Bloomberg Línea — O Nubank vai entrar em um dos segmentos de crescente disputa da indústria de serviços financeiros: a conta global. O banco digital, um dos maiores do mundo, acertou uma parceria com a fintech britânica Wise para oferecer o serviço bancário inicialmente para clientes de alta renda, que estão no segmento chamado Ultravioleta, como parte da estratégia declarada de avançar nessa frente (veja mais abaixo).
O serviço, anunciado ao mercado nesta segunda-feira (8) com fase de pré-inscrição para clientes do segmento, estará disponível nas próximas semanas inicialmente para a finalidade de viagens ou alocação de reservas em dólar ou euro. Não houve anúncio - por ora - de investimento no exterior.
“O segmento de viagens é prioritário para o público de alta renda e entramos nele com os diferenciais Ultravioleta que os clientes já conhecem”, disse a CEO do Nubank no Brasil, Livia Chanes, em comunicado. A executiva fez referência a duas funcionalidades que pretendem ser atrativos da conta global do Nubank, cujo serviço é lançado depois de diferentes concorrentes.
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O principal, dada a ausência desse serviço hoje no mercado doméstico, é a internet gratuita em uma viagem internacional. O Nubank vai oferecer a clientes da conta global 10 GB de internet válidos por 30 dias em mais de 40 países, com um chip virtual (eSIM) que pode ser ativado uma vez por ano.
O banco digital também espera atrair clientes com uma tarifa de conversão que estará entre as mais baixas do mercado, equivalente a 0,9% do valor usando a cotação comercial - há taxas que chegam a 2%.
A Wise, uma das maiores fintechs de câmbio e remessas do mundo, cobra a partir de 0,82% de clientes para conversão em dólar. Há ainda a alíquota de 1,1% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para transações de mesma titularidade, que se aplica a clientes de qualquer instituição financeira. A parceria com o Nubank foi acertada com o serviço chamado Wise Platform.
A conta global de banking do Nubank (NU) terá um cartão de débito associado com cobertura em mais de 200 países e territórios. Não haverá taxa de emissão do cartão, para abertura ou manutenção da conta global para clientes Ultravioleta, o que sugere que o serviço poderá ser disponibilizado para a base mais ampla de clientes posteriormente - o banco não quis abrir essa informação.
Haverá ainda como serviço dois saques gratuitos em moeda estrangeira por mês, sem limitação de valor.
De fintechs a incumbentes
O segmento de conta global para clientes e investidores de varejo começou a ganhar “tração” nos últimos anos com o início da oferta por fintechs, neobanks e grandes bancos. A pioneira foi a Avenue, fundada por Roberto Lee, que lançou a empresa em 2018 com a visão de que haveria demanda e necessidade pelo serviço até então disponível apenas para clientes de private banking e wealth management.
A Avenue entrou naquele momento com o serviço de corretora para investimentos nos Estados Unidos tanto para clientes pessoas físicas como empresas. Conta atualmente com mais de 800 mil clientes e mais de US$ 3 bilhões em ativos sob custódia (AuC), segundo informações em seu site.
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Nos anos seguintes, neobanks como C6 Bank, BS2 e Inter, fintechs nacionais como a Nomad e globais como Wise e Revolut, especializados em investimento como BTG Pactual e XP, e incumbentes como Itaú (ITUB4) - que veio a acertar a compra de 50,1% da Avenue em julho de 2022 - e Bradesco lançaram o serviço. Cada um com sua estratégia e oferta específica de conta global com ou sem investimentos.
O Nubank não quis comentar sobre os próximos passos eventuais da conta global, como a oferta de investimentos no exterior ou vantagens associadas ao marketplace de viagens.
“Estamos sempre em busca de oportunidades para melhorar a experiência dos nossos clientes, e os desenvolvimentos da conta global serão comunicados no momento oportuno”, disse o Nubank em resposta ao questionamento da Bloomberg Línea sobre novos serviços da conta global.
O banco também não quis estimar o tamanho da demanda esperada pelo serviço mas disse “é natural que novas pessoas se atraiam pela oferta da conta global e os demais produtos do portfólio Ultravioleta. Estamos preparados para atender essa demanda”, em resposta sobre o aumento da base.
Avanço em alta renda: 60% dos clientes
O crescimento da base de clientes de alta renda, que permitem rentabilizar mais a operação devido aos gastos associados, foi alçado ao status de prioridade estratégia no início de 2023 pelo Nubank, cuja base total de clientes chegou a 95 milhões no Brasil, na Colômbia e no México ao fim do mesmo ano.
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Segundo o banco, é uma estratégia cujos esforços “levarão tempo, mas serão recompensados no longo prazo”, conforme disse o cofundador e CEO global do Nubank, David Vélez, na call de resultados do quarto trimestre de 2023, realizada no fim de fevereiro.
Segundo Vélez, o banco decidiu segmentar essa base em duas faixas: Super Core, que abrange clientes com renda mensal entre R$ 5.000 e R$ 12.000; e Alta Renda, acima de R$ 12.000. E já conta com 70% e 60% dos clientes de cada segmento, respectivamente. “Nossa principal oportunidade é aumentar nossa participação no mercado entre os clientes que já temos em nossa base”, disse na ocasião.
É a referência ao conceito da “principalidade”, que ganhou força no momento em que, devido à facilidade de abertura e uso de contas, consumidores possuem relacionamento em diferentes bancos e fintechs. O desafio é aprofundar essa relação para se tornar a principal instituição do cliente.
Vélez destacou alguns números do avanço do Nubank entre clientes de alta renda: “em especial, o nosso volume de compras com cartões de crédito Ultravioleta aumentou de US$ 0,5 bilhão no 4T22 para US$ 1,1 bilhão no 4T23, um crescimento de 104% em comparação ao ano anterior”.
“Os clientes Ultravioleta duplicaram nesse mesmo período e a perceção da nossa imagem melhorou substancialmente em todo o segmento”, disse o CEO, citando o aumento do NPS dessa base que, segundo ele, é o mais elevado entre consumidores desse segmento no mercado nacional.
As ações do Nubank têm sido negociadas na NYSE (Bolsa de Nova York) próximas do all-time high e encerraram a última sexta-feira (5) a US$ 11,98, com alta acumulada de quase 50% neste ano e da ordem de 165% em 12 meses. Com valor de mercado de US$ 56,8 bilhões (cerca de R$ 285 bilhões), o Nubank se aproxima do Itaú (R$ 300 bilhões) como banco brasileiro mais valioso.
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