Bloomberg Línea — Vendida pelo Pátria Investimentos no fim de 2022 ao grupo americano Aligned, a empresa de data centers Odata tem sido beneficiada nos últimos anos pela demanda impulsionada pela inteligência artificial (IA).
A companhia fundada no Brasil em 2015 tem expandido as operações existentes e construído novas estruturas em ritmo acelerado, em linha com um plano de investimento de R$ 26 bilhões até o fim de 2026.
Segundo o CEO, Ricardo Alário, o objetivo é atingir uma capacidade energética de tecnologia da informação (TI) de 1,3 gigawatts na soma de todos os data centers da empresa, tornando-se um dos maiores players do setor na América Latina.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo disse que cerca de R$ 14 bilhões dos investimentos previstos já foram alocados para projetos atuais, e os demais recursos devem ser aplicados em novas expansões.
“Temos 22 campos hoje, dos quais 12 com data centers em construção ou já construídos. Até o fim de 2026, devemos começar as obras em mais dois ou três sites”, disse o executivo.
O total do investimento, no entanto, pode ser ainda maior a depender dos contratos assinados com os clientes. “Há contrato de 10, 20, 40 megawatts e contrato de 100 megawatts. Se sair um contrato grande desses, de 100 megawatts, estamos falando até muito mais do que R$ 26 bilhões”, completou.
Hoje a companhia atua no Brasil, no México, no Chile e na Colômbia e é responsável por toda a operação na América Latina do grupo Aligned Data Centers. Na região, a empresa concorre com outras multinacionais como Ascenty, Equinix e Scala Data Centers, entre outras.
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A Odata trabalha no modelo de colocation, no qual a empresa constrói a infraestrutura física dos data centers, incluindo o prédio, os sistemas de fornecimento de energia e de refrigeração, e cuida da administração do espaço para garantir o funcionamento do local.
Já os racks com os servidores são adquiridos e instalados pelas empresas de tecnologia clientes da empresa – em geral, big techs e fornecedores de infraestrutura de nuvem como Amazon, Google, Meta, Microsoft e Oracle. A Odata não revela os nomes dos clientes, por questão de sigilo contratual.
A unidade mais recente da empresa foi inaugurada no último dia 17 de março, em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, próximo da rodovia Anhanguera.
A construção do prédio e a compra de equipamentos contou com um investimento de R$ 2,6 bilhões, em um trabalho que levou cerca de nove meses. A unidade é a quarta da empresa no estado de São Paulo e tem capacidade de TI de 48 megawatts.
Data center ‘AI Ready’
O local é o primeiro data center da Odata que tem a flexibilidade de instalação de sistemas de refrigeração a ar ou a água. Isso permite que os clientes possam instalar servidores que utilizam GPUs, como as produzidas pela Nvidia, que são utilizadas em sistemas de IA.
Como esses equipamentos dispersam muito calor, eles exigem um sistema de refrigeração a água, com tubos ligados diretamente nos chips.
“As estruturas atuais de nuvem foram totalmente redesenhadas. Antigamente, elas não tinham GPU, era só CPU. Agora não existe nenhuma construção nova sendo contratada daqui para frente que não vá ter um componente de GPU para servir a própria nuvem. A nuvem acabou virando AI”, disse o CEO da Odata.
“Esse é o primeiro prédio pronto para isso que construímos, com essa infraestrutura AI ready.”

Outra novidade é que o novo data center em Osasco é o primeiro da Odata a incluir um sistema de refrigeração proprietário desenvolvido pela controladora Aligned, chamado Delta³ (pronuncia-se Delta Cube).
O equipamento consiste em grandes ventiladores que cobrem toda a parede lateral das salas de servidores e sopram ar frio para fazer o resfriamento das máquinas. O sistema de refrigeração está sendo fabricado pela sueca Munters em uma unidade da empresa no Brasil.
De acordo com o executivo, a principal vantagem do sistema de refrigeração é que ele traz um ganho de eficiência energética e tem uma capacidade de resfriamento mais alta. Isso permite a instalação de racks de servidores que consomem mais energia.
“Conseguimos usar o resfriamento a ar para racks com até 50 kW de potência, que é uma densidade muito alta. Hoje em dia uma implementação de nuvem tem no mínimo 12 kW por rack e no máximo 30 kW. Portanto, conseguimos resolver qualquer problema, sem ter muita GPU, e até 50 kW”, afirmou o CEO.
Sinergias
Segundo Ricardo Alário, o uso da tecnologia de resfriamento é uma das sinergias que a Odata obteve desde a aquisição pela Aligned Data Centers.
O acordo foi assinado em novembro de 2022 e concluído em maio de 2023, em uma transação avaliada em US$ 1,8 bilhão, segundo fontes da Bloomberg News ouvidas antes do fechamento do negócio.
O executivo, que antes era managing director do Pátria, permaneceu à frente da operação da Odata, que já era comandada por ele desde a fundação.
A aquisição pela Aligned, que tem a Macquarie e o Mubadala entre seus acionistas, permitiu à Odata aumentar o volume de capital disponível para investir na expansão, segundo Alário.
Outro ganho foi que a Odata passou a contar com uma força de vendas global da Aligned, o que possibilitou a compra de equipamentos em melhores condições com fornecedores e de forma antecipada, para se adiantar ao aumento da demanda dos clientes.
Além disso, a Aligned trabalhava com projetos mais genéricos de data centers, o que foi incorporado pela Odata, e isso permite atender diversos tipos de clientes. Antes a empresa no Brasil atuava com projetos sob medida.
Os clientes das empresas também eram complementares. Enquanto a Odata era muito forte em dois clientes específicos, a Aligned atendia três – sendo que somente um era comum entre as duas empresas.
“Essa nossa capacidade financeira e estratégica de se adiantar à demanda nos ajudou muitíssimo, porque as demandas mudaram muito de tamanho. Nós entendíamos que um campo de 50 megawatts nunca iria vender toda essa capacidade. Hoje o cliente não quer nem conversar se aquele campo não chega ou não passa de 100 megawatts”, disse o executivo.
Efeito DeepSeek
O CEO da Odata disse que não acredita em uma queda da demanda por novos data centers em um futuro próximo, mesmo depois de o lançamento da tecnologia de IA da chinesa DeepSeek indicar que é possível desenvolver modelos que exigem menos capacidade de computação e grandes data centers de GPUs.
Segundo Alário, todas as grandes empresas de tecnologia confirmaram seus volumes de investimento previstos e “não estão tirando o pé do acelerador”.
Embora a DeepSeek tenha colocado em xeque a necessidade de GPUs para conseguir melhorar os modelos de IA, empresas como a xAI e a Anthropic, concorrentes da OpenAI, também seguem com planos de ampliar os “clusters” de processadores especializados de IA para treinar seus sistemas.
Além disso, na visão do CEO, o surgimento de modelos capazes de “raciocinar” ao mesmo tempo em que buscam uma resposta tende a aumentar ainda mais a demanda por servidores para executar esse tipo de processamento.
Isso porque antes se imaginava que os grandes data centers seriam necessários para fazer o treinamento dos modelos, mas, para processar as informações em sistemas como o ChatGPT – a chamada inferência –, data centers com processadores mais simples poderiam dar conta do trabalho.
“A inferência preditiva era muito simples. Agora a inferência de reasoning gasta muita energia. De repente, mudou toda a discussão nos últimos dois meses”, diz Alário.
“Ficamos tentando entender o que vai acontecer com a tecnologia, e a verdade é que ninguém sabe. Nós só sabemos que vai precisar de muito mais data center.”
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