O que a nomeação do governo para o comando da Petrobras indica para a estatal

Em entrevista à Bloomberg News em dezembro, Magda Chambriard defendeu a busca de novas fronteiras para o petróleo e mais investimentos em refino: ‘o boom do pré-sal acabou’

Sede da Petrobras no Rio de Janeiro: pressão do governo pelo aumento dos investimentos
Por Mariana Durão - Martha Beck - Simone Iglesias
15 de Maio, 2024 | 05:54 AM

Bloomberg — O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, demitiu Jean Paul Prates, o CEO da Petrobras, após uma disputa sobre o pagamento de dividendos.

A Petrobras disse em um comunicado na noite de terça-feira (14) que Prates deve renunciar oficialmente em uma próxima reunião do conselho de administração.

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A estatal confirmou que o Ministério de Minas e Energia propôs o nome de Magda Chambriard, ex-chefe da ANP, a agência reguladora de petróleo e gás do Brasil, para substituir Prates para CEO, uma indicação do presidente Lula.

Leia mais: Petrobras: após pressão, Jean Paul Prates pede demissão como CEO da companhia

Os recibos de depósitos americanos (ADRs) da empresa caíram mais de 6% após o fechamento das negociações regulares em Nova York na quarta após os anúncios.

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A saída de Prates põe fim a meses de especulações de que seus dias à frente da Petrobras estavam contados. As tensões aumentaram no início deste ano, quando ele se recusou a se alinhar com os membros do conselho nomeados pelo governo, que votaram para reter o pagamento de dividendos extraordinários de bilhões de reais aos acionistas que estavam acostumados com retornos constantes.

Quem é Magda Chambriard

A engenheira indicada para CEO começou sua carreira na própria estatal em 1980 e trabalhou na Petrobras por 22 anos, antes de se mudar para a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ela foi nomeada chefe da agência pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff em 2012 e ocupou o cargo até 2016.

Assim como Prates, Chambriard fez parte da equipe de transição de Lula para a área de energia em 2022. Naquela época, ela já havia sido identificada como uma possível candidata para o cargo principal da Petrobras. A ex-chefe da ANP defendeu a necessidade de o Brasil explorar petróleo em novas áreas, incluindo a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas.

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“O boom do pré-sal acabou. É hora de buscar novas fronteiras para que o Brasil continue produzindo petróleo”, disse ela à Bloomberg News em uma entrevista em dezembro passado.

Chambriard também apoia mais investimentos no refino de petróleo doméstico e quer ver mais commodities processadas no Brasil em vez de exportadas como matérias-primas.

A demissão de Prates marca uma deterioração na governança da Petrobras, e a missão de Chambriard não será fácil, disse o Citigroup em uma nota. Ela “chega com a pressão de cumprir o plano de investimentos e acelerar a expansão de capex da Petrobras”, e isso pode resultar em pagamentos de dividendos menores, afirmou o banco americano.

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A ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, fala da segurança nas plataformas de petróleo em audiência no Congresso em 2015 (Wilson Dias/Agência Brasil)

Preocupação do mercado

A demissão de Prates pode aumentar a preocupação de que a Petrobras, com sede no Rio de Janeiro, esteja sob crescente pressão do Partido dos Trabalhadores (PT), no poder, para ajudar a reativar a indústria brasileira e criar empregos, às custas dos acionistas.

O drama dos dividendos chocou investidores que o viram como um sinal de crescente interferência política na principal nação produtora de petróleo da América Latina.

Depois de semanas de debate, a Petrobras acabou aprovando o retorno de metade de seu caixa disponível aos investidores por meio de um dividendo especial, conforme a diretoria executiva de Prates havia inicialmente proposto. O governo é o maior acionista da estatal, e os dividendos ajudaram a compensar um déficit fiscal em um momento de aumento dos gastos.

Leia mais: Crise dos dividendos da Petrobras deixa lições para os acionistas minoritários

Prates disse à diretoria executiva antes do anúncio oficial que Lula havia pedido sua posição de volta. Em uma mensagem vista pela Bloomberg News, ele disse que sua missão foi “prematuramente interrompida”, atribuindo a culpa a Alexandre Silveira, o ministro de Minas e Energia, e Rui Costa, o chefe de gabinete de Lula, com quem ele havia se desentendido.

Ex-senador pelo partido de esquerda de Lula, com histórico de atuação na indústria do petróleo, Prates se tornou diretor-presidente em janeiro de 2023, pouco depois de Lula reassumir a presidência. A Petrobras teve seis CEOs, incluindo interinos, de 2019 (no início do governo de Jair Bolsonaro) até a nomeação de Prates.

Sob sua liderança, a Petrobras mudou de direção e interrompeu a venda de ativos, buscou proteger os consumidores de flutuações acentuadas nos preços globais do petróleo e destinou bilhões de dólares para investimentos em transição energética. Recentemente, a empresa aumentou o orçamento de seu plano de negócios de cinco anos para US$ 102 bilhões, seu maior plano de gastos desde 2015.

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