Nubank supera projeções no 2º trimestre e prevê ganhar mercado em consignado

Ações subiam 4% no after hours na NYSE; banco atingiu 19% em rentabilidade e prevê crescimento e ganho de market share em modalidades de crédito com menos risco

Sede do Nubank em São Paulo
15 de Agosto, 2023 | 09:06 PM

Bloomberg Línea — O Nubank (NU) superou as projeções de analistas consultados pela Bloomberg em seus resultados financeiros do segundo trimestre, divulgados neste início de noite de terça-feira (15), depois do fechamento do mercado. A fintech registrou um lucro líquido de US$ 224,9 milhões, enquanto os analistas estimavam US$ 146,6 milhões. No mesmo período de 2022, houve perda de US$ 29,9 milhões.

Nas negociações depois do fechamento do mercado na Bolsa de Nova York, as ações subiam 3,9% às 20h50. No acumulado de 2022, até o fechamento desta terça, a alta se aproxima de 100%.

Outro destaque foi um ROE (retorno ajustado sobre o patrimônio líquido) anualizado de 19% na holding da empresa. De acordo com o co-fundador e CEO do Nubank, David Vélez, a empresa atingiu essa rentabilidade ao mesmo tempo em que manteve índices de capital regulatório acima dos requisitos mínimos (pelo índice de Basileia). A empresa também possui um caixa de US$ 2,4 bilhões.

Vélez comentou sobre os ganhos do banco em modalidades de crédito mais caras e mais arriscadas, como o rotativo do cartão de crédito, na call com analistas realizada no começo da noite. A estratégia e o crescimento do Nubank em crédito foram alguns dos principais temas da teleconferência (veja mais abaixo).

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“Desde o início, nunca fomos adeptos do modelo de negócios rotativo, pois esse mercado possui complexidades ao longo de toda a cadeia e, em última instância, obriga os emissores a cobrar taxas de juros excessivamente altas. Essa nunca foi a nossa abordagem. Optamos por construir um modelo de cartão de crédito focado em transações”, afirmou Vélez em resposta durante a teleconferência.

O lucro líquido ajustado atingiu US$ 262,7 milhões em comparação com US$ 17 milhões no ano anterior. A receita total foi de US$ 1,87 bilhão, um aumento de 61% em relação ao ano anterior, superando a estimativa de US$ 1,65 bilhão.

Os depósitos totais aumentaram para US$ 18 bilhões, um crescimento de 35% em relação ao ano anterior, superando a expectativa dos analistas de US$ 17,21 bilhões.

A fintech dobrou o número de clientes, passando de 42 milhões da metade de 2021 para 84 milhões ao fim do segundo trimestre de 2023. Em julho, a empresa ultrapassou a marca de 80 milhões de clientes no Brasil, consolidando-se como a quarta maior instituição financeira do país por esse critério, atrás apenas de Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Caixa.

Segundo o Nubank, o aumento na base de clientes foi impulsionado por oportunidades de cross sell (venda cruzada de produtos) e de up sell (venda de produtos mais caros) facilitadas pelo alto engajamento de sua plataforma. Essa estratégia resultou em um aumento de mais de 5 vezes na receita em dois anos, acompanhado por um crescimento de receita de três dígitos no mesmo período.

Potencial em consignado

O lucro bruto trimestral da empresa, calculado deduzindo os custos de financiamento, despesas transacionais e provisões para perdas de crédito das receitas totais, quase quintuplicou ao longo do período. As margens de lucro bruto subiram apesar do aumento na inadimplência de crédito nos últimos 12 meses, graças a uma provisão conservadora para perdas de crédito esperadas.

Questionado por analistas, o COO Youssef Lahrech disse que a cobertura de inadimplência de 90 dias ou mais tem se mantido razoavelmente estável. “A cobertura do saldo geralmente reflete as NPLs [empréstimos vencidos e não pagos] de 90 dias ou mais e tem se comportado conforme as expectativas. Se a frequência de inadimplência melhorar, obviamente as provisões podem se tornar favoráveis, mas nós vamos acompanhar o desempenho real à medida que isso acontecer.”

