No Japão, CEO da Panasonic quer que executivos tenham mais ‘senso de crise’

Empresa enfrenta desafios com a queda de lucratividade, o que levou Yuki Kusumi a adotar uma postura mais rigorosa; a visão contrasta com a tradição de empregos vitalícios do país

Yuki Kusumi, CEO da Panasonic, alertou que a liderança precisa estar preparada para enfrentar desafios e garantir a sustentabilidade do negócio (Foto: Akio Kon/Bloomberg)
Por Reed Stevenson - Yuki Furukawa
20 de Julho, 2024 | 04:10 PM

Bloomberg — Os executivos da Panasonic precisam ter mais “senso de crise”, dada a baixa lucratividade da empresa, e serão julgados de acordo com isso, segundo o CEO, Yuki Kusumi.

“Se eles não produzirem resultados, terão que ser substituídos”, disse Kusumi em uma entrevista recente à Bloomberg News. “A razão para não produzir resultados é a falta de um senso de crise.”

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Essas são palavras excepcionalmente duras no Japão, e especialmente na Panasonic, em que a noção de emprego vitalício foi dominante durante anos.

A Panasonic, que já foi líder global em produtos eletrônicos de consumo, agora é uma importante fornecedora de baterias para a Tesla (TSLA) e investe em software, ao mesmo tempo em que busca manter sua relevância em eletrodomésticos e dispositivos industriais.

Há dois meses, Kusumi alertou, em uma reunião de estratégia, que a fabricante japonesa de produtos eletrônicos estava aquém de suas metas de lucratividade e que reduziria o número de “negócios com problemas” a zero até março de 2027.

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As ações da Panasonic caíram 4% neste ano, após terem subido 26% no ano passado. Ao mesmo tempo, o mercado de ações do Japão vem se recuperando e atinge patamares máximos de várias décadas. O índice de referência Topix acumula alta de cerca de 22% neste ano.

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A desaceleração da demanda por carros elétricos afetou algumas de suas fábricas de baterias e resultou na paralisação de algumas linhas de produção em sua fábrica de Suminoe, em Osaka, disse o CEO.

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“O que mais me preocupa é o fato de não termos alcançado a lucratividade necessária para obter o apoio dos investidores”, disse Kusumi. “Embora os preços das ações no Japão estejam subindo, as nossas estão em cerca de 1.300 ienes (US$ 8,20).”

(Fonte: Bloomberg)

O fato de a Panasonic ser negociada abaixo do valor contábil é motivo de preocupação, disse o CEO. A Bolsa de Valores de Tóquio tem feito uma cruzada, apoiada pelo governo, para fazer com que as empresas japonesas melhorem seu valor de mercado em relação ao total de seus ativos líquidos, a fim de aumentar o índice acima de 1,0.

A relação preço-valor contábil da Panasonic está atualmente em 0,7, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A Hitachi, outro conglomerado de eletrônicos que se reestruturou e vendeu ativos, é negociada a cerca de três vezes o valor contábil.

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A Panasonic adotou uma estrutura de holding há dois anos, uma reformulação com o objetivo de tornar cada divisão mais responsável por seu desempenho.

Isso também tornou mais fácil para Kusumi forjar acordos como o que envolveu a unidade de sistemas automotivos, parte da qual está sendo vendida para afiliadas da gigante de private equity Apollo Global Management por 311 bilhões de ienes (US$ 1,96 bilhão).

Kusumi tem se esforçado para melhorar a lucratividade das unidades de baixo desempenho nos próximos dois anos, enquanto considera se a Panasonic é o “melhor proprietário” para os negócios.

Embora isso não signifique necessariamente que o objetivo seja vender, o CEO explicou que eles terão que se manter e sobreviver por conta própria.

Depois de assumir o cargo de CEO em meados de 2021, Kusumi tem procurado liberar mais dinheiro para investir em áreas de crescimento.

Ele estabeleceu metas para obter um retorno sobre o patrimônio líquido de 10% ou mais e um lucro operacional acumulado de 1,5 trilhão de ienes (US$ 9,5 bilhões) para os dois anos fiscais até abril do próximo ano.

Konosuke Matsushita, que fundou a empresa que levava seu nome até ser alterada para Panasonic em 2008, às vezes é chamado de “deus da administração” no Japão.

Ele defendia princípios como cooperação, humildade e contribuição para a sociedade como pilares fundamentais para qualquer empresa de sucesso. Da mesma forma, Matsushita também incentivou a adaptabilidade e a melhoria contínua.

“A gerência, especialmente a alta gerência, como os chefes de divisão e os presidentes das unidades de negócios, precisa ter um forte senso de crise em relação à falta de resultados”, disse Kusumi.

-- Com a colaboração de Shery Ahn.

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