Nunca estivemos tão perto de um acordo com a Americanas, diz CEO do Itaú

Milton Maluhy Filho diz que credores aguardam números do balanço da varejista em 2022 na próxima segunda e que há interesse na sobrevivência da varejista

Por

Bloomberg Línea — A recuperação judicial da Americanas (AMER3) deve entrar em uma nova fase a partir da próxima semana. O CEO do Itaú Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy Filho, disse na manhã desta terça-feira (7) que os credores aguardam nessa data a divulgação dos dados do balanço de 2022, pré-condição para o avanço das negociações.

“Nunca estivemos tão perto de um acordo. Estamos trabalhando para que neste ano se chegue a um acordo”, disse o executivo em conversa com jornalistas para comentar o resultado financeiro do terceiro trimestre do maior banco do país, divulgado na noite de ontem (6).

As ações preferenciais do Itaú subiam 2,98% nesta terça-feira às 13h (horário de Brasília) após a publicação do balanço. Os papéis da Americanas, por sua vez, subiam 3,61% no mesmo horário.

O executivo sinalizou que as negociações estão em um modo que descreveu como construtivo, em um processo iniciado em janeiro, quando a companhia revelou um rombo contábil de R$ 20 bilhões e entrou em recuperação judicial com uma dívida da ordem de R$ 43 bilhões.

“Existe a intenção de todos de preservação de emprego e de sobrevivência da companhia”, disse Maluhy Filho.

O executivo reconheceu o “grau de complexidade” nas negociações de um acordo, visto que são quase 8.000 credores. O CEO do Itaú expressou confiança de um entendimento “com o desenrolar das próximas semanas”.

No balanço do quarto trimestre de 2022, divulgado em fevereiro, o Itaú informou ter provisionado 100% da sua exposição à crise da varejista, com impacto de R$ 1,3 bilhão.

Retomada do crédito

A recuperação judicial da Americanas contribuiu para o maior rigor do sistema bancário no primeiro semestre na concessão de empréstimos às varejistas, devido às desconfianças de supostas fraudes em operações conhecidas como “risco sacado” (antecipação de recebíveis), usadas pelas companhias para financiar suas vendas.

Com a crise da Americanas a caminho dos seus capítulos finais, segundo as expectativas dos bancos, a retomada do crédito virou o novo mote no setor financeiro, depois que os índices de inadimplência firmam um movimento de estabilização.

“O nível de atrasos de pessoas físicas no quarto trimestre deve ter uma redução de 30 basis points [0,30 ponto percentual]”, disse o CEO do Itaú.

No terceiro trimestre, o banco voltou a reportar redução dos indicadores de atrasos nesse segmento.

“O nosso índice de atraso de nossa carteira está estável desde o primeiro trimestre. A despesa com PDD [provisão para devedores duvidosos] ficou flat. Além disso, temos de olhar que a margem financeira líquida, que é a geração de receita menos o custo de crédito, tem tido expansão, entregando rentabilidade”, afirmou o executivo.

A exemplo do que fez na divulgação do balanço do segundo trimestre, o CEO do Itaú deu ênfase em uma melhora de cenário de juros e de inflação como importantes fatores para a avaliação do cenário macroeconômico.

“Temos um conjunto de elementos que nos leva a acreditar e confiar no futuro”, disse o executivo.

Ele vê condições favoráveis para acelerar o ritmo de concessão de crédito para o público-alvo do Itaú, para a recuperação do mercado de capitais com a abertura de uma futura janela de ofertas públicas para captação de recursos pelas companhias - os analistas têm trabalhado com o cenário de fim do jejum de mais de dois anos de IPO (oferta inicial de ações) na B3 em 2024.

Com a esperada retomada das vendas de ações e dos ventos positivos para o mercado de renda variável, o Itaú espera acelerar o crescimento de suas receitas com corretagem e assessoria financeira.

Maluhy Filho destacou ainda que o ciclo de normalização dos juros interno e externamente deve impactar o apetite do investidor para o mercado de private equity. “Isso vai alimentar a abertura de uma nova janela para equity e capital market”, disse.

Diante do excesso de capital reportado no terceiro trimestre, o CEO indicou que, neste mês, o conselho de administração deve analisar proposta de aumento de distribuição de dividendos ou de recompra de ações.

O Itaú aguarda nova regulação do Banco Central para o risco operacional de Basileia 3 para planejar as necessidades de capital em 2024.

Leia também

WeWork pede recuperação judicial e assina pacto com credores para cortar dívida