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Lahrech disse ainda que a fintech teve que integrar diversos contratos diferentes para lançar a oferta de empréstimo consignado. “Nós já fizemos isso. Estamos iterando o produto, garantindo que ele seja ótimo para os consumidores e de fácil compreensão.”

“Estamos nos sentindo cada vez mais confortáveis com o tipo de feedback que recebemos e acredito que começaremos a ver aumentar o ritmo de originação nos próximos trimestres, se tudo correr conforme o planejado. Devemos começar a ver uma demanda significativa. Novamente, este é o maior mercado para lucro em serviços financeiros no Brasil, um mercado muito grande”, disse o COO.

De acordo com Lahrech, as taxas de juros de crédito consignado cobradas pelo Nubank estão de 30% a 40% abaixo das de mercado. “Isso deve nos permitir ganhar uma parcela significativa desse mercado. Mas, novamente, teremos que dar passos graduais e ver como as coisas vão e começar a lançar para toda a base de clientes.”

A fintech também vai lançar o produto de consignado para o INSS e a ferramenta de portabilidade. Segundo a empresa, em um ambiente de queda nas taxas de juros, “a capacidade de transferir empréstimos de outros bancos pode ser uma fonte relevante de crescimento”.

O Nubank não espera que esses empréstimos causem um impacto significativo nos resultados líquidos ou no balanço de 2023, mas algo que será visto de 2024 para frente.

Com a oferta de empréstimo consignado, do INSS e com garantia do FGTS, a fintech espera que esses sejam os produtos mais importantes nos próximos anos em um ambiente de crédito com menor risco.

Crescimento de 54% em crédito com cartões

O volume de compras com cartões aumentou para US$ 26,3 bilhões, um crescimento de 30% em relação ao ano anterior, em uma base neutra. Segundo o Nubank, o aumento nas compras foi impulsionado por estratégias bem-sucedidas de up sell e cross sell, juntamente com maior engajamento dos clientes.

Segundo o banco digital, clientes mais antigos geralmente fazem compras em volumes mais altos, enquanto novos usuários tendem a crescer mais lentamente.

A participação de mercado do Nubank em volume de compras é de cerca de 13,9% do total da indústria, com 14,5% para cartões de débito e 13,6% para cartões de crédito, segundo a fintech.

A carteira de crédito do consumidor, composta por cartões de crédito e empréstimos pessoais, alcançou US$ 14,8 bilhões, um aumento de 48% em relação ao ano anterior. Os empréstimos totais de cartão de crédito mantiveram a tendência de crescimento, com alta de 54% em relação ao ano anterior.

“O aumento das provisões, portanto, está diretamente relacionado ao maior volume de originação de crédito registrado no trimestre”, disse o CFO do Nubank, Guilherme Lago, na conferência com analistas e investidores. “Nossa margem de juros líquida ajustada ao risco atingiu outro recorde de 8%, uma expansão de 140 pontos base trimestre após trimestre e 570 pontos base a mais do que há um ano.”

A carteira de empréstimos aumentou 33% em relação ao ano anterior.

A fintech disse que está focada em aumentar a parcela de empréstimos de cartão de crédito que geram juros. As taxas de retorno ajustadas ao risco para empréstimos de parcelamento representam 19% do total de empréstimos de cartão de crédito.

A empresa disse que está confiante em sua capacidade de manter o crescimento do portfólio de empréstimos. O índice de empréstimos para depósitos aumentou para 35%, otimizando o balanço.

Segundo o Nubank, a receita líquida de juros e as margens de juros atingiram níveis recordes. A eficiência operacional também melhorou, com uma relação de eficiência de 35,4% - ou 29,2% excluindo compensações de negócios compartilhados.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups