Novo Nordisk: vendas de Wegovy vêm abaixo do esperado enquanto concorrência se acirra

A Novo, da Dinamarca, está disputando com a americana Lilly a supremacia no negócio em forte crescimento da indústria farmacêutica: os medicamentos para obesidade

No 2º tri, as vendas de Wegovy foram de 11,7 bi de coroas dinamarquesas, abaixo da estimativa média de 13,7 bi
Por Naomi Kresge
07 de Agosto, 2024 | 09:23 AM

Bloomberg — As ações da Novo Nordisk sofreram a maior queda em dois anos, uma vez que as vendas do Wegovy, seu popular medicamento para perda de peso, decepcionaram os investidores, um raro revés para uma farmacêutica que, até recentemente, tinha o mercado praticamente só para si.

A receita do medicamento foi afetada por descontos mais altos do que o esperado para farmácias dos EUA, disse o diretor financeiro Karsten Knudsen em uma teleconferência com jornalistas.

Ele disse que se tratava de um fator pontual, mas o tamanho do déficit levantou preocupações entre os investidores sobre a crescente pressão sobre os preços, à medida que a concorrência da rival norte-americana Eli Lilly se acirra.

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As ações da Novo caíram até 7,7% na manhã desta quarta-feira (7), sua maior queda intradiária desde agosto de 2022. No acumulado do ano até o fechamento de terça-feira (6), os papéis tinham alta de 27%, apesar de terem caído de seu pico de junho nas últimas semanas.

As vendas do segundo trimestre de Wegovy foram de 11,7 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 1,7 bilhão), informou a empresa nesta quarta-feira, enquanto a estimativa média era de 13,7 bilhões de coroas.

A Novo, da Dinamarca, está disputando com a Lilly a supremacia no negócio de forte crescimento da indústria farmacêutica: os medicamentos para obesidade. A expectativa é de que o mercado atinja US$ 130 bilhões até o final da década.

Ações têm sido negociadas acima do seu DMA de 200 por cerca de dois anos

Até agora, o maior obstáculo tem sido atender à demanda, e ambas as farmacêuticas prometeram bilhões de dólares para aumentar a capacidade de produção e, ao mesmo tempo, trabalhar para convencer mais seguradoras a reembolsar o remédio aos pacientes.

“Agora há um produto concorrente e um crescimento significativo do volume, o que pressiona a todos”, disse Emily Field, analista do Barclays, em uma nota aos investidores.

À medida que a Novo ganha acesso a mais seguradoras nos EUA, a empresa está sendo forçada a fazer descontos por meio de um sistema que consiste no pagamento de gerentes de benefícios farmacêuticos.

É um fenômeno que já estava previsto pela empresa, mas os descontos que a Novo está pagando são maiores do que a empresa esperava no ano passado, disse Knudsen na teleconferência.

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“Quando você expande seu acesso ao mercado, normalmente também concede descontos um pouco maiores”, disse o CEO Lars Fruergaard Jorgensen em uma entrevista à Bloomberg TV.

Na avaliação de Michael Shah, analista da Bloomberg Intelligence, o guidance revisado da Novo Nordisk pode alimentar uma pequena melhora nas vendas, mas provavelmente um corte nas estimativas de lucro operacional (apesar do aumento subjacente) em uma depreciação de P&D, “que sustentou a perda de lucros no segundo trimestre”.

As ações da Lilly subiram 0,2% antes da abertura dos mercados em Nova York. A farmacêutica, sediada em Indianápolis, deve divulgar seus resultados na quinta-feira (8).

Guidance

A Novo disse que o lucro operacional do ano inteiro crescerá de 20% a 28%, ligeiramente abaixo de sua previsão anterior. Os resultados também serão prejudicados por um encargo de redução ao valor recuperável de um medicamento fracassado que a Novo adquiriu em um acordo no ano passado, disse a empresa.

O maior medicamento da Novo, o remédio para diabetes Ozempic, também não atendeu às expectativas. As vendas foram de 28,9 bilhões de coroas, abaixo dos 29,7 bilhões de coroas que os analistas haviam previsto.

A projeção, segundo a Novo, é de um aumento entre 22% e 28% (em taxas de câmbio constantes) da receita total no ano; a empresa havia previsto anteriormente um crescimento de vendas entre 19% e 27% nessa base.

A Novo também informou que retirou seu pedido aos órgãos reguladores dos EUA e da Europa para a aprovação do Wegovy para tratamento de insuficiência cardíaca. A empresa planeja reapresentar o pedido no início do próximo ano com dados adicionais.

Escassez de Wegovy

A Lilly prevê que o Zepbound sairá da escassez em breve, disse o CEO David Ricks na semana passada. Para a Novo, que tem se esforçado para aumentar o fornecimento de Wegovy, a situação é um pouco diferente.

A empresa continuará a limitar o fornecimento de doses iniciais porque quer garantir que todos os que começarem a tomar o medicamento possam aumentar sua dosagem sem interrupção, disse Jorgensen.

Apenas a dose introdutória do medicamento continua em falta nos EUA, de acordo com a Food and Drug Administration, a Anvisa dos EUA.

“Estamos atendendo a apenas alguns milhões de pacientes com obesidade nos EUA”, disse o CEO da Novo aos repórteres na teleconferência. “Ainda é cedo para saturar esse mercado.”

-- Com a colaboração de Lisa Pham, Blaise Robinson, Ashleigh Furlong e Francine Lacqua.

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