Bloomberg Línea — Quando a marca de 100 milhões de clientes foi alcançada pelo Nubank em maio, o CEO global e cofundador, David Vélez, disse que o banco estava “no primeiro segundo do primeiro minuto do primeiro tempo”. Nesse jogo que está só no começo, portanto, será fundamental contar com os melhores talentos, principalmente na área de tecnologia. Sem perder de vista os valores que o banco julga fundamentais.
Para concretizar esse objetivo, o Nubank (NU) lança nesta terça-feira (20) a sua primeira campanha institucional global voltada para o mercado de trabalho, que pretende reforçar a sua marca empregadora - o employer branding - alinhada aos perfis de profissionais que busca, segundo contou Suzana Kubric, CHRO (Executiva-Chefe de Recursos Humanos) do Nubank, em entrevista à Bloomberg Línea.
“O Nubank evoluiu ao longo dos últimos anos: chegamos a 100 milhões de clientes, fizemos o IPO, estamos em três países, aumentamos o portfólio de produtos... as ambições são enormes. E isso só foi possível graças aos nossos funcionários, aos nubankers”, disse a executiva. São atualmente 8.000 empregados.
“Por outro lado, o Nubank hoje é uma empresa grande. O profissional que busca um emprego não é o mesmo que tocava a campainha na casa que foi a primeira sede e que estava em busca de quebrar barreiras e fazer algo novo. Percebemos que corríamos o risco que passar a atrair perfis de pessoas que só querem um carimbo de empresa grande no currículo, atrás de bons salários”, completou.
“Não queremos ser percebidos como o status quo”, resumiu. “Queremos demarcar o que é o jeito Nu para trabalhar e comunicar isso de uma maneira transparente, que as pessoas saibam que vão se desenvolver e que serão desafiadas, mas que deixarão um legado. É a nossa north star.”
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Entre os pontos que serão destacados na campanha sobre como é trabalhar no Nubank estão a intensidade e a busca por performance, para desmistificar uma possível percepção - equivocada - de que o banco, por oferecer flexibilidade de jornada aos funcionários, é um ambiente com poucas cobranças, disse Kubric. “Temos uma barra mais alta com o objetivo de fazer diferente e de forma eficiente.”
Nesse processo, segundo ela, o Nubank decidiu reexaminar a sua “proposta de valor” tanto aos que já trabalham no banco - e saber se tem conseguido entregar de fato o que foi prometido - como aos que pretende atrair. E também ouvir a percepção das lideranças sobre os atributos como empregador.
O resultado é uma campanha publicitária em que o Nubank busca justamente realçar esses atributos no mercado de trabalho, associados aos principais valores (veja mais abaixo) que direcionam o banco desde a sua fundação em 2013 em uma casa alugada no bairro do Brooklin, em São Paulo.
“Reposicionamos o nosso mote para ‘Faça o extraordinário acontecer. O futuro é roxo’ e lançamos uma campanha em que queremos criar um sentimento de FOMO [Fear of Missing Out, ou Medo de Perder Algo, em tradução livre]”, disse a chefe da área de recursos humanos do Nubank.
No vídeo da campanha, são espalhadas cadeiras ou poltronas roxas em pontos turísticos de São Paulo, de Bogotá e da Cidade do México, em alusão ao efeito pretendido de “lugares vazios que podem ser preenchidos por profissionais dispostos a fazer o extraordinário acontecer”, segundo a executiva.
A campanha vai ao ar em redes sociais e plataformas, como YouTube, Instagram e LinkedIn, e se estende ao longos dos próximos meses, até o começo de 2025.
Na fases seguintes, funcionários prestam depoimentos sobre como é trabalhar no Nubank, tanto do ponto de vista de desafios e das exigências - como citado acima - como do que é intuitivamente mais atrativo, como flexibilidade, em que equipes trabalham presencialmente apenas uma semana a cada trimestre, de modo geral, por exemplo. E, principalmente, contam casos reais relacionados aos valores do banco.
A campanha também estará presente associada a oportunidades de trabalho, com vagas abertas em particular na área de tecnologia, para funções como as de engenheiro de software, cientistas de dados, gerente de produto e as relacionadas ao desenvolvimento de inteligência artificial, além do programa de estágio.
‘O melhor emprego da vida’
Outro objetivo será o de de reforçar e renovar o engajamento de profissionais que já estejam no banco, segundo a executiva, que trabalhou antes na Kantar, na Novartis, na GSK, no Greepeace e na Unilever.
