Bloomberg Línea — Após ultrapassar a marca de 100 milhões de clientes neste mês, o Nubank (NU) espera acelerar o ritmo de crescimento da sua base e da receita com uma maior oferta de produtos, que vai além de uma prateleira de serviços financeiros.
A meta é se tornar uma plataforma ampla de consumo, com foco na expansão internacional, no avanço tecnológico e na redução dos custos, com o aumento de eficiência operacional.
Essa foi a principal mensagem dos três fundadores do banco digital, o colombiano David Veléz (CEO), a brasileira Cristina Junqueira (Chief Growth Officer) e o americano Edward Wible, em encontro com jornalistas brasileiros e estrangeiros nesta quarta-feira (15) na sede da instituição financeira, em São Paulo.
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O resultado do primeiro trimestre, divulgado na quarta-feira (14), apontou um crescimento anual de 136% do lucro líquido ajustado do Nubank, que totalizou US$ 442,7 milhões. Em 12 meses, a margem líquida ajustada subiu de 11% para 16%, embora esse percentual seja menor do que o do quarto trimestre (17%).
No final de março, antes de alcançar o número de 100 milhões, o neobanco registrava 99,3 milhões de contas, alta anual de 26%. Desse total, 83,2% eram ativas, ou seja, geraram alguma receita em 30 dias. Essa taxa de atividade superou a do primeiro (82,1%) e a do quarto trimestres de 2023 (83,1%).
“Temos a maior base de clientes digitais da América Latina. A marca de 100 milhões de clientes parece muito pouco, mas representa 1,25% da população mundial e 50% do total de brasileiros”, disse Vélez, após relembrar o período inicial da operação do banco, quando tinha apenas 100 clientes.
Na Bolsa de Nova York, as ações do Nubank fecharam em alta de 4,68%, a US$ 12,09. Em 12 meses, a cotação praticamente dobrou.
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Também presente no evento, Livia Chanes, CEO do Nubank no Brasil, apresentou as próximas apostas do banco digital para ganhar participação e diversificar sua prateleira de produtos e serviços.
Isso inclui investimentos para atrair mais o público de média e alta renda, bem como pequenas e médias empresas, além da possibilidade de abertura de contas por crianças a partir de 10 anos de idade, com controle parental.
No Brasil, o Nubank possui 92 milhões de contas, sendo 4 milhões de pessoas jurídicas — segmento que ganha relevância na composição da receita. Em março, a conta PJ começou a contar com a oferta capital de giro.
“Seguimos adicionando aproximadamente 1,5 milhão de clientes totais por mês”, disse Chanes, destacando ainda a estratégia de agregar cada vez mais serviços não-financeiros em ofertas para expandir uma plataforma de consumo.
Ampliar as opções de crédito tem sido um dos principais trabalhos da CEO, que citou produtos recentes com algum lastro de garantia, como o empréstimo consignado e a antecipação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O banco tem investido na marca Ultravioleta para atrair clientes de alta renda com oferta de um cartão de crédito em metal, da bandeira Mastercard Black, mas Chanes considerou que essa missão ainda está no início da jornada.
“Já vemos um crescimento de 100% da base e do volume de compras em 2024 e já temos o melhor NPS [métrica de satisfação do consumidor] da indústria nesse segmento”, afirmou a CEO.
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A exemplo do C6 Bank, banco digital que tem o JPMorgan Chase como sócio e mira a alta renda, o Nubank também usa a oferta de telefonia móvel no pacote de benefícios a fim de fidelizar clientes de alta renda.
Uma das diferenças da “prateleira” entre os dois neobancos é que o Nubank inclui oferta de criptoativos em sua plataforma, uma categoria de produtos que o C6 diz que nunca deverá explorar.
Segundo Vélez, o Nubank tem mais de 17,1 milhões de usuários que negociam criptoativos, um número em tendência crescente.
