Bloomberg Línea — O presidente da Petrobras (PETR3,PETR4), Jean Paul Prates, voltou a dizer que o governo não interfere na política de preços dos combustíveis da companhia, mesmo depois de novas declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre o tema.
“Na reunião com o presidente Lula, [o tema dos combustíveis] não foi tratado. Todos sabem que a palavra preço sequer foi pronunciada”, afirmou o executivo a jornalistas nesta sexta-feira (4).
Silveira disse em entrevista à GloboNews também nesta sexta que a Petrobras informou estar “no limite do preço marginal” e que deve reajustar os combustíveis caso haja oscilação para cima no mercado externo.
Nos últimos dois meses, os preços do petróleo voltaram a subir: passaram do patamar de US$ 70 o barril do tipo Brent para US$ 85 nesta sexta-feira.
“A reunião que houve com Lula foi para tratar de PAC e de nossos projetos”, disse Prates.
No segundo trimestre, a petroleira reportou uma queda de 27% da receita de vendas na comparação anual devido à retração do Brent e da receita com derivados.
Prates disse que a companhia não está sendo “leniente” com questões relacionadas à rentabilidade. “Estamos atentíssimos a isso, não estamos sendo lenientes. É a Petrobras que define os preços, não estamos perdendo dinheiro com essa política”, ponderou.
O executivo abriu a conferência dizendo que é “absolutamente desconexa” a linha de alegação que relaciona a retração da receita com a política de preços dos combustíveis. “Tivemos uma queda brutal do Brent, estamos em outra circunstâncias, que atingem outras estatais e majors do setor. Caímos abaixo da média [do mercado]”, afirmou.
O preço médio do petróleo do tipo Brent registrado pela companhia caiu de US$ 117 no segundo trimestre de 2022 para US$ 78 no mesmo período deste ano.
Para o estrategista de investimentos na Nexgen Capital, Heitor Martins, ainda é cedo para avaliar se a política de preços já afeta a rentabilidade da Petrobras.
“A Petrobras precisou importar muita gasolina [no trimestre] como forma de evitar desabastecimento, então ainda não é possível dizer que a política de preços é responsável pela queda do faturamento”, disse o analista.
Prates disse ainda que é difícil estimar a que preço do Brent seria necessário para a estatal ter que realizar algum reajuste de combustível. “Talvez isso fosse possível no passado. No futuro, fazer isso seria temerário, porque os preços mudam a cada 6 horas. É difícil calcular até quando conseguimos segurar preço, pois isso também depende de cada produto”, explicou.
Para a Mirae Asset, o resultado do segundo trimestre com números abaixo dos períodos comparáveis já era esperado e vieram positivos. De abril a junho, o lucro líquido da Petrobras caiu 47% e atingiu R$ 28,7 bilhões, em meio ao declínio do Brent.
Apesar da retração, Prates disse que a companhia está no “caminho certo” e que tem mantido uma “rentabilidade sustentável”.
Recompra de ações e dividendos
A Petrobras anunciou um programa de recompra de ações que pode atingir US$ 1 bilhão. Segundo o diretor executivo financeiro e de relacionamento com investidores, Sergio Caetano Leite, o programa tem períodos definidos e serve para emitir um “sinal claro” ao mercado.
“Acreditamos nos nossos fundamentos, investimos recomprando ações e também é uma forma de remuneração ao acionista que privilegia ficar com a companhia no médio e longo prazo”, disse o executivo.
Ainda nesta quinta, a estatal anunciou que deve distribuir R$ 15 bilhões em dividendos relativos ao exercício do segundo trimestre de 2023, um recuo de 39% sobre os proventos de janeiro a março.
Para o Citi, apesar de um montante de dividendos ainda favorável e espaço potencial para um pagamento extraordinário, “a principal discussão é até que ponto o rendimento (yield) dos dividendos da Petrobras é comparável aos das principais petrolíferas dos Estados Unidos e da Europa”, disseram analistas em relatório.
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