O ‘guidance’ não é estático. Podemos acelerar se o cenário permitir, diz CEO do Itaú

‘Não vamos deixar de fazer negócios por excesso de conservadorismo’, disse Milton Maluhy Filho a analistas nesta quinta (6) ao comentar a alta prevista de um dígito na carteira de crédito neste ano

Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco
06 de Fevereiro, 2025 | 03:34 PM

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) indicou nesta quinta-feira (6) que poderá melhorar sua projeção (guidance) de crescimento da carteira de crédito para 2025 caso haja redução das incertezas do cenário econômico.

O maior banco brasileiro deve esperar o final do primeiro trimestre para recalibrar seu apetite ao risco, se necessário.

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Após um crescimento de duplo dígito (15,5%) da carteira de crédito (R$ 1,359 trilhão) em 2024, o Itaú surpreendeu o mercado ao anunciar ontem (5) uma projeção de avanço de um dígito (entre 4,5% e 8,5%) para 2025, sinalizando uma premissa de desaceleração da economia diante do atual ciclo de alta dos juros.

Para conter a alta da inflação e reancorar as expectativas, a taxa Selic está em trajetória de alta desde setembro de 2024. Já foram quatro elevações consecutivas, que levaram os juros de 10,50% para 13,25% ao ano. O mercado espera mais uma alta do juro básico da economia em março.

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“Não estamos antevendo nenhuma crise no crédito devido ao juro alto. Nosso portfólio está protegido”, disse o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, durante teleconferência com analistas nesta quinta, em que houve diferentes perguntas sobre as justificativas para as projeções de 2025.

O executivo buscou reforçar a mensagem de que o banco está preparado para qualquer cenário e que “roda” com um nível adequado de provisões para devedores duvidosos e com modelos aperfeiçoados de gestão de riscos.

O executivo justificou que as projeções para os principais indicadores do banco foram elaboradas com base nas informações disponíveis.

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“O guidance não é estático. Se precisar, podemos fazer um ajuste. Se for o caso, faremos uma revisão do guidance no primeiro, no segundo trimestre. O grau de incerteza ainda é grande. Vai depender muito do cenário”, afirmou o CEO.

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Além do crescimento de crédito, o banco divulgou projeções para custo de crédito (faixa entre R$ 34,5 bilhões e R$ 38,5 bilhões), receita de prestação de serviços e resultado de seguros (crescimento entre 4% e 7%), despesas não decorrentes de juros (aumento entre 5,5% e 8,5%) e alíquota efetiva de IR/CS (entre 26% e 29%).

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Atenção às oportunidades

O executivo disse que o Itaú está confortável com o guidance do custo de crédito e que não pretende perder oportunidades de crescimento da carteira ao longo do ano, diante do entendimento de que está bem posicionado em suas frentes de negócios e em diferentes geografias, com monitoramento, em tempo real, do nível de atividade econômica e das demandas dos clientes.

“Não vamos deixar de fazer negócios por excesso de conservadorismo. Não vamos perder as oportunidades”.

O executivo reconheceu, no entanto, que as operações do banco de atacado, o Itaú BBA, tendem a ser mais contidas - a projeção é a de uma redução de até 40% no volume neste ano.

“Não imaginamos janelas para o mundo de equities. O mercado de ações segue tímido, com casos pontuais.”

Mais cedo, Maluhy Filho destacou à imprensa que o banco terá agilidade em revisar suas projeções no caso de mudança de direção de indicadores estruturais, como a taxa de câmbio.

No fim do ano passado, o dólar chegou a superar o patamar de R$ 6,00, como reflexo de preocupações de investidores com o quadro fiscal do país e em linha com o movimento internacional de fortalecimento da moeda norte-americana com a expectativa de maior protecionismo nos EUA.

“O dólar já voltou a cair, isso tem um efeito inflacionário positivo. O cenário pode ser mais positivo do que estamos olhando. Se o cenário mudar, nossa capacidade de reação será rápida e faremos ajustes necessários. Não vamos ficar esperando um ou dois meses para reagir”, disse o executivo.

Análises

As ações do Itaú abriram em queda na B3 nesta quinta, em reação de investidores às projeções para 2025. Após a teleconferência com analistas, o papel voltou ao terreno positivo com máxima de R$ 34,15 (+0,11%) e então passou a oscilar perto da estabilidade durante a tarde.

“Acreditamos que o Itaú continua divulgando os melhores resultados entre os bancos tradicionais do Brasil, embora os números de lucros, dividendos e guidance não tenham trazido grandes surpresas positivas”, avaliou o Goldman Sachs em relatório. O guidance foi apontado como “fraco”.

Analistas do BB Investimentos alertaram para o risco de um novo ciclo de alta da inadimplência devido ao ambiente inflacionário e ao aumento dos juros, mas ponderou que o banco apresenta diferenciais para enfrentar um cenário macroeconômico mais desafiador do que em 2024.

“Enxergamos o Itaú como um representante bem posicionado para navegar tal cenário adverso, dada sua superior qualidade de crédito, mix equilibrado, público menos suscetível e histórico de execução de políticas de concessão favorável”, escreveu o analista Rafael Reis no relatório.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.