Nubank mal começou sua expansão global, diz David Vélez sobre planos do banco

CEO global e cofundador do banco digital presente no Brasil, na Colômbia e no México diz em entrevista à Bloomberg News que estão ‘no primeiro segundo do primeiro minuto do primeiro tempo’

David Vélez, CEO global e cofundador do Nubank
Por Daniel Cancel
22 de Maio, 2024 | 10:13 AM

Bloomberg — Quando David Vélez elaborou sua apresentação de PowerPoint sobre o conceito por trás do Nubank, há mais de uma década, o objetivo era virar o jogo em um setor bancário liderado por players estabelecidos como o Itaú Unibanco.

Agora, o Nubank é um dos maiores bancos digitais do mundo, com mais de 100 milhões de clientes, e por um breve momento na semana passada - enquanto Vélez falava em um evento da empresa sobre outro trimestre recorde -, ultrapassou o Itaú (ITUB4) como instituição financeira mais valiosa da América Latina.

Quer isso aconteça na próxima semana ou no próximo ano, o Nubank parece caminhar para se consolidar como o maior banco da região aos olhos dos investidores globais.

“É uma grande validação da tese e do modelo que defendemos”, disse Vélez, de 42 anos, em entrevista à Bloomberg News. “Fomos ignorados, ridicularizados e tivemos que lutar durante uma década contra o ceticismo generalizado. Acho que finalmente o mercado está começando a compreender os primeiros princípios por trás da tese que estamos expondo.”

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No evento realizado na sede do Nubank (NU) em São Paulo - onde tudo tem um tom de roxo -, Vélez comandou o palco, alternando idiomas ao cumprimentar os clientes em um telão.

A mensagem de Vélez durante o evento de três horas foi que o banco digital está apenas começando.

“Estamos no primeiro minuto do primeiro tempo”, disse Vélez em analogia ao tempo de um jogo de futebol. Em termos globais, “estamos no primeiro segundo do primeiro minuto do primeiro tempo”.

Vélez, nascido na Colômbia, é o CEO global e presidente do conselho. Depois de se formar na Universidade Stanford, ele trabalhou em empresas de capital de risco, incluindo a Sequoia Capital, antes de se tornar o empresário de tecnologia mais rico da América Latina, com um patrimônio líquido de cerca de US$ 11,8 bilhões, de acordo com dados do Bloomberg Billionaires Index.

“Tenha uma ideia realmente boa e persista nela por muito tempo”, disse ele, citando Charlie Munger, o parceiro de investimentos e braço direto de Warren Buffett por décadas, que morreu no fim de 2023.

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Desde sua estreia em 2013, o número de clientes do Nubank já cresceu para mais da metade da população adulta do Brasil e a empresa rapidamente entra em áreas como empréstimos com garantia, seguros, serviços para pequenas empresas e constrói uma plataforma de varejo em seu aplicativo. Enquanto tenta replicar seu sucesso no México e na Colômbia, as ambições de Velez vão muito além desses mercados.

Nada menos do que mudar o jogo dos serviços financeiros globais.

A vasta maioria do mercado de serviços financeiros, de US$ 6,5 trilhões, continua nas mãos dos players estabelecidos, disse ele na apresentação. No setor de pagamentos, em que as fintechs têm mais penetração, os novos participantes ainda respondem por apenas 6,3% do mercado.

Até o final do ano, o Nubank deve enxergar uma trajetória para a lucratividade no México e na Colômbia, o que permitiria anunciar seus próximos mercados de expansão, disse Vélez. Com o tempo, a empresa será capaz de expandir para mais regiões em um ritmo mais rápido, disse ele.

No primeiro trimestre, a receita do Nubank saltou 64% em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 2,7 bilhões. O lucro aumentou 167%, para US$ 379 milhões.

As ações subiram cerca de 44% neste ano e perto de 80% nos últimos 12 meses. A empresa, que abriu capital no final de 2021, vale agora mais de US$ 57 bilhões.

David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible (os três primeiros a partir da esquerda), cofundadores do Nubank, com outros executivos do banco em evento no último dia 15 de maio na sede em São Paulo (Fonte: Bloomberg)

Quando questionado sobre se a empresa conseguirá continuar a apresentar resultados melhores um trimestre após o outro, Velez citou 1,5 milhão de novos clientes por mês, o aumento da receita por cliente e uma estrutura de custos fixa como razões para estar otimista.

“Mais receita com uma estrutura de custos plana significa uma oportunidade bastante significativa de ver o lucro líquido aumentar por um longo tempo”, disse ele na entrevista.

“Mais ou menos 50% das pessoas que trabalham no Nubank hoje trabalham em produtos que geram receita zero. Portanto, embora sejamos lucrativos, estamos investindo muito dinheiro no crescimento futuro e esperamos que muitas dessas apostas deem certo.”

O Nubank nomeou a cofundadora Cristina Junqueira como executiva-chefe de crescimento (CGO, na sigla em inglês), responsável por impulsionar novos mercados. Junqueira, que é provavelmente a fundadora de negócio de tecnologia mais bem-sucedida - e rica - da região, recorda de que, no início do banco, atendia todas as chamadas de suporte ao cliente a partir do seu celular.

Apesar dos progressos iniciais, não há garantia de que o sucesso obtido no Brasil será replicado em todos os outros mercados.

O crescimento do Nubank no Brasil terá que ser por meio de uma gama mais ampla de serviços por cliente à medida que se aproxima de um nível de maturação do número de contas. Alguns dos novos alvos incluem adolescentes menores de 18 anos e clientes de alta renda.

No México, a empresa trabalha com as autoridades para obter uma licença bancária, em meio a uma maior concorrência no espaço de fintechs. Os tetos de juros na Colômbia se mostram difíceis de navegar para desenvolver seu negócio de crédito no país.

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“O risco é que atender a expectativas tão elevadas não seja necessariamente do interesse do Nu”, escreveram analistas do BTG Pactual liderados por Eduardo Rosman em um relatório de fevereiro. “Somos construtivos quanto ao futuro do Nu, mas continuamos um pouco preocupados com o preço da ação e o valuation, e tememos que os investidores avaliem o Nu como se estivesse em uma corrida.”

A má notícia no balanço da empresa foi um salto maior do que o esperado nos empréstimos inadimplentes no trimestre, que os executivos atribuíram à sazonalidade e a um esforço mais agressivo para expandir a carteira de crédito.

Além dos primeiros investidores como Sequoia, Tencent e Berkshire Hathaway, de Buffett, fundos globais têm construído posições maiores ultimamente.

Uma recente campanha publicitária transmitida por meio do Las Vegas Sphere para marcar 100 milhões gerou curiosidade sobre se o Nubank estaria preparando uma possível expansão nos EUA.

“Parece muito, mas 100 milhões é muito pouco”, disse Vélez no evento. “Temos décadas pela frente para continuar renovando tudo o que temos construído há doze anos e para liderar esta grande transformação dos serviços financeiros globais.”

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