“Acreditamos muito no bitcoin. Nossa estratégia é escolher poucos ativos em que confiamos no potencial. Estamos expandindo nossa estratégia de cripto, mas nunca vamos oferecer 30, 40 ativos digitais. Há coisas que nunca entregaríamos aos nossos clientes”, disse o CEO.
Já Vitor Olivier, CTO do Nubank, destacou o uso de IA Generativa pelo banco digital para a integração de dados, controle de riscos, iniciativas de segurança e customização de conteúdo para atendimento ao cliente. Em 2023, o Nubank lançou 45 produtos e funcionalidades, segundo ele.
“Colocamos a agência bancária no celular, no bolso das pessoas. Para que haja uma entrega contínua, tivemos de evoluir sistemas, gestão de testes de controle, de incidentes como fraudes. Por mês, 6 bilhões de eventos são avaliados como risco de fraude. Você só pode dirigir rápido se testar os freios”, comparou Olivier.
México e Colômbia: alavancagem operacional
Vélez e Junqueira destacaram ainda o potencial de crescimento no México e na Colômbia, que ainda não atingiram o breakeven (ponto de equilíbrio entre despesas e receitas), antevendo que essas duas operações devem se tornar rentáveis nos próximos anos com a maturação do investimento. Os fundadores também falaram dos planos de levar a plataforma para outros países da região, sem especificar.
“O México está provando que nosso modelo de banco digital tem capacidade de cruzar fronteiras, se replicar. Somos uma tese global, e não uma idiossincrasia brasileira”, resumiu o CFO do Nubank, Guilherme Lago.
Quanto ao aumento da inadimplência de curto prazo (menos de 90 dias) observado no primeiro trimestre (de 4,1% para 5% em 12 meses), o CFO disse que a sazonalidade do período explica o indicador, que veio dentro do esperado e do previsto pelos modelos de monitoramento de risco de crédito.
“Não é um sinal amarelo para retrair o crescimento do crédito. Não fomos surpreendidos. Nosso objetivo não é minimizar a inadimplência, mas maximizar a margem líquida ajustada pelo risco. Se a receita for maior que o custo financeiro, vamos oferecer crédito. Temos uma boa dose de resiliência”, afirmou o CFO.
Após a divulgação do balanço, o Goldman Sachs, em relatório enviado a clientes, manteve a recomendação de compra para a ação do Nubank, com preço-alvo de US$ 15.
A equipe de analistas liderada por Tito Labarta citou os planos do banco digital de expandir sua margem líquida de juros (NIM) acelerando a concessão de crédito no México, além de oportunidades de crescimento com empréstimos ao segmento de pequenas e médias empresas.
“Continuamos construtivos quanto à combinação de crescimento e lucratividade da Nubank daqui para frente”, concluíram analistas no relatório.
Valor da marca
Cristina Junqueira destacou o ritmo de valorização da marca na última década, comparando com nomes tradicionais.
A cofundadora citou um estudo da Kantar, consultoria especializada em dados e análises de marketing, que apontou, em março, o Nubank como a quinta marca mais valiosa do país (US$ 4,56 bilhões), em ranking liderado pelo Itaú (US$ 7,40 bilhões), seguido por Brahma (US$ 6,66 bilhões), Skol (US$ 5,86 bilhões) e Claro (US$ 5,71 bilhões).
“Somos uma marca que tem apenas dez anos, a idade da minha filha mais velha. Estamos nesse grupo que tem marca centenária”, disse a Chief Growth Officer.
Já Wible, que não ocupa cargo C-Level na companhia, reforçou a ideia de que a tecnologia adotada pelo Nubank desde o início de sua operação buscou facilitar o ganho de escala e que essa decisão inicial permitiu um “crescimento inimaginável” de sua plataforma nos últimos anos.
“Vamos criar um banco digital do nada para competir com os bancos grandes? Lembro ter dito: precisamos de solidez para conquistar a confiança para cuidar do dinheiro do cliente e da escalabilidade, de uma tecnologia madura e robusta para isso”, rememorou o engenheiro de software.
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