O que a Arezzo planeja para resgatar o crescimento da Schutz após ano desafiador

Plano apresentado pelo CEO, Alexandre Birman, ao mercado prevê redução da oferta de produtos, aumento do preço médio, melhora da operação internacional e reforma de lojas

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Bloomberg Línea — O grupo Arezzo (ARZZ3) decidiu mudar o posicionamento da Schutz, uma das suas principais marcas, disse o CEO da companhia, Alexandre Birman, em conversa com analistas na última sexta-feira (8).

A mudança acontece depois de um ano em que a marca passou por troca na gestão, queda do faturamento no mercado externo e fechamento de duas lojas nos Estados Unidos.

A companhia possui um total de 20 marcas de sapatos, bolsas e roupas. Executivos da Arezzo foram questionados por analistas sobre um eventual risco de “canibalização” (perda de receita com a competição entre as próprias marcas) e sobre a necessidade de simplificação do portfólio da maior house of brands de moda do Brasil.

No ano passado, a Schutz teve uma receita global de R$ 1,1 bilhão, abaixo do R$ 1,2 bilhão reportado em 2022. Citando o impacto da “retração das lojas de departamento” no mercado internacional, a Arezzo encerrou as lojas da marca em Nova York (Madison Avenue) e em Los Angeles (Beverly Hills), em dezembro.

No início deste ano, a Arezzo contratou uma agência italiana de branding para “resgatar a essência” da grife, o que inclui uma remodelação arquitetônica das lojas, a redução na oferta de produtos com elevação do preço médio entre 15% e 20% e a inclusão da Schutz em outras categorias, a fim de explorar mais o conceito de lifestyle.

No mercado interno, a Schutz representou 15% da receita bruta do grupo no ano passado, com faturamento de R$ 841 milhões e uma taxa de crescimento (4,4%) abaixo da inflação oficial (4,62%).

Essa participação da grife na receita foi menor do que a registrada em 2022 (17,2%) e 2021 (18,7%), mas de certa forma esperado diante do aumento do número de marcas.

O avanço de um dígito da receita da Schutz em 2023, após uma alta de 38% no exercício anterior, foi um caso isolado entre as principais marcas do grupo Arezzo.

A Anacapri aumentou o faturamento bruto em 21%, enquanto a marca Arezzo cresceu 11,1%. Marcas adquiridas foram o destaque com alta de 26% na AR&Co (marcas do Grupo Reserva) e de 26,5% na Baw.

Segundo o resultado divulgado, o grupo Arezzo fechou 2023 com um crescimento de 8,7% no lucro líquido (R$ 420 milhões), de 16,4% na receita líquida (R$ 6,1 bilhões) e de 22% no Ebitda (R$ 801 milhões), com margem de 16,5% (aumento de 1 ponto percentual ante os 15,5% de 2022).

O encerramento das duas unidades da Schutz nos EUA foi uma medida pontual em um contexto mais amplo, dado que o grupo abriu mais lojas do que fechou no ano passado, totalizando 1.062 unidades entre próprias e franqueadas ao fim do exercício, acima dos 1.013 do final de 2022. A Arezzo registrava ainda 7.878 pontos multimarcas no final de dezembro. Em 2023, tinha 5,6 milhões de clientes.

Birman evitou criar expectativas nos analistas de que o desempenho de Schutz vai surpreender positivamente ainda neste ano, após as mudanças em curso e a inauguração de cinco lojas prevista para agosto. “Não é só apertar um botão. A maturação ocorre no longo prazo. 2025 vai ser um ano brilhante da marca Schutz.”

Além da Schutz, o grupo também opera no exterior a marca Alexandre Birman, que teve uma receita global 34,1% maior no ano passado, em um total de R$ 230 milhões, com impulso dos canais de e-commerce e multimarcas.

O CEO projetou uma recuperação da operação internacional neste ano, após os aprendizados com suas unidades nos EUA no ano passado. “A execução do plano em 2022 e 2023 não atingiu o que queríamos de forma mais rápida. Revisitamos a execução e fizemos uma troca de gestão”, disse.

Birman fundou a Schutz em 1995, aos 18 anos de idade. “Vamos fazer a marca resgatar o desejo de moda que ela sempre teve, mas que foi se perdendo.”

O empresário mineiro de 47 anos, filho do sapateiro Anderson, de 70 anos, fundador da Arezzo, disse que os desfiles das últimas semanas de moda no exterior sinalizaram coleções com mais transparência e feminilidade, inspirando a companhia a resgatar um posicionamento mais sexy da Schutz, que completa 30 anos em 2024.

Fusão com Grupo Soma

Além da reformulação de sua “menina dos olhos”, Birman disse que aguarda o aval regulatório para a proposta de fusão com o Grupo Soma (SOMA3), anunciada em fevereiro, que cria uma gigante no setor de moda com receita bruta anual estimada em R$ 10 bilhões, 34 marcas, mais de 2.000 lojas e 1.500 franquias.

