancagem, de forma a não pressionar o seu rating”, avaliou a Fitch, em novo relatório.

Ampliação dos cancer centers

O aumento da alavancagem financeira nos últimos anos refletiu o plano de expansão da companhia. A Oncoclínicas tem expandido os chamados cancer center, que são unidades hospitalares especializadas em tratamento oncológico de maior complexidade.

Em São Paulo, a joint venture da Oncoclínicas com a Porto tem aumentando esse tipo de atendimento. A companhia tem feito parcerias ainda como a Unimed Nacional, ampliando sua linha de cuidados de pacientes oncológicos.

“Os projetos são expansões. Não começam do zero. Não precisamos buscar o credenciamento dos planos de saúde”, disse o CFO.

Com os recursos captados no follow-on no ano passado, a Oncoclínicas disse ter avançado em ampliações de atendimento em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, em projetos que incluem investimentos em serviços de diagnóstico por imagem e terapia celular, além da expansão da capacidade de leito e compra de equipamentos de imagem.

A Oncoclínicas abriu capital na B3 em agosto de 2021, em um IPO (oferta inicial de ações) que captou R$ 2,6 bilhões, sendo R$ 1,7 bilhão em oferta primária. O papel foi precificado em R$ 19,75.

Os recursos captados foram destinados para a expansão inorgânica da empresa, por meio de aquisições, expansão orgânica, por meio de projetos de investimento, e recursos para capital de giro.

Atualiza às 17h30 com novo relatório da Fitch

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.