Na Oncoclínicas, o crescimento já contratado vai gerar resultado em breve, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Bruno Ferrari diz que o crescimento orgânico de dois dígitos ganhará impulso com a entrega de projetos até o fim do ano, como efeito de alavancagem operacional

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Bloomberg Línea — Principal player do segmento de tratamento oncológico no país, a Oncoclínicas entrou no radar de preocupação de parte de investidores e analistas em razão da alavancagem considerada elevada e de resultados operacionais que ficaram aquém das estimativas no primeiro trimestre deste ano.

Mas esse momento ficou para trás e a empresa não só entrou em uma nova fase de recuperação das métricas de forma orgânica, como visto no segundo trimestre (veja mais abaixo), como tem um crescimento contratado que vai refletir em breve, principalmente a partir de 2025, a conclusão de uma série de investimentos que reforçam sua estrutura. É o que afirma o CEO e fundador da Oncoclínicas, Bruno Ferrari.

“Há uma crítica no mercado sobre o capex [investimento], mas até o fim do ano concluímos 100% desses projetos”, disse Bruno Ferrari em entrevista à Bloomberg Línea.

“No ano que vem, nada disso é greenfield, tudo é brownfield. Anunciamos em pílulas esse capex. Por exemplo, a unidade de transplante do Santa Izabel, o novo bloco cirúrgico no centro de imagem e assim por diante. Isso estará consolidado como receita no ano que vem. Nós preparamos a companhia”, afirmou.

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O CEO da Oncoclínicas (ONCO3) ponderou que, quando as decisões de investimento foram tomadas, o momento, bem como as taxas de juros, era outro.

“Mas foram decisões acertadas. Hoje temos uma companhia, do ponto de vista estrutural e de fundamentos, muito melhor e mais bem capacitada para crescer organicamente do que no início deste ano. E no ano que vem estará melhor do que hoje”, afirmou.

E isso, segundo ele, vai significar que a empresa vai tirar proveito da alavancagem operacional em um mercado em que o volume de pacientes vai crescer independentemente do que seja adotado de medidas, dada a tendência de aumento dos casos de câncer.

Diante desse quadro, a companhia terá condições de crescer sem necessidade de aumento dos investimentos. “Começamos a pensar o orçamento do ano que vem com capex de manutenção, pois a companhia está estruturada”, reforçou como mensagem o CEO e fundador da Oncoclínicas.

Segundo ele, projetos de expansão que hoje consomem caixa vão passar a gerar, e isso é algo que não está ainda refletido nos resultados, o que só deve aparecer de forma positiva no quarto trimestre e, de forma mais ampla e consistente, a partir do próximo ano. “Estará tudo inaugurado”, disse Ferrari.

“Temos uma série de projetos de expansão, que se referem aos cancer centers, que não aparecem nos resultados que apresentamos mas que representam crescimento contratado no médio e no longo prazo”, afirmou Cristiano Camargo, Diretor Financeiro (CFO), de Estratégia e de Relações com Investidores (RI), na mesma entrevista à Bloomberg Línea.

O CFO destacou a avaliação de que há espaço para crescimento não só regionalmente como dentro da jornada de tratamento do paciente em um mercado que cresce naturalmente de forma orgânica. “Embora seja o maior player do mercado de tratamento oncológico, a Oncoclínicas tem 8% de market share.”

Crescimento orgânico e retomada da rentabilidade

No resultado do segundo trimestre, divulgado no fim da tarde de terça-feira (13), a Onclínicas reportou crescimento de 16,1% na base anual no conceito “mesmas clínicas” - ou seja, orgânico -, para R$ 1,724 bilhão. Na base trimestral, a taxa de expansão dobrou para 6,3%, versus 3,1% dos três primeiros meses do ano.

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“Há uma demanda bastante resiliente de tratamentos oncológicos por parte dos nossos pacientes. Dois terços do crescimento são explicados pelo aumento do volume de tratamentos, e um terço, pelo repasse de preços junto a operadoras de saúde”, disse o CFO.

Essa composição se traduz em um crescimento mais sustentável, segundo o executivo.

Outro destaque do resultado, segundo Camargo, foi a recuperação da rentabilidade, fruto de um “trabalho muito ativo na companhia de gestão de despesas operacionais”, principalmente com foco em pessoal, iniciado no primeiro trimestre.

O Ebitda Ex-PILP (que exclui o efeito não caixa da apuração do valor justo do plano de incentivo de longo prazo), que mede a geração de caixa operacional, chegou a R$ 300,2 milhões no segundo trimestre, com avanço de 11,9% na base anual e de 25% em relação ao trimestre anterior.

Essa margem Ebitda voltou ao patamar histórico de 19% - ficou em 19,2% -, depois da queda que gerou repercussão negativa no mercado para 16,5% nos três primeiros meses do ano.

Como reflexo dessa agenda da busca por eficiência, o indicador que mede a relação das despesas operacionais sobre as receitas líquidas recuou de 16,8% no primeiro trimestre para 14,7% no segundo. E essa é uma agenda permanente cujos resultados estão apenas no começo, disseram Camargo e Ferrari.

Outro indicador observado de perto por investidores e analistas que também apresentou melhora foi o PCLD (Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa), que reflete os prazos de pagamento de operadoras de saúde de maneira geral - quando há aumento, em geral sobe o provisionamento.

O PCLD foi equivalente a 3,1% da receita bruta de abril a junho, o menor patamar em quatro trimestres e 70 pontos base abaixo do registrado nos primeiros três meses do ano, ainda que acima da média histórica da companhia, no intervalo entre 2,0% e 2,5%.

Foco na desalavancagem

O resultado do segundo trimestre também confirmou a redução da alavancagem da companhia - com referência da dívida líquida financeira mais aquisições a pagar - para o equivalente a 2,5x o Ebitda ajustado anualizado, versus 3,9x no primeiro trimestre.

A redução foi resultado principalmente do aumento de capital, homologado já no começo de julho, de R$ 1,5 bilhão, com aporte de R$ 1 bilhão pelo Banco Master, liderado por Daniel Vorcaro, e de R$ 500 milhões pelo fundador da Oncoclínicas. Mas houve contribuição também do aumento do Ebitda.

Ferrari e Camargo reforçaram o ponto de que, apesar da situação mais confortável - ou menos pressionada - do ponto de vista de estrutura de capital e alavancagem, novas aquisições não são prioridade.

“Sendo bastante pragmático, hoje a empresa respira um clima de desalavancagem. É o foco principal e todo mundo acorda, trabalha e vai dormir pensando em projetos que levem a isso”, disse o CEO. “A desalavancagem vai permitir que possamos crescer de forma saudável, mais eficiente e mais rápida em um futuro breve.”

“Já temos um crescimento contratado além desses projetos todos em construção. A capitalização se reflete em despesas financeiras em níveis saudáveis, que não sejam uma ofensora do resultado”, disse o CFO.

Um investimento recém-anunciado, por outro lado, foi o acerto de uma joint venture com a Advanced Drug Company for Pharmaceuticals, do Al Faisaliah Group, para o desenvolvimento de um centro de tratamento oncológico na Arábia Saudita, que pretende se tornar uma referência no Oriente Médio.

O investimento previsto pela Oncoclínicas para essa unidade em Riad, que representa o início de sua expansão internacional, é da ordem de US$ 10 milhões a US$ 20 milhões ao longo dos próximos três anos.

Por outro lado, a expectativa é que, no quinto ano da joint venture, essa operação possa gerar uma receita de US$ 550 milhões e um Ebitda perto de US$ 150 milhões, contando unidades adicionais que sejam financiadas com geração de caixa própria.

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