Com essa finalidade, segundo ela, o banco já faz uso sistemático de ações como dispor de dois ciclos anuais de promoções, em que 8% do quadro pessoal é impactado. E, ao longo do ano, funcionários podem se candidatar a vagas abertas, o que beneficia outros 5%. Tudo isso somado, segundo a head de RH do Nubank, cerca de 20% dos colaboradores acaba sendo promovido a cada ano.
“Temos políticas para desenvolver e valorizar os funcionários, mas, ainda assim, o número de cargos cresce tão rapidamente que essa vazão não é atendida. Precisamos também de talentos de fora.”
Ao longo da campanha e depois do seu término, o banco analisará diferentes métricas para avaliar se os objetivos pretendidos foram alcançados, o que inclui pesquisas internas de clima.
“À frente da área de P&C [People & Culture], trabalhamos também para reduzir a complexidade do trabalho das pessoas, que precisa ser tão intuitivo e simples como a navegação que buscamos oferecer aos nossos clientes, para que seja coerente com a nossa proposta”, afirmou.
O sonho grande, segundo ela, é “que o Nubank seja o melhor emprego da vida das pessoas”.
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O novo posicionamento acontece no momento em que, não por acaso, o Nubank superou a marca simbólica de 100 milhões de clientes em seus três mercados, Brasil, Colômbia e México.
“No Brasil, temos indicadores que atestam que temos uma marca empregadora forte, como awareness e níveis altos de aceitação de propostas por novos colaboradores. Na Colômbia e no México, ainda não. Vai ser uma evolução na medida em que o banco cresça e seja mais conhecido”, disse Kubric. “Nos dois países, a campanha vai ser muito importante, além de mercados externos em que buscamos contratar profissionais.”
Alinhamento aos valores
Na busca pelos melhores profissionais, o Nubank quer comunicar também as suas exigências, segundo a chefe de recursos humanos. “Um ponto muito importante para nós é atrair perfis de pessoas que estejam alinhados aos nossos valores, como querer desafiar o convencional.”
Esse perfil se reflete, por exemplo, segundo ela, em profissionais que buscam “questionar e atacar a complexidade de produtos e serviços financeiros para que isso simplifique a vida dos clientes”.
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“Nós acreditamos que os clientes compram também a nossa cultura e o que representam a nossa marca e a nossa estratégia.”
A executiva disse que a atração dos melhores talentos aderentes aos perfis desejados resulta em um ambiente propício ao desenvolvimento de melhores soluções, com atenção também para a importância da diversidade de gênero e raça e de pontos de vista para que as discussões se tornem mais plurais.
No caso do Nubank, segundo a chefe para o RH, ações concretas são tomadas para que os valores não se tornem apenas frases de efeito “na parede”.
Um exemplo é o valor de “agir como se fosse dono”, reforçado por meio da distribuição de ações do banco para todos os funcionários como parte do pagamento de bônus, e não apenas para aqueles de níveis mais altos, em geral acima de cargos de gerência, como é comum no Brasil.
Relacionado a esse valor está o da busca por eficiência - chamado em inglês de smart efficiency -, para que isso se reflita em operar e oferecer serviços a custos mais baixos, com produtividade. Isso se traduz na ponta final em tarifas mais baixas para os clientes - um dos diferenciais competitivos do Nubank versus as estruturas de custos e de quadro pessoal mais onerosas de bancos incumbentes, por exemplo.
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São ao todo cinco valores que servem como pilares da cultura e que são reforçados por meio de medidas concretas, de premiações periódicas de cases que melhor representam cada um até reuniões trimestrais lideradas por Vélez com as novas contratações para falar desse tema.
Outras iniciativas recentes relacionadas com o momento do Nubank também buscaram estimular uma reflexão justamente sobre a evolução da cultura corporativa, que envolveu líderes seniores com muitos anos de casa e também aqueles recém-chegados.
No fim, segundo Kubric, a conclusão é que os valores pregados no começo da empresa continuam atuais, ainda que a forma de executá-los e o reflexo em comportamento tenha mudado.
No fim do dia, o desafio é maximizar o negócio de olho no longo prazo, e não no curto, ressaltou a executiva que lidera a área de pessoas e talentos do Nubank ao se referir aos objetivos da campanha.
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