Bloomberg — O Goldman Sachs está expandindo sua equipe de América Latina para impulsionar os negócios de renda fixa na região, incluindo negociação de títulos do governo em moeda local e crédito privado.
Como parte da expansão, o banco contratou Juan Ocampo, que trabalhou na Gramercy Funds Management, como managing director baseado em Nova York com foco em crédito estruturado.
Também adicionou cinco vice-presidentes para a região nos últimos meses, incluindo um no Brasil, para cobrir mercado de capital de dívida, crédito estruturado, trading de derivativos e câmbio, bem como negociação de títulos do governo mexicano.
O plano é continuar fazendo contratações adicionais, de acordo com John Greenwood e Osmin Rivera, responsáveis pelos negócios do banco na América Latina.
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“Estamos extremamente focados em aumentar a participação de mercado junto a todos os nossos 150 principais clientes institucionais e corporativos”, disse Rivera em uma entrevista.
“Também estamos tentando aumentar a quantidade de empréstimos e financiamentos que fazemos para nossos clientes na região, incluindo todos os tipos de crédito garantido por ativos e transações para infraestrutura.”
Foco na emissão
O plano do Goldman de focar em crédito, trading e derivativos se dá em um ano de queda na emissão de ações na América Latina para o menor nível desde pelo menos 2013, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A emissão total de ações deste ano de empresas na região caiu 3%, para US$ 8,9 bilhões, mostram os dados.
Desde 2018, o banco sediado em Nova York aumentou sua equipe de banco de investimento na América Latina em cerca de 40% e passou de uma “abordagem mais tática em torno de grandes situações específicas” para um “modelo mais tradicional e holístico, atendendo clientes em assessoria, financiamento e gerenciamento de risco”, disse Greenwood.
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O banco estava entre os coordenadores na emissão de um título global sustentável de US$ 2 bilhões do governo brasileiro e também liderou uma oferta inaugural de US$ 1,2 bilhão da empresa de geração e distribuição de energia Orygen Peru, na maior emissão de títulos corporativos privados peruanos, de acordo com o Goldman.
O banco também participou de algumas das maiores vendas de títulos de dívida subordinada para bancos latino-americanos, incluindo o título perpétuo de dívida subordinada de nível 1 de US$ 1,5 bilhão do mexicano Banorte.
O Goldman também ajudou a vender a emissão inaugural de títulos globais em dólar do Paraguai denominados em moeda local do país, o guarani, no valor equivalente a US$ 500 milhões.
As vendas totais de títulos internacionais da América Latina atingiram US$ 122,3 bilhões este ano, um aumento de 39% em relação ao ano passado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
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Expansão regional
O Goldman, que está no Brasil há 30 anos e possui uma corretora no México há dez anos, também tem presença local na Argentina, Chile e Peru.
O banco cobre a Colômbia do Peru e Nova York e está começando a negociar títulos locais e globais de Nova York de países menores, oferecendo proteção cambial e empréstimos usando acordos de recompra.
“Queremos negociar em mais países, mesmo onde não temos presença, em um impulso estratégico em direção ao que alguns chamam de países de fronteira da América Latina”, disse Rivera.
Isso inclui negociar títulos locais e câmbio do Uruguai e da República Dominicana. O banco também está negociando produtos de câmbio na Costa Rica e está se preparando para começar a negociar no Paraguai.
O Goldman também atua em financiamento na América Central e no Caribe, além de negociar títulos em dólar de países como Guatemala, El Salvador, Bolívia e Equador.
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O plano também é expandir a negociação de títulos em moeda local onde o Goldman Sachs já tem uma grande presença, como Brasil, México, Peru e Chile.
“À medida que esses países diversificaram e passam a não apenas emitir em dólar mas também a vender papéis em moeda local, isso cria mais demanda de investidores em moeda local para atuar nesses lugares”, disse Rivera.
“Muitos dos nossos clientes institucionais estão buscando instrumentos de renda fixa nesses países, enquanto empresas e multinacionais que têm presença lá precisam proteger seus riscos cambiais e de taxa de juros, e estamos tentando atendê-los mais também”, disse ele.
Potencial regional
O foco do banco na região está se expandindo à medida que o investimento estrangeiro direto está deixando a China, disse Greenwood, acrescentando que a América Latina deve ser beneficiária de “uma grande parte do bolo”.
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“A América Latina está longe dos conflitos globais, tem demografia favorável e é rica em recursos naturais, incluindo minerais que são importantes para a transição energética”, disse ele.
O México, dada sua proximidade com os EUA, será um beneficiário líquido do crescimento dos Estados Unidos, de acordo com Rivera.
Até agora, as altas taxas de juros nos EUA têm alimentado saídas de fundos de ações de mercados emergentes, reduzindo o valor de empresas e a atividade dos mercados de capital de ações.
Juros elevados no Brasil também trouxeram retiradas de fundos multimercado e ações locais, reduzindo ainda mais a demanda por ações.
“Dado que os mercados públicos não estão extremamente ativos, vamos encontrar outros caminhos no mercado privado, incluindo crédito com o nosso próprio balanço e distribuição no mercado de crédito,” disse Greenwood.
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