O que o negócio bilionário entre Vale e sauditas representa para os dois lados

Transação total de US$ 3,4 bilhões em que a mineradora brasileira vendeu 13% de sua divisão de metais básicos, como cobre e níquel, atende a interesses estratégicos

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Bloomberg — A Arábia Saudita acertou o primeiro grande negócio dentro da estratégia de empregar sua vasta riqueza na indústria global de mineração ao comprar uma participação na unidade de metais básicos da Vale (VALE3).

O fundo soberano saudita, conhecido como PIF, e a Maaden, mineradora estatal do reino, comprarão 10% em uma empresa criada para abrigar os ativos de níquel e cobre da Vale, informou a companhia em comunicado na noite de quinta-feira (27). Separadamente, a empresa de investimentos Engine No. 1 comprará uma participação de 3%. O valor total a ser pago nos acordos é de US$ 3,4 bilhões.

Nos últimos anos, a Arábia Saudita tem se lançado em uma onda de investimentos globais, na busca para diversificar sua riqueza petrolífera por outros setores. O PIF adquiriu participações em fabricantes de videogames e montadoras de carros elétricos, mas o acordo com a Vale é o primeiro grande investimento em mineração desde que estabeleceu uma joint venture com a Maaden em janeiro.

Em um processo de venda prolongado, a joint venture saudita venceu os concorrentes, incluindo a japonesa Mitsui e a Qatar Investment Authority, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto. O Goldman Sachs assessorou a Vale. O Bank of America trabalhou com o PIF e a Maaden.

Além do acordo com a Vale, a Maaden recentemente formou uma joint venture com a Ivanhoe Electric para desenvolver projetos de mineração na Arábia Saudita. A empresa anunciou parcerias com a Barrick Gold para explorar e desenvolver duas novas áreas no reino, onde opera a mina subterrânea de cobre Jabal Sayid.

Para a Vale, a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, os recursos obtidos com a venda ajudarão a financiar os investimentos necessários para atender à crescente demanda por níquel e cobre na transição para veículos elétricos. O estabelecimento de uma unidade independente de metais básicos com parceiros sauditas também pode permitir que a Vale participe de uma onda de consolidação no setor.

Após anos de deliberação, a Vale decidiu criar a empresa de metais básicos, a partir principalmente de ativos no Canadá, no Brasil e na Indonésia absorvidos na compra da canadense Inco em 2006. O ex-CEO da Anglo American Mark Cutifani foi recrutado para liderar um conselho independente para a unidade, que está avaliada em US$ 26 bilhões, de acordo com a transação.

A cisão dos metais básicos também proporciona aos investidores uma maneira mais simples de precificar a divisão. A gigante brasileira da mineração é negociada com desconto em relação a seus principais pares, uma vez que a maior parte de sua receita ainda vem das gigantescas minas de minério de ferro no Brasil, palco de dois colapsos devastadores de barragens de rejeitos nos últimos anos.

Além de Cutifani, o conselho de metais básicos também conta com Jerome Guillen, que passou uma década como braço direito de Elon Musk na Tesla (TSLA). A Vale já é fornecedora direta da Tesla e da General Motors (GM) e tem a Ford Motor (F) como uma de suas parceiras para desenvolver conjuntamente o níquel na Indonésia.

O CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, vê potencial para que o negócio de metais básicos da companhia se torne tão grande quanto o de minério de ferro.

Os próximos passos para os metais básicos da Vale não são claros. Uma opção é abrir o capital da unidade. “Obviamente, um IPO no futuro é um evento de liquidez que poderia ser buscado”, disse Bartolomeo em abril, ressaltando que “há muitas formas de liquidez” pelas quais a empresa poderia optar.

- Com a colaboração de Jack Farchy e Cristiane Lucchesi.

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