Nubank quer ir além do ‘pejotinha’, mas sem pressa para mirar ‘middle market’

CEO do banco no Brasil, Livia Chanes diz em evento que estratégia de avanço no segmento tende a reforçar também a expansão entre clientes pessoa física de renda mais elevada

Livia Chanes, CEO do Nubank no Brasil
27 de Março, 2024 | 08:29 PM

Bloomberg Línea — O Nubank (NU) começou a emprestar capital de giro sem exigência de garantia real para PJ (pessoa jurídica) no estado de São Paulo nas últimas semanas em fase de testes, como parte da estratégia de monetizar mais sua base de clientes. O foco são empresas com até R$ 10 milhões em receitas anuais.

A iniciativa expõe mais o banco digital ao risco da inadimplência, mas é vista como um passo importante para ganhar escala e avançar no segmento de PME (pequenas e médias empresas), em que disputa fatia de mercado com grandes bancos e fintechs como Inter (INBR32), C6 Bank, PagBank (PAGS34), PicPay, Cora, Mercado Pago (MELI34), entre outros.

A oferta de produtos ainda é restrita na conta PJ do Nubank, lançada em 2019. O capital de giro, que ainda será liberado para clientes de outros estados brasileiros, é a segunda opção de empréstimo disponível para esse segmento, depois do cartão de crédito.

A CEO do Nubank no Brasil, Livia Chanes, não forneceu uma previsão para a adição de novas modalidades de crédito, como capital de giro com garantia, boletos e duplicatas, ou de produtos de tecnologia mais sofisticada como câmbio (é apenas parceiro da Remessa Online) e soluções de pagamento e adquirência, hoje limitadas a uma parceria com a Zoop no serviço tap to pay (transação por aproximação no celular). Ela disse que a operação existente já é rentável por meio de receitas com os produtos disponíveis.

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“Pretendemos escalar nos próximos anos. Estamos começando com a modalidade sem garantia, equivalente ao empréstimo pessoal para pessoa física”, disse a executiva nesta quarta-feira (27).

O Nubank tinha 2,2 milhões de contas ativas de PME no fim de 2023, com avanço de 57% na comparação anual, de um total de 4 milhões de contas (ativas e inativas) no segmento. A base total tem avançado gradualmente: eram 3,5 milhões de contas ao fim de 2023 e 2,5 milhões ao fim de 2022.

Para uma conta ser considerada ativa, é necessário que o cliente tenha gerado alguma receita nos últimos 30 dias para o banco.

Como um todo, o Nubank tinha 78 milhões de contas ativas (PF e PJ), segundo o balanço de 2023. Este último número representou crescimento anual de 27,5%. Em fevereiro, a instituição projetou superar a marca de 100 milhões de contas (ativas e inativas) em sua plataforma ainda em 2024, acima dos 93,9 milhões em 2023.

No ano passado, houve um aumento de 26% no número total de contas em relação ao período anterior (74,6 milhões). Em janeiro, essa base alcançou 95 milhões. A taxa de atividade mensal melhorou, de 81,9% em 2022 para 83% em 2023.

Além do capital de giro, o Nubank passou a oferecer mais dois produtos para pessoas jurídicas: emissão de notas fiscais pelo portal web e acesso compartilhado à conta.

O avanço em PJ ocorre em um momento em que o Nubank mira crescer em clientes pessoa física com maior poder aquisitivo. A executiva citou pesquisas que apontam que 75% dos clientes abrem conta PJ em instituições financeiras em que já possuem uma conta para pessoa física.

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Mas não significa, por outro lado, se aproximar de uma estreia no segmento de empresas de médio (middle market) ou grande porte (corporate), que em geral são mais rentáveis.

“Não vamos ainda para o middle market. Focamos nas pequenas empresas, e não no corporate”, disse Chanes, sem descartar que no futuro o neobank mire também esses segmentos de maior porte. Empresas classificadas como middle market chegam a ter receitas anuais a partir de R$ 100 milhões, a depender da instituição financeira.

Entre as três prioridades para 2024, reveladas pelo CEO global e cofundador David Vélez em teleconferência recente com analistas, está expandir o negócio de empréstimos no Brasil, com e sem garantia, além de aumentar o share of wallet (o quanto o cliente gasta) no segmento de alta renda no Brasil e elevar os depósitos em moeda local no México e na Colômbia.

A estratégia do Nubank em clientes PJ, a exemplo de outras instituições, se insere no contexto do crescimento de um segmento que ganhou força antes mesmo da fundação da fintech em 2013.

Em 2008, o Congresso criou a figura do MEI (Microempreendor Individual) para formalizar profissionais autônomos. O Brasil possui mais de 39 milhões trabalhadores informais, que representam 39% da população ocupada, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“O negócio para empreendedores nasceu da solicitação das pessoas físicas. No início da conta PJ em 2019, o foco era o MEI. Crescemos essa base com o boca a boca de contadores e gerentes de bancos. Hoje temos clientes com faturamento anual de R$ 5 milhões”, disse a CEO.

No meio bancário, por sua vez, o termo “pejotinha” (diminutivo de PJ) para se referir ao MEI ou uma pessoa física contratada como jurídica se popularizou nos últimos anos após a entrada em vigor da reforma trabalhista em 2017, que flexibilizou os contratos de mão-de-obra.

“Os bancos segmentam e chamam de pejotinha. Cada instituição tem um nome diferente para esse segmento”, observou Chanes.

No Nubank, o risco da inadimplência não chega a ser tratado como algo preocupante, segundo a CEO. No quarto trimestre, o índice de atrasos acima de 90 dias se estabilizou em 6,1%, igual ao do terceiro, após subir por seis trimestres consecutivos (era de 3,1% no início de 2022). A título de comparação, no Itaú Unibanco (ITUB4), maior banco privado do país, esse indicador ficou em 2,8%.

“Estamos tranquilos com a inadimplência. Não nos preocupa. Temos um modelo dinâmico de controle de risco”, afirmou Chanes.

Em fevereiro, Vélez também abordou o tema da inadimplência com analistas: “Há oportunidades significativas para continuarmos a expandir nossa carteira de empréstimos, ao mesmo tempo em que buscamos retornos atraentes e resiliência de crédito robusta”.

“Isso pode resultar em taxas de inadimplência intencionalmente mais altas, mas nosso objetivo é garantir que elas possam ser mais do que compensadas por receitas adicionais, resultando em margens de juros líquidas ajustadas ao risco mais altas”, completou sobre o racional.

A CEO no Brasil também justificou a aposta da instituição no segmento PJ ao citar oportunidades diante do nível de satisfação de clientes com os serviços prestados por outras instituições.

“O NPS [Net Promoter Score, indicador que mede a satisfação de clientes] mostra que esse segmento não é bem atendido nos bancos”, disse Chanes.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.