Nissan busca novo parceiro diante de entraves para acordo com Honda, dizem fontes

Fatores como o grau de reestruturação pretendido pela Nissan devem emperrar o M&A, disseram fontes à Bloomberg News; um parceiro de tecnologia nos EUA seria um parceiro preferencial

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Bloomberg — A Nissan Motor está à procura de um novo parceiro estratégico enquanto se prepara para encerrar as negociações para formar uma holding conjunta com a Honda Motor.

O ideal seria que o novo aliado fosse do setor de tecnologia e tivesse sede nos Estados Unidos, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque a informação não é pública.

Embora suas vendas estejam em desaceleração globalmente, a América do Norte continua sendo o mercado mais importante da Nissan e a mudança mais ampla em direção à eletrificação e à automação leva todas as montadoras a buscar alianças com indústrias de alta tecnologia.

As ações da Nissan subiram até 8,7% nas negociações à tarde desta quinta-feira (6) em Tóquio. Um porta-voz da Nissan se recusou a comentar à Bloomberg News e acrescentou que quaisquer detalhes relativos às negociações com a Honda seriam anunciados, conforme planejado, em meados de fevereiro.

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Abandonar o acordo com a Honda é uma grande aposta para a Nissan, cuja linha de modelos considerada desatualizada a forçou a conceder grandes descontos, o que impactou seus resultados financeiros.

A montadora, que divulgará os resultados do terceiro trimestre no ano fiscal corrente na próxima semana, anunciou uma queda de 94% no lucro líquido do primeiro semestre e disse que precisará demitir 9.000 funcionários e cortar um quinto de sua capacidade de fabricação.

Essa situação financeira precária provavelmente não atrairá muitos possíveis pretendentes.

Se a Nissan não encontrar um parceiro que a ajude a se reerguer após o rompimento parcial de sua complexa parceria estratégica de 25 anos com a Renault, ela poderá precisar de um resgate, como fez com a montadora francesa.

Bastidores da negociação com a Honda

A Nissan e a Honda confirmaram na quarta-feira que ainda discutem várias opções, incluindo a possibilidade de encerrar as negociações de acordo.

A Honda havia apresentado o plano de adquirir a Nissan e torná-la uma subsidiária integral, o que encontrou forte oposição dentro da empresa automotiva japonesa menor, disse uma das pessoas. O nível de investimento também foi um ponto de atrito, acrescentaram.

A Honda também fez da reestruturação das operações da Nissan um pré-requisito para qualquer transação. Mas, além de cortar alguns empregos e reduzir a produção, a Nissan não avançou muito.

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Não planeja fechar nenhuma fábrica, por exemplo, o que provavelmente irritou a Honda, uma vez que ela estava em busca de uma mudança total.

O fim das discussões exclusivas com a Honda, entretanto, permitiria que qualquer uma das partes saísse sem ter que pagar uma taxa de cancelamento pesada de ¥ 100 bilhões (US$ 657 milhões), de acordo com o memorando de entendimento das empresas em 23 de dezembro.

O conselho de administração da Nissan tem pressionando o CEO Makoto Uchida e outros gerentes seniores a desenvolverem um plano de reestruturação mais abrangente em paralelo às discussões com qualquer novo parceiro em potencial, disseram as pessoas à Bloomberg News.

O objetivo é apresentar uma reforma muito mais profunda a tempo para o dia 13 de fevereiro, quando a fabricante dos modelos Altimas e Pathfinders deverá apresentar seus resultados trimestrais.

É também nessa data que o conselho se reunirá para formalizar sua decisão, disse uma pessoa. A Honda também divulga seus resultados do terceiro trimestre nesse dia.

A Nissan tem lutado para se reerguer desde a prisão em 2018 e a expulsão do ex-CEO e ex-presidente do conselho Carlos Ghosn sob a acusação de subnotificação de remuneração.

Isso abalou a aliança da Nissan com a Renault e o acerto de contas subsequente alimentou um êxodo da alta gerência, o que prejudicou a estratégia de se concentrar no negócio real de venda de carros.

O escopo da crise financeira da Nissan tornou-se conhecido para o público em geral em novembro de 2024, quando a montadora também reduziu o guidance de lucro anual em 70%.

Qualquer novo plano de reestruturação deve ir além desses números.

“É possível que haja uma deterioração ainda maior dos lucros da Nissan”, disse o analista do Citigroup Arifumi Yoshida. “Medidas adicionais de reestruturação são vitais.”

Apesar de seus problemas, as vastas operações de fabricação e o nome da marca da Nissan continuam sendo um atrativo.

A Hon Hai Precision Industry, fabricante de iPhones conhecida como Foxconn, que tenta estabelecer um ponto de apoio na fabricação terceirizada de veículos elétricos, abordou a Nissan sobre a aquisição de uma participação na empresa em dezembro.

A companhia acabou suspendendo seu interesse quando ficou claro que a montadora japonesa estava em negociações para uma possível combinação com a Honda.

Mas a fabricante de eletrônicos não desistiu completamente do negócio, disseram as pessoas familiarizadas com o assunto. O plano é observar se haverá um progresso legítimo em direção a um acordo entre Nissan e Honda antes de decidir qual seria seu próximo passo.

-- Com a colaboração de Nicholas Takahashi.

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