Na terra da Volks, BYD aposta no futebol para avançar na disputa dos elétricos

Marca chinesa que já desbancou a Tesla mundialmente quer avançar na Europa e, para tanto, investiu para se tornar uma das patrocinadoras da Eurocopa neste ano na Alemanha

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Bloomberg — Enquanto a seleção alemã de futebol lutava para vencer a Dinamarca em Dortmund neste sábado (29), um jogo geoeconômico acontecia nos bastidores, com apostas que vão além da Eurocopa, o importante torneio europeu de seleções disputado a cada quatro anos - neste ano justamente na terra da Volkswagen.

Ao mesmo tempo que os fãs em todo o país comemoravam a vitória de 2 a 0 sobre a Dinamarca por uma vaga nas quartas-de-final do torneio, a chinesa BYD buscava dar um golpe de marketing na Volkswagen em sua terra natal - e aprofundar a exposição da Alemanha aos produtos da China.

Com a gigante com sede em Wolfsburg em luta para colocar sua estratégia de carros elétricos nos trilhos, a marca chinesa aumenta a pressão como uma das patrocinadoras do torneio.

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Além de fornecer um serviço de transporte com cerca de 300 carros elétricos, a BYD estacionou veículos em áreas dedicadas aos fãs - as famosas fan zones - para exibir recursos como karaokê no carro e oferecer ingressos de cortesia por meio de suas plataformas sociais.

“O patrocínio da BYD torna a marca mais conhecida na Europa com uma carga de emoção”, disse Marko Sarstedt, chefe do departamento de marketing da Universidade Ludwig Maximilians, de Munique. “É um risco para a estratégia de elétricos da Volkswagen deixar o campo de jogo para a BYD.”

Como outras montadoras chinesas, a BYD quer desesperadamente se destacar na Europa. Pequim havia atiçado as chamas da expansão com subsídios generosos, desde terrenos baratos até incentivos para compra, e os carros que saem dessas linhas de montagem agora estão em busca de um lar - o Brasil que o diga.

Com as tensões políticas elevadas com os Estados Unidos, a Europa é a saída mais lucrativa disponível, mas, mesmo no Velho Continente, os ventos contrários estão se intensificando. A União Europeia (UE) deve começar a impor tarifas sobre veículos elétricos na produção chinesa na próxima semana, ainda que os veículos da BYD devem sair com uma taxa considerada não tão pesada - de 17,4%.

Apesar da ameaça representada pelas montadoras chinesas, a Alemanha tenta impedir ou pelo menos suavizar as tarifas da UE, refletindo os laços profundos entre as duas economias. Fabricantes como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz dependem da China para a maior parte de suas vendas, e alguns enviam modelos elétricos feitos no país asiático para a Europa.

O ministro da Economia, Robert Habeck, viajou para a China na semana passada para discutir o assunto, e Pequim ofereceu vantagens como reduzir sua própria tarifa de 15% sobre carros grandes em troca da ajuda da Alemanha para acabar com as taxas de elétricos, disseram pessoas familiarizadas com as discussões.

Até agora, a investida da China na Europa tem sido algo gradual. A empresa de maior sucesso em vendas é a SAIC Motor.

A proprietária da marca britânica MG, sediada em Xangai, vendeu cerca de 97.000 carros de janeiro a maio na Europa, de acordo com dados da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis. Isso é menos de um quinto das vendas da marca Volkswagen na região, que chegaram a 5,6 milhões no total.

Apesar de ultrapassar a Volkswagen na China no ano passado, a BYD está lutando para ganhar força na Europa. Nos primeiros cinco meses de 2024, a marca vendeu um pouco mais de 13.000 veículos, de acordo com dados da consultoria Jato Dynamics. Mas ela marcou pontos com seu impulso de marketing.

Na fan zone em Berlim, perto do Portão de Brandemburgo, a BYD atraiu os transeuntes para conferir dois sedãs compactos totalmente elétricos e um SUV híbrido plug-in com duas mesas de pebolim. Os modelos em exposição incluíam um hatchback Dolphin movido a bateria, que começa em 33.000 euros e ostenta um alcance de até 427 quilômetros -- em comparação com o Volkswagen ID.3 de 37.000 euros, que pode dirigir 388 km com uma carga.

Na Europa, 36% dos compradores de carros que conhecem marcas chinesas considerariam comprar um modelo BYD, de acordo com uma pesquisa de abril com cerca de 2.000 entrevistados pela empresa de consultoria de gestão Horváth. Seis meses antes, esse número era de 10%.

“Isso já é um sinal do efeito do Campeonato Europeu”, disse Georg Mrusek, especialista automotivo da Horváth. “Vemos uma abertura crescente em relação aos fabricantes chineses na Europa.”

Desafio cultural

A aceitação do cliente continua sendo um obstáculo importante, pois a mudança total da China para automóveis de última geração compensa em termos de tecnologia. Nos últimos dois anos, os fabricantes chineses ultrapassaram os rivais alemães em termos de tecnologias -- como uma tela sensível ao toque giratória de 15,6 polegadas na BYD — de acordo com um estudo do Center of Automotive Management.

“Vemos uma mudança no equilíbrio de poder em relação aos fabricantes chineses”, disse Stefan Bratzel, diretor do grupo de pesquisa sediado em Bergisch Gladbach, Alemanha. “É um grande desafio para as montadoras alemãs, que precisam justificar seus preços mais altos com pelo menos a mesma inovação.”

A BYD, no entanto, tem um longo caminho a percorrer para conter o poder de mercado da Volkswagen na Europa. A empresa sediada em Shenzhen lista apenas 27 revendedores na Alemanha, em comparação com centenas que vendem carros VW. E o desafio de superar a afinidade cultural ficou evidente na exposição da BYD perto do Reichstag em Berlim.

“Toda nova marca tem problemas iniciais, como falhas de software ou recalls, e primeiro precisa provar seu valor”, disse Koray Özbagci, um estudante alemão de ciências sociais de 28 anos, sentado em um sedã Seal e testando seu sistema de entretenimento.

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Redução de custos

A Volkswagen tem sido notável por sua ausência. No último Campeonato Europeu em 2021, a marca alemã foi uma das principais patrocinadoras e usou o torneio de um mês para promover o lançamento da linha ID de veículos elétricos. Este ano, decidiu se retirar como patrocinadora principal para economizar custos, deixando o campo para sua rival chinesa.

“O patrocínio da BYD à Eurocopa em nosso território é uma competição normal”, disse um porta-voz da Volkswagen. “Levamos isso na esportiva”, acrescentou, observando que a marca ainda está ativa por meio de seu apoio a cinco seleções nacionais, incluindo a Alemanha.

Mesmo assim, a estratégia de carros elétricos da VW continua sendo um trabalho em andamento, enquanto a competição cada vez maior com a BYD reforça o senso de urgência. A linha ID sofreu bugs de software e tem lutado para ganhar um grande número de seguidores dos consumidores.

O último esforço da montadora alemã ocorreu na terça-feira (25), quando a gigante automobilística alemã anunciou planos de investir até US$ 5 bilhões em uma parceria com a fabricante americana de veículos elétricos Rivian Automotive.

O acordo ocorreu quase um ano após um acordo semelhante com a chinesa Xpeng. Ambos fazem parte dos esforços para consertar a unidade de software interna Cariad, cujos problemas atrasaram novos veículos lucrativos como o Porsche Macan elétrico.

Embora os problemas da Volkswagen criem uma abertura de mercado para a BYD, o marketing de futebol está longe de ser uma maneira infalível de conquistar fãs, e os esforços da marca chinesa mostraram que ela ainda tem muito a aprender sobre como cortejar os consumidores europeus.

Em anúncios em outdoors de estádios, a empresa se orgulha de ser a produtora número um de “NEVs”: Novos Veículos Elétricos, uma sigla comum na China. “Ninguém na Europa sabe o que isso significa”, disse Daniel Kirchert, chefe da consultoria de mobilidade elétrica Noyo e ex-executivo da BMW.

A confusão levou a BYD a responder por meio de uma publicação nas redes sociais na sexta-feira (28), dizendo: “A questão na mente de todos está respondida”.

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