Bloomberg Línea — O Santander Brasil (SANB11) pretende recuperar seu protagonismo como gerador de resultados para a matriz espanhola após enfrentar uma onda de inadimplência e o aumento da concorrência no país nos últimos anos. O CEO no país, Mario Leão, destacou a ambição de obter um crescimento da carteira de crédito acima do mercado ao comentar os resultados do quarto trimestre nesta quarta-feira (31).
Para recuperar um ROE (retorno sobre patrimônio) no nível de 20%, após ter fechado o ano passado na casa dos 12%, Leão disse que o banco pretende reduzir a oferta de produtos na prateleira, a fim de facilitar o entendimento dos clientes sobre as opções de crédito e avançar na operação digital; as medidas incluem aumentar a equipe de assessores de investimentos, controlar as despesas e buscar “surfar” o novo ciclo da economia brasileira, que está em trajetória de redução dos juros.
“Nos últimos anos, o Brasil ou foi a maior ou a segunda maior operação do grupo. E vai voltar a ser a maior nas operações da região. O Brasil tem relevância alta para o grupo”, disse o executivo.
Mais cedo, a presidente do conselho de administração do grupo, Ana Botín, disse esperar que a América Latina ajude a compensar alguma fraqueza nos negócios do varejo na Europa.
O balanço da operação brasileira apontou lucro de R$ 2,2 bilhões entre setembro e dezembro, abaixo das projeções do mercado, apesar de representar um aumento de 30% em 12 meses. O resultado apontou uma inadimplência ainda em linha ascendente.
“Dentro de um contexto de retração da inadimplência esperada para a indústria, o avanço da inadimplência do Santander soa decepcionante – ainda que possamos estar sendo bastante criteriosos, já que a deterioração foi apenas marginal (3,1% versus 3,0% no terceiro trimestre) e a inadimplência curta (15 a 90 dias) de fato melhorou”, avaliou o analista Rafael Reis, em relatório do BB Investimentos.
O CFO do Santander Brasil, Gustavo Alejo, disse que o indicador de inadimplência reflete atrasos em carteiras renegociadas, referentes a safras antigas de crédito, mas que a tendência é de queda da inadimplência.
O que pesou no resultado do quarto trimestre como principal detrator do lucro foi o reconhecimento de R$ 732 milhões de PDDs (Provisão para Devedores Duvidosos) devido a um “caso específico do segmento atacado”. O Santander não informou o nome do cliente corporativo, mas analistas citam que a instituição tem R$ 3,6 bilhões a receber da Americanas (AMER3), em recuperação judicial há um ano.
Crescimento da carteira
O CEO evitou fornecer um guidance (projeção) para o crescimento da carteira de crédito em 2024. “Vamos crescer mais do que o mercado.” A mais recente pesquisa de expectativas da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) com as instituições financeiras do país, divulgada em dezembro, apontava uma projeção de aumento de 8,5% na carteira do setor em 2024.
O executivo destacou a melhora em indicadores como a margem financeira com clientes, que avançou tanto no comparativo trimestral (+0,5%) quanto anual (+3,4%). A margem com mercado (tesouraria) também apresentou melhora, esperada diante de um contexto de redução de Selic, dada a estrutura dos ativos e passivos do Santander, observou a equipe de research do BB Investimentos em relatório.
Outro ponto positivo do balanço foram as comissões (receitas de serviços), que subiram 7% (base trimestral) e 8% (anual), algo atribuído ao aumento de transações em cartões, seguros, operações de crédito e outros.
“Nosso custo de crédito está caindo. A performance de PDD teve performance estável, e o portfólio está crescendo. Estamos entrando 2024 despreocupados com o custo de crédito recorrente”, disse Leão.
Melhora do varejo
A retomada da rentabilidade do banco é uma agenda-chave de 2024, segundo o executivo, que considera como uma consequência da agenda estratégica. O Santander vai buscar, segundo ele, melhorar o resultado principalmente do segmento massificado do varejo.
O CEO estimou uma redução de 20% em dois anos no número de agências. “Estamos fazendo uma otimização da rede física: ter as lojas do tamanho certo no local certo e com propósito definido”, explicou.
Sobre o plano de reduzir a oferta de produtos para simplificar a prateleira, ele ilustrou com exemplos do segmento de cartões. “Preciso de menos produtos na prateleira para que o cliente tenha uma visão de forma rápida e inteligível. Não preciso de cem tipos de cartões de crédito, mas só de dez. É uma agenda para ser mais simples, barato e inteligente”, afirmou.
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