A nova empresa prevista para ser criada, com nome ainda a ser definido após estudos, terá o capital dividido na proporção de 54% para a Arezzo e 46% para o Grupo Soma, liderado por Roberto Jatahy, que será o CEO de uma futura unidade com as marcas femininas.

Birman disse que os advogados esperam a aprovação do Cade, órgão de defesa da concorrência, para abril. Depois viria a convocação de assembleia de acionistas para votação. O processo de integração operacional começaria logo em seguida, com previsão de receita adicional para 2025.

Para a Arezzo, a combinação de negócios com a Soma, dona de marcas como Animale, Hering, Farm Rio e Foxton, deve resultar em uma maior participação das peças de vestuário premium na composição da receita, com aproveitamento de sinergias na produção, distribuição e logística.

Birman prevê três ondas no processo de integração até 2026.

A gestão dos processos industriais também está no foco de 2024. O CEO da Arezzo citou expectativas com a operação recém-assumida no Ceará, que contempla duas unidades fabris que eram da Paquetá Calçados em pequenas cidades (Tururu e Uruburetama) com proximidade da cadeia de suprimentos.

Quanto ao parque de lojas, ele destacou a reforma da loja da Arezzo no Shopping Iguatemi, em São Paulo, que terá um novo projeto arquitetônico. Essa unidade, segundo Birman, vendeu R$ 24 milhões em 2023.

Mercado premium e a visão do sell side

Durante a teleconferência, a analista do Goldman Sachs Irma Sgarz pediu ao CEO da Arezzzo um comentário sobre como a administração enxerga a evolução da receita e das margens da Schutz em 2024 e sobre o que poderia ser feito para evitar um risco de uma “canibalização de marcas”.

Birman destacou a estratégia de maior exposição da marca nos produtos como impulsionador de vendas e a necessidade de preservar a grife em um “mercado mais sofisticado” e de ajustes operacionais adicionais, se necessário.

A Schutz disputa o mercado americano com as marcas Alexandre Birman e Arezzo, que entrou no mercado americano por meio das multimarcas Macy’s e Belk em setembro do ano passado. A companhia informou que, devido ao sucesso de vendas, é previsto aumento no número de canais para 2024.

Relatórios de analistas destacaram a queda de 5,3% nas operações internacionais e de 5% na Schutz no Brasil no quarto trimestre, na contramão de outras marcas, como AR&Co. (+16%), Arezzo (+13%) e Vans (+17%).

Analistas da XP observaram que a margem Ebitda nas operações dos EUA permaneceu “fraca” em -5,7%, com recuo de 1,7 ponto percentual nos últimos seis meses e de 12 pontos percentuais nos últimos 12 meses, apesar de a empresa já ter anunciado o encerramento de duas lojas Schutz.

O Goldman Sachs apontou que o desempenho aquém do esperado no exterior ocorreu também mesmo depois que a Arezzo adquiriu a marca italiana Paris Texas no início do ano passado. O relatório do banco destacou que Schutz “receberá investimentos em branding, arquitetura de loja e desejabilidade, com a administração da companhia destacando o foco em trazer de volta maior feminilidade à marca”.

Já o time de equity research do Itaú BBA avaliou que as vendas mais fracas na operação internacional pesaram nos resultados do trimestre da Arezzo.

O relatório mencionou que Schutz teve o desempenho mais fraco do portfólio e que o aumento da margem bruta decorrente do mix de canais de vendas (mais D2C, direto ao consumidor) e de mais produtos vendidos com preço cheio compensaram parcialmente as despesas mais altas e a queda da margem Ebitda, negativa em 5,7% nos seus negócios fora do Brasil, depois de uma margem positiva de 6,4% em 2022.

Ganho de market share

Por sua vez, o BTG Pactual manteve sua recomendação de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 80. Em seu relatório, o time de equity research do banco de investimento avaliou que a performance da ação da Arezzo deverá ser ditada pelo andamento do processo de fusão com o Grupo Soma e com a captura de sinergias com a integração de marcas, sistemas, processos e culturas organizacionais.

Em 2023, a companhia teve um market share de 38,4% em calçados e bolsas A/B, com expansão de 3,5 pontos em relação a 2022, um faturamento próximo de R$ 12 bilhões e canais de venda com participações similares (25% em e-commerce, 25% em loja própria, 24% em franquia e 27% em multimarcas).

Na última sexta-feira (8), depois da divulgação do resultado e da teleconferência com analistas, a ação ARZZ3 fechou com leve alta de 0,26%, cotada a R$ 58,87. No ano, a desvalorização é da ordem de 6%.

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