No ‘país da renda fixa’, B3 prepara novos produtos para ampliar os negócios

Em entrevista a jornalistas, Gilson Finkelsztain, CEO da B3, destacou a evolução do mercado de dívida local como alternativa às ações e contou quais as iniciativas no ‘pipeline’ da bolsa brasileira

B3
10 de Fevereiro, 2025 | 10:37 AM

Bloomberg Línea — Os últimos três anos foram de baixo número de ofertas para o mercado de ações do Brasil, que não vê um IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) desde 2021.

A B3, bolsa de valores de referência do Brasil, enfrenta um cenário desafiador com a escassez de novas ofertas. A ausência de IPOs reduz o potencial de liquidez e receita para a bolsa, mas o principal desafio é que o cenário seja interpretado como sinal de desconfiança no mercado de capitais.

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Para Gilson Finkelsztain, CEO da B3, no entanto, essa não é uma interpretação adequada. “O mercado de capitais brasileiro definitivamente não está parado. Hoje, ele é a principal fonte de financiamento de grandes empresas no Brasil”, afirmou na última sexta-feira (7) em evento com jornalistas.

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O executivo não se referiu ao mercado de ações mas à renda fixa: 88% do valor recorde de R$ 783,4 bilhões captado pelas empresas no mercado de capitais em 2024 se deu por meio de produtos do segmento. Os dados são da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

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“Tivemos o melhor ano da história da renda fixa no Brasil. Isso é muito relevante porque nós criamos, definitivamente, o mercado de dívida local”, afirmou Finkelsztain.

A declaração do CEO da B3 (B3SA3) reforça a estratégia da companhia em se colocar como uma plataforma com infraestrutura financeira que vai além dos serviços de bolsa ou de renda variável – posicionamento cuja mensagem já havia sido reforçada para os investidores no B3 Day do último ano.

Para 2025, os planos da companhia da B3 envolvem aumentar o campo de atuação em setores em que exista maior demanda, sendo a renda fixa uma das prioridades.

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Uma das ambições é o desenvolvimento de um mercado de derivativos de crédito que possibilitaria, por exemplo, a venda de instrumentos de proteção contra o calote de dívidas de uma empresa.

Gilson Finkelsztain, chief executive officer of B3 SA-Brasil Bolsa Balcao, speaks during an interview at the exchange's office in Sao Paulo, Brazil, on Tuesday Jan. 8, 2019. Finkelsztain is drawing a line in the sand after Brazilian companies defected to New York last year with more than $5 billion of equity offerings. Photographer: Victor Moriyama/Bloomberg

Antes disso, a B3 pretende lançar, neste ano, operações de aluguel de debêntures, que devem aumentar a liquidez no mercado secundário e abrir as portas para os derivativos no setor.

“Continuamos sendo o país da renda fixa, mas de forma muito mais sofisticada do que a que tivemos nos últimos dez anos”, disse o executivo.

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Enquanto isso, o mercado de renda variável aguarda um cenário macroeconômico mais favorável para a retomada de apetite de investidores.

Finkelsztain reforçou a necessidade de uma inflação mais perto da meta e de alívio na curva de juros como pré-condições essenciais para uma potencial retomada do interesse pelo mercado de ações.

Estrangeiros, criptos e commodities

Para além da renda fixa, a B3 planeja outros lançamentos para 2025. Um deles é o acordo com plataformas internacionais para facilitar a negociação de derivativos e ações do Brasil no exterior, facilitando o acesso da pessoa física ao mercado local – sejam estrangeiros ou brasileiros que vivem no exterior.

O grande entrave atual para esse investimento, segundo o CEO da B3, é o custo e a complexidade em manter uma conta no Brasil, que pode custar entre R$ 40 mil e R$ 50 mil anuais para uma pessoa física.

“[Com as plataformas], diminuiu o potencial custo de acesso. A pessoa física vai conseguir acessá-los diretamente”, explicou.

As tratativas mais avançadas estão sendo feitas com a plataforma global Interactive Brokers, que tem 4 milhões de clientes. O lançamento está previsto em um prazo de dois a três meses.

A B3 também tem planos de aumentar a oferta de contratos futuros de criptoativos, hoje restrita ao bitcoin. Os planos são lançar futuros para criptomoedas como solana e ether ainda neste ano.

Em commodities, existe espaço para avançar no mercado de soja e minério de ferro, mas há um desafio de atração de investimentos, segundo o ele.

“Acaba sendo um mercado mais limitado aos [investidores] locais porque, historicamente, é muito difícil atrair a liquidez global”, afirmou Finkelsztain. Uma das alternativas seria por meio de listagem cruzada com bolsas internacionais, algo que vem sendo estudado pela B3.

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Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.