Bloomberg — Quando Joanna Geraghty, a próxima presidente executiva (CEO) da JetBlue Airways, deu um discurso de formatura em 2020, ela falou sobre ter “o dom da persistência”.
Esse dom já está sendo testado em sua vida. Geraghty esperava herdar uma empresa que compraria a Spirit Airlines e que se tornaria uma companhia muito maior. Mas as esperanças de concluir essa fusão foram severamente reduzidas na semana passada, quando um juiz bloqueou o acordo.
JetBlue e Spirit estão apelando da decisão, mas enfrentam uma grande possibilidade de fracasso, o que significa que Geraghty provavelmente terá que formular uma estratégia totalmente nova para dar vida a uma empresa sem lucros e lutando para sobreviver.
A companhia aérea teve seu último lucro em 2019, antes da pandemia e de uma série de contratempos legais. Além de um juiz federal bloquear na semana passada o plano da empresa de adquirir a Spirit em um acordo de US$ 3,8 bilhões, a parceria de compartilhamento de rotas da JetBlue com a American Airlines foi rejeitada pelos tribunais no ano passado. Wall Street não espera que a empresa sequer consiga ter lucro até 2025.
“A prioridade de Joanna deve ser fazer a JetBlue voltar a ter lucros sólidos e reequilibrar o balanço”, disse Savanthi Syth, analista da Raymond James. Além disso, a empresa precisa controlar seus custos fixos, acrescentou ela.
A nova CEO, que assume o cargo em meados de fevereiro, já está familiarizada com esses aspectos do negócio. Geraghty, 51 anos, tornou-se presidente e diretora de operações da JetBlue em 2018 e já é responsável pela operação diária da companhia aérea e pelo desempenho comercial, rede de rotas, gestão de receita, marca e marketing.
A executiva, que se recusou a dar declarações para este artigo, é descrita por ex-colegas como diligente e assertiva. Tendo começado sua carreira na JetBlue em 2005 como diretora do departamento de litígio e regulatório, ela sempre foi vista como uma possível sucessora do atual CEO Robin Hayes. Ele nomeou Geraghty como sua sucessora em seu aviso de renúncia surpresa em 8 de janeiro, após quase nove anos no comando.
Em discursos públicos, Geraghty parece à vontade ao citar dados e metas da empresa em relação ao seu papel, e geralmente vai direto ao ponto. O fato de a JetBlue ter nomeado a atual diretora de operações, uma executiva discreta e focada nos detalhes, para o principal cargo é provavelmente um sinal de onde a empresa se encontra nos dias de hoje.
Empresa descolada
Quando a empresa começou a voar em 2000, com sede no Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, ela conquistou uma reputação como uma empresa aérea descolada que operava de forma diferente de seus concorrentes mais estabelecidos.
Ela mantinha preços de passagens bem mais baixos que os concorrentes, ao mesmo tempo em que oferecia comodidades projetadas para tornar a viagem aérea mais divertida. Os passageiros tinham televisão via satélite ao vivo, mais espaço para as pernas e a promessa de que a “humanidade” voltaria a viajar de avião.
No entanto, pouco a pouco, a JetBlue foi se aproximando das normas da indústria da aviação. Uma severa tempestade de inverno que levou a dezenas de cancelamentos de voos em 2007 resultou na demissão do CEO fundador David Neeleman. A empresa então focou em lucratividade e crescimento, e parou de tentar oferecer mais brindes gratuitos do que seus concorrentes.
“Costumavam ter um certo brilho”, disse Jason Schloetzer, professor associado da McDonough School of Business da Universidade de Georgetown, que ministra aulas sobre avaliação de empresas e seu desempenho. “Mas isso parece ter se perdido nos últimos anos e eles parecem ser como qualquer outra empresa aérea.”
A empresa também direcionou seu foco para atrair passageiros empresariais de alto padrão com uma opção de viagem premium chamada Mint e na construção de rotas transatlânticas. Em uma entrevista de 2019 ao CNBC, Geraghty disse que a JetBlue estava saindo de sua “adolescência desconfortável e se tornando adulta”.
Base doméstica movimentada
Essas ambições custosas, além de manter sua base operacional principal no movimentado nordeste dos EUA, afetaram os lucros da empresa. Nas áreas onde a JetBlue tem voos concentrados - em torno de Nova York, Boston e Sudeste -, há uma escassez de controladores de tráfego aéreo e uma abundância de tempestades. Todos esses fatores causam atrasos e custos adicionais, prejudicando mais a JetBlue do que concorrentes com operações mais diversificadas.
Geraghty tem sido uma defensora vocal dos interesses econômicos da JetBlue enquanto lidava com diversos obstáculos. Em conferências sobre os resultados financeiros da empresa, ela apontou falhas no sistema de controle de tráfego aéreo nos EUA. Em outubro, a executiva pediu que o novo chefe da Administração Federal de Aviação "defenda essas questões críticas de infraestrutura".
John Toriello, que trabalhou com Geraghty na Holland & Knight antes de ela ir para a JetBlue, disse que Geraghty é “muito inteligente, muito trabalhadora e muito confiante.” Ela mostrou interesse precoce na indústria aérea mesmo quando era uma associada júnior no escritório de advocacia, onde progrediu até se tornar sócia.
“Ficou muito claro para mim que, ao contrário de muitos outros associados juniores, ela tinha visão e conseguia ver coisas que poderiam ser feitas melhor ou melhoradas”, disse ele. Essa habilidade, segundo Toriello, permite que ela encontre soluções para problemas, e não apenas os identifique.
Geraghty também se destaca por se tornar a primeira mulher a comandar uma grande companhia aérea nos EUA. Em média, as mulheres têm menos tempo para comandar grandes empresas do que os homens, 6,2 anos versus 8,8 anos, segundo dados compilados pela Exechange.com.
Embora alguns observadores externos acreditem que a JetBlue continuará sendo praticamente a mesma sob a liderança de Geraghty do que era sob a de Hayes.
“Não vejo nada em sua trajetória, apesar do cargo que possui, que indique que ela vá administrá-la de forma diferente”, disse Bob Mann, chefe da consultoria R.W. Mann & Co. e ex-executivo de uma empresa aérea.
Decisões arrojadas
Nos últimos anos, a alta administração da JetBlue tem estado envolvida em disputas legais que distraíram a empresa de fazer melhorias operacionais. A parceria Northeast Alliance forjada com a American em 2020 permitiu que ela aumentasse seus voos ao longo da costa leste dos EUA e conquistasse novos clientes. Quando um juiz considerou que a parceria era anticompetitiva e precisava ser encerrada, a JetBlue optou por não contestar a decisão, dizendo que se concentraria em comprar a Spirit.
Em seguida, em 16 de janeiro, após um esforço legal exaustivo, um juiz bloqueou a aquisição da Spirit, sediada em Miramar, Flórida. Em um recurso de uma sentença final, a JetBlue e a Spirit não deram motivo legal para a última tentativa desesperada de salvar a fusão. A analista da Raymond James, Syth, disse que as chances de sucesso delas são "baixas".
Em uma nota à equipe após sua nomeação como CEO, Geraghty observou que a única constante é a mudança e que a empresa aérea redobrará os esforços para ter operações de voo mais confiáveis e oferecer produtos e serviços consistentes mantendo custos competitivos. Ela também disse que deseja instilar uma disposição para tomar “decisões arrojadas”.
“Este ano será um ano crítico para a JetBlue, enquanto tomamos medidas para voltar a ter lucro”, escreveu ela. “Espero que você se junte a mim nesse esforço.”
-- Com a colaboração de Jeff Green.
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