Bloomberg Línea — A gigante suíça Nestlé acertou a compra da brasileira Kopenhagen, segundo fontes a par do assunto ouvidas pela Bloomberg Línea. O acordo já foi selado, mas ainda não assinado, o que deve acontecer em breve. A compra incluirá também a marca Brasil Cacau.
O negócio aproximará a Nestlé da liderança do mercado doméstico de chocolates, já somando o market share da Garoto, mas ainda atrás da Mondeléz International com a Lacta (veja mais abaixo). E dará acesso ao segmento de produtos de maior valor agregado, com ampla capilaridade no varejo.
Em outubro de 2020, em meio à primeira onda da pandemia de covid, a empresa de private equity Advent International comprou da família Moraes uma participação majoritária no Grupo CRM, dono da Kopenhagen e da Brasil Cacau, por valor não revelado.
A marca possui uma das maiores e mais tradicionais redes de lojas de chocolates finos do país. Naquele momento, eram cerca de 800 lojas e um faturamento anual estimado em R$ 1,5 bilhão.
A notícia da venda da Kopenhagen foi publicada inicialmente nesta quarta-feira (6) pelo Brazil Journal, que disse que o valor da venda teria sido de cerca de R$ 3 bilhões.
Procuradas pela Bloomberg Línea, Nestlé, Advent e Kopenhagen afirmaram que não vão comentar o assunto. Fontes afirmaram que a Nestlé contou com a assessoria do UBS BB (UBS).
Para Leonardo Tonini, fundador da Emerge Ventures e ex-CMO (Chief Marketing Officer) da Mondeléz, a Kopenhagen “tem todas as caraterísticas que um comprador estratégico de escala no setor de consumo procura”, citando quatro fatores:
- “Impacto: com faturamento bilionário, essa aquisição mexe o ponteiro da Nestlé Brasil”
- “Margem incremental: os números não são abertos, mas uma marca premium com modelo de franquia tende a ter margens mais altas que uma indústria como a Nestlé”
- “Espaço para crescimento: o histórico da Kopenhagen impressiona e ainda existe espaço para crescer acima da média da Nestlé Brasil”
- “Sinergias: ganho de escala e potenciais sinergias de distribuição, tanto em chocolates quanto em cafés.”
Nas últimas semanas, rumores no mercado apontavam o suposto interesse da Advent de vender a empresa, avaliando alternativas como um IPO (oferta pública inicial) na bolsa brasileira. Mas o momento ainda adverso do mercado de capitais, fechado para ofertas iniciais, teria inviabilizado essa saída.
Nestlé e Garoto
Para a Nestlé, a aquisição acontece em um momento em que ela acaba de concluir uma das mais duradouras disputas administrativas e judiciais envolvendo um M&A no país.
Em junho deste ano, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra da Chocolates Garoto pela Nestlé, com restrições, após mais de 20 anos do negócio, que começou em 2002. Em uma das restrições, o Cade afirmou que a empresa não poderia adquirir pelo período de cinco anos ativos que representem, acumuladamente, participação igual ou superior a 5% do mercado.
Segundo a decisão, “o compromisso não se aplica a aquisições internacionais, com efeitos no Brasil, realizadas pelo controlador da Nestlé ou empresa do seu grupo econômico. Nesses casos, o ato de concentração deverá ser notificado ao Cade, caso atenda aos critérios de submissão prévia estabelecidos em lei”.
Isso pode indicar que a compra da Kopenhagen não deve enfrentar objeções do Cade, já que, segundo dados da consultoria Euromonitor, a empresa teria menos de 5% da fatia do mercado de chocolates no Brasil. De acordo dados de 2022, os líderes do mercado são: Lacta (da Mondelez), com 22,9% do mercado, Cacau Show, com 13,9%, Garoto, com 8,3%, Nestlé, com 7,7%, e Hershey’s, com 4,3%.
A Kopenhagen foi fundada pelo casal de imigrantes lituanos Anna e David Kopenhagen há quase cem anos, em 1928, na cidade de São Paulo. A primeira loja ficava no centro da capital paulista. No começo da década de 1940, adquiriram uma fábrica no bairro do Itaim Bibi, na zona oeste de São Paulo.
A marca se notabilizou com produtos como Nhá Benta, Língua de Gato e Lajotinhas, entre outros. Cresceu entre os brasileiros de alta renda em uma época em que não havia marcas internacionais como a suíça Lindt nem nacionais como Cacau Show com lojas nas maiores cidades do país.
O salto se deu a partir de 1996, quando a Kopenhagen foi adquirida pelo empresário Celso Ricardo de Moraes, do Grupo CRM (que leva as iniciais de seu nome completo).
Naquele momento, tinha faturamento anual de R$ 38 milhões e cerca de 100 lojas, número que passou para mais de 500 já no começo da década de 2010. Ele transferiu a fábrica do Itaim para Tamboré, na Grande São Paulo, e depois abriu uma planta industrial em Extrema (MG).
O empresário paulista também ampliou o investimento em marketing e no modelo de franquias.
Em 2014, tinha a meta de atingir um faturamento da ordem de R$ 1 bilhão, com Ebitda de R$ 100 milhões. No mesmo ano, Celso entrou pela primeira vez para a lista dos bilionários da Forbes no Brasil, ou seja, com patrimônio estimado em ao menos R$ 1 bilhão.
A Lindt, aliás, chegou ao Brasil há uma década por meio justamente de uma joint venture entre o grupo suíço e a família Moraes.
Quem assumiu o comando da Kopenhagen foi a sua filha Renata Moraes Vichi, oficialmente a CEO da Kopenhagen e da Chocolates Brasil Cacau - Grupo CRM - desde fevereiro de 2020, mas já com funções executivas como VP desde o fim da década de 1990. A chegada da Advent há quase três não tirou Renata do cargo, algo que, em tese, pode ser mantido com a nova controladora.
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