Bloomberg Línea — Os últimos quatro anos foram de aumento dos investimentos em abertura de novas lojas, logística e tecnologia para a Panvel, um dos maiores grupos de farmácias do país.
O plano estratégico pensado e executado para tornar a rede preparada para atender de forma eficiente os novos hábitos dos consumidores demandou investimentos somados de quase R$ 1 bilhão (em uma estimativa do grupo que inclui capital de giro para aumento de estoques).
Mas agora a empresa avalia que chegou o momento em que os resultados ganham cada vez mais tração como reflexo de um crescimento em cima de alavancagem operacional do varejo.
“Chegamos a um ponto como se fosse um voo de cruzeiro, em que colhemos mais e mais os frutos dos investimentos”, disse Júlio Mottin Neto, CEO do Grupo Panvel, em entrevista à Bloomberg Línea.
Segundo o executivo, a evolução da Panvel permite manter os investimentos em patamares próximos aos atuais nos próximos anos, perto do que ele descreve como um “ponto de equilíbrio”.
“Estamos montando o orçamento para o ano que vem levando em consideração um incremento esperado de resultado e a geração de caixa cada vez maior”, explicou o executivo.
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Os resultados mais recentes da Panvel refletem essa mudança de patamar da companhia e foram fruto de um diagnóstico sobre as necessidades dos consumidores.
O momento de inflexão para “a nova Panvel”, como a fase é chamada na empresa, aconteceu em julho de 2020, com um follow-on de R$ 1,040 bilhão que levantou R$ 480 milhões na oferta primária - ou seja, em que recursos foram destinados para o caixa da companhia.
“Nós mudamos a empresa para permitir que o cliente possa comprar o que precisar, do jeito que quiser, no momento em que preferir, com entrega na farmácia ou em sua casa no tempo que escolher”, resumiu, sobre um fenômeno presente em particular para as maiores redes, como RD Saúde e Pague Menos (que, a exemplo da Panvel, também têm conseguido entregar uma jornada de transformação e expansão).
“Esse é o grande desafio do varejo: entender e acompanhar as mudanças do consumidor.”
É uma estratégia que passa pela expansão da rede de farmácia: neste ano são 60 novas unidades. É o quarto ano seguido com o mesmo ritmo de abertura e, segundo ele, com “escolhas assertivas sobre o ponto, sem que isso impacte o resultado, como às vezes acontece em outros casos no varejo.”
“Buscamos combinar a abertura de lojas com as mudanças de comportamento do consumidor, que está cada vez mais ávido por economia de tempo e conveniência maior”, disse o CEO.
Ao falar de “assertividade”, Mottin Neto fez referência ao que é uma questão recorrente de investidores e analistas sobre a expansão, que é o risco de “canibalização” de lojas. Ele destacou que a Panvel segue com foco nos estados da região Sul, que demonstram ainda amplo potencial de mercado, segundo os estudos da rede, e que cerca de metade das aberturas se deu no estado natal do Rio Grande do Sul.
Na rede que contava com 612 lojas no fim de setembro, cerca de 30% estava em “fase de maturação”. “É um período de até três anos em que uma nova loja ainda não atingiu seu pico de vendas nem de resultado”, disse Antonio Carlos Napp, CFO e Diretor de Relações com Investidores, na mesma entrevista.
As vendas médias por lojas maduras superaram R$ 765 mil no terceiro trimestre, com aumento de 13,9% na comparação anual; no grupo todo, a média passou de R$ 702 mil (+11,9%).
“Isso representa resultado que está ‘armazenado’ para os próximos trimestres e anos. Ainda há muito potencial para tirar dessa frente de lojas”, disse o executivo-chefe financeiro.
Segundo Napp, a principal contribuição para a margem tem vindo justamente do amadurecimento das lojas. “As lojas mais maduras estão entregando uma performance melhor do que prevíamos e isso se reflete na última linha [a do lucro] rapidamente.”
Uma situação semelhante se dá na frente de logística, em particular do centro de distribuição em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, que deve se refletir de maneira mais clara neste trimestre atual e, em particular, nos resultados em 2025, segundo ele.
Por fim, os investimentos em tecnologia representam um “jogo vivo, infinito”, cujo potencial está longe de ser alcançado, mas que já se reflete em números que a Panvel (PNVL3) considera relevantes.
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O uso de IA (Inteligência Artificial) generativa tem sido direcionado para melhorar a qualidade do atendimento, por meio de uma ferramenta chamada Sofia, e para ampliar a produtividade da operação em seis frentes: de gestão dos estoques ao pricing de produtos e ao sortimento das lojas.
No mix das lojas, a Panvel tem atuado para reforçar o atendimento tanto em medicamentos como em serviços de saúde, como vacinas,, diante do entendimento - com base em dados - de que ambos são fundamentais para ampliar a fidelização e a recorrência dos consumidores em suas unidades.
“Hoje não inauguramos mais loja sem que tenha uma sala de atenção farmacêutica”, disse o CEO.
O investimento em inovação pode ser mensurado em indicadores como o crescimento do aplicativo, cujas vendas subiram 30% da base anual e já responde por 21,2% do volume total - essa fatia estava pela metade antes da pandemia. É uma participação acima das maiores redes do país.
Diante dessa equação, a companhia que teve origem no Rio Grande do Sul na década de 1960 pelo pai do atual CEO, Julio Mottin, um dos cofundadores, vem de um crescimento composto ao ano (CAGR, na sigla em inglês) de receita bruta do varejo de quase 18% desde 2021 e de 27% do Ebitda. E que ganha tração.
Os dados recém-divulgados do terceiro trimestre trouxeram crescimento de 27% no Ebitda - métrica de geração de caixa operacional -, para R$ 71,8 milhões, e de 37% no lucro líquido, para R$ 37,3 milhões, além de alta de dois dígitos nas vendas tanto no número global como no conceito de mesmas lojas.
O Ebitda do varejo também avançou 27%, para R$ 151 milhões, com aumento de margem, como resultado de aumento de produtividade por loja, gestão mais eficiente do mix de vendas, desempenho melhor de lojas maduras. “Também tivemos muita diluição de despesas”, disse o executivo.
As receitas brutas avançaram 17% na base anual, para R$ 1,289 bilhão de julho a setembro. “A empresa deve faturar R$ 5,2 bilhões neste ano e mira R$ 6 bilhões”, disse Mottin Neto.
Os resultados trouxeram evolução ainda maior na base trimestral, dado que o período imediatamente anterior sofreu o impacto das enchentes históricas no Rio Grande do Sul. “Os números, sob essa ótica, deixaram não só a diretoria mas os funcionários muito contentes pelo poder de recuperação.”
Os números foram bem avaliados por analistas. Na visão do time que cobre consumo para o Itaú BBA, “a Panvel continuou a apresentar resultados sólidos, com um forte crescimento em lojas maduras e ganhos de participação de mercado em todos os estados do Sul”.
“Estamos atualizando nossos números para incorporar os resultados do 3T24 e continuamos a perceber uma combinação atraente de resultados resilientes, narrativa de crescimento e valuation convincente (11,2x P/L 2025 estimado)”, escreveram os analistas em relatório após o resultado.
O preço-alvo fixado para o fim de 2025 é de R$ 13,00, o que implica um upside da ordem de 33% em relação ao fechamento da quinta-feira (14), de R$ 9,85 - em 12 meses, a ação tem queda perto de 18%.
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