Nubank supera estimativas e vê condições de continuar a expandir o crédito

Em call com analistas na noite de terça, CEO David Vélez destacou potencial de cross selling à medida que novos produtos são incorporados à plataforma; ARPAC cresce 18%

The Nubank website on a laptop arranged in Mexico City, Mexico, on Saturday, Aug. 5, 2023. Nu Holdings Ltd., the Brazilian digital bank that counts Warren Buffett's Berkshire Hathaway Inc. among its biggest stockholders, is betting big that its high-yield savings accounts will stoke growth in Latin America's second-largest economy. Photographer: Alejandro Cegarra/Bloomberg
14 de Novembro, 2023 | 10:27 PM

Bloomberg Línea — O Nubank (NU) apresentou um lucro líquido ajustado no terceiro trimestre de US$ 355,6 milhões versus US$ 63,1 milhões no mesmo período de 2022. O lucro líquido foi de US$ 303 milhões, acima da estimativa de US$ 251,4 milhões, enquanto o ROE (rentabilidade sobre o patrimônio) ficou em 21%. O resultado foi divulgado nesta terça-feira (14) depois do fechamento do mercado.

A expansão da carteira de crédito desacelerou, mas executivos do Nubank disseram que enxergam oportunidades significativas para o crescimento no futuro, ainda que isso signifique possíveis taxas de inadimplência mais elevadas.

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Em teleconferência com analistas na noite de terça-feira (14), o CEO David Vélez destacou o que classificou como forte aquisição de clientes no Brasil, superando o crescimento dos cinco maiores bancos combinados nos últimos 12 meses - 17,1 milhões, ou 26%. Ele disse ainda que a expansão internacional no México e na Colômbia tem continuado acelerada, com mais de 1,5 milhão de novos clientes por mês.

“Este crescimento foi alcançado mantendo margens de lucro bruto saudáveis, apesar do aumento da inadimplência de crédito observada no mercado nos últimos 12 meses”, disse Vélez.

“Nossa plataforma continua mostrando seu potencial de cross selling, oferecendo aos clientes soluções abrangentes à medida que continuamos a expandir o escopo e a diversidade de nossas ofertas de produtos.”

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A receita média mensal por cliente ativo (ARPAC, na sigla em inglês) alcançou US$ 10,00, com crescimento de 18% na base anual livre de efeitos cambiais (FXN).

A fintech obteve uma receita de US$ 2,14 bilhões (crescimento de 64% em relação ao ano anterior, superando a estimativa da Bloomberg de US$ 2,02 bilhões) e levou a base de clientes a 89,1 milhões (superando a estimativa de 88,03 milhões). Foram adicionados 5,4 milhões clientes no período, superando a estimativa de 4,24 milhões.

As ações de Classe A do Nubank foram negociadas a US$ 8,83 no fechamento nesta terça, antes do resultado, com ganho de 117% no acumulado do ano. O market cap está em US$ 41,9 bilhões.

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Analistas de mercado projetam um potencial de ganho adicional, com um preço-alvo médio de US$ 9,014, representando um upside de 6,9% em relação ao preço atual.

Nas negociações do after hours, no entanto, as ações recuaram cerca de 4%.

Também nesta terça-feira, a D1 Capital Partners informou que adquiriu uma posição no Nubank, correspondendo a 1,1% das ações Classe A. A gestora americana de fundos hedge relatou dispor de 39,7 milhões de ações, com um valor de mercado de US$ 335,1 milhões.

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Originação de crédito quase dobra

Recentemente o Nubank anunciou um novo produto, o NuConsignado, de empréstimos consignados para aposentados e pensionistas do INSS a uma taxa de juros a partir de 1,35% ao mês.

”O crédito consignado é a maior classe de ativos dentro do financiamento ao consumo no Brasil e também responde por cerca de um terço do lucro do setor varejista no Brasil. Temos um enorme espaço de crescimento”, disseram os executivos do Nubank.

Eles disseram enxergar “oportunidades significativas para continuar a expandir a carteira de crédito no futuro”. Como efeito, por outro lado, isso pode levar a taxas de inadimplência mais altas.

“A nossa carteira de empréstimos pessoais continua a demonstrar uma resiliência impressionante, alinhando-se com as nossas expectativas em termos de qualidade dos ativos e permitindo que o banco melhore constantemente o nosso crédito na subscrição e expanda os nossos níveis de originação”, disse o CFO Guilherme Lago.

No último trimestre, as originações de empréstimos pessoais tiveram um aumento de 93% ano após ano. “Acreditamos que temos oportunidades significativas para expandir nossa participação de mercado nestes produtos de crédito. Ao mesmo tempo, visamos seletivamente nossos clientes mais valiosos.”

Depósitos avançam e ajudam funding

O Nubank expandiu seus depósitos em 26% na comparação ano após ano, atingindo US$ 19,1 bilhões neste trimestre.

“Acreditamos que ainda há amplo espaço para otimização adicional do balanço patrimonial. Nosso custo de captação neste trimestre manteve-se estável em 80% da taxa de depósito interbancário do Brasil (CDI), alinhando-se com nossas expectativas”, disse Lago, complementando que o Nubank prevê uma ligeira queda do custo do financiamento dada a sazonalidade observada no último trimestre do ano.

Os executivos disseram que a vantagem competitiva do Nubank está na manutenção de um custo baixo para navegar.

Inadimplência dentro do esperado

O indicador de NPL (non-performing loans) com empréstimos em atraso de 15 a 90 dias apresentaram leve melhora com queda de 10 pontos base em relação ao trimestre passado, encerrando o período em 4,2%. Já o índice NPL de mais de 90 dias aumentou de 5,9% para 6,1% na base trimestre contra trimestre. “Também estava de acordo com as nossas expectativas”, disseram os executivos.

De acordo com eles, o aumento da provisão para perdas de crédito em US$ 628 milhões no terceiro trimestre reflete o elevado nível de originação de empréstimos durante o período.

“Apesar do aumento nos volumes de provisões, a nossa margem financeira líquida ajustada ao risco atingiu um novo máximo histórico de 9% no trimestre, um aumento de 100 pontos base trimestre após trimestre.”

Negócio no México e na Colômbia

“Continuamos incrivelmente entusiasmados com o México. É um mercado muito grande, com penetração de cartão de crédito de 11%. E vimos um ajuste de produto muito bom ao mercado desde que lançamos há cerca de três anos”, disse Vélez. “Vamos investir mais e acelerar nos próximos meses”, disse sobre a dificuldade de escalar o cartão de crédito no México.

Já do lado do débito, o chamado NuCuenta foi classificado como um sucesso por Vélez. “Abrimos mais de 2,4 milhões de contas.”

As operações no México e na Colômbia são financiadas principalmente por meio de operações como empréstimos sindicalizados e também contribuíram para a ampliação das despesas da fintech com juros.

A fintech disse que obteve mais de 700 mil novos clientes no México durante o trimestre, totalizando mais de 4,3 milhões de pessoas. Na Colômbia, a fintech tem quase 800 mil clientes e se prepara para lançar uma conta poupança até o final do ano.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups