Na JBS, ação no ‘all-time high’ é reconhecimento da diversificação, segundo CFO

Cotação intraday descontados dividendos atingiu recorde histórico nesta terça-feira (20); ‘investidores começam a reconhecer valor de nossa plataforma diversificada’, disse Guilherme Cavalcanti

JBS é a maior empresa de processamento de proteína animal do mundo (Foto: Divulgação)
21 de Agosto, 2024 | 12:09 PM

Bloomberg Línea — Em um dos anos mais desafiadores para a indústria de carne bovina com presença no mercado americano, diante de rebanhos em níveis baixos e preços mais elevados do boi, a ação da JBS, maior empresa do mundo em processamento de proteína animal, atingiu um valor recorde nesta terça-feira (20).

A ação (JBSS3) descontada de dividendos na série histórica - iniciada em 2007 com a abertura de capital na bolsa brasileira - chegou a R$ 37,23 (veja gráfico abaixo) durante o pregão ontem, antes de encerrar o dia negociada a R$ 36,13.

Nesta quarta-feira (21), subiu 1,16%, para R$ 36,55. O valor de mercado atual da companhia é de R$ 81,1 bilhões.

Nos últimos 12 meses, o papel praticamente dobrou de valor, e há potencial para mais valorização adiante, a julgar pela revisão do preço-alvo por diferentes bancos que cobrem o setor nos últimos dias.

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As revisões acontecem depois da divulgação do resultado do segundo trimestre, que veio acompanhado do anúncio da aprovação do pagamento de R$ 4,43 bilhões em dividendos (veja mais abaixo).

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Para o CFO (executivo-chefe financeiro), Guilherme Cavalcante, o novo marco no mercado financeiro tem razões objetivas. “Os investidores começam a reconhecer o valor de nossa plataforma diversificada por proteínas e geografias”, disse o executivo à Bloomberg Línea.

A diversificação tem sido destacada por analistas do sellside, como foi o caso da equipe de equity research do BTG Pactual, em relatório distribuído a clientes nesta quarta-feira (21).

Ação da JB atinge maior cotação de sua história descontado o pagamento de dividendos (Fonte: Bloomberg)

“A JBS se destaca como a empresa de proteínas mais diversificada dentro de nossa cobertura, e isso tem se mostrado uma força crítica”, escreveram os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla.

“Apesar de enfrentar desafios em seu segmento principal, a carne bovina nos EUA, em que as margens foram pressionadas devido a um ciclo difícil, a JBS conseguiu entregar resultados sólidos no geral. Isso se deve, em grande parte, ao desempenho robusto de seus outros segmentos (aves, suínos e operações no Brasil e na Austrália)”, afirmaram os analistas que fazem a cobertura de empresas do setor.

O preço-alvo para a ação foi revisado pelos analistas do BTG Pactual de R$ 35,00 para R$ 47,00, o que implica potencial de ganho - upside - de cerca de 30% em 12 meses em relação ao fechamento na terça.

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Outros bancos de investimento ou casas também revisaram o preço-alvo nos últimos dias: no Morgan Stanley, de R$ 43,50 para R$ 49,00; no HSBC, de R$ 40,00 para R$ 48,00; na XP, de R$ 34,90 para R$ 47,90; e, no Bank of America, de R$ 40,00 para R$ 45,00.

“A JBS está atualmente se beneficiando de resultados recordes em seus segmentos de aves, PPC [Pilgrim’s Pride] e Seara, impulsionados por spreads excepcionalmente altos nos mercados dos EUA e do Brasil”, apontaram Duarte e Guttilla, do BTG Pactual.

O momentum favorável para o segmento foi destacado pelo CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, em declaração à Bloomberg News na semana passada, por ocasião do resultado do segundo trimestre. “O negócio de frango está forte em todas as regiões”, disse o executivo, que citou o quadro favorável com preços mais baixos de grãos - fonte para a ração animal - e um melhor equilíbrio entre oferta e demanda.

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“Nossa plataforma global multiproteínas tem permitido à JBS atenuar os ciclos naturais nos setores em que atuamos e manter uma saudável geração de caixa”, disse Tomazoni no release de resultados.

O CEO destacou o fato de que 75% do Ebitda - métrica de geração de caixa operacional - no segundo trimestre, que chegou a R$ 9,9 bilhões, foi resultado das operações de aves e suínos da companhia, citando a americana Pilgrim’s, a Seara e a JBS USA Pork.

Atualmente, quase um quarto (23%) da receita líquida (nos últimos 12 meses até o segundo trimestre) vem dos mercados de Austrália, Europa, Canadá e México; outros 29%, do Brasil, enquanto os Estados Unidos respondem pela maior fatia, de 48%.

Segundo a empresa na apresentação do balanço, a diversificação de geografias e de produtos tem resultado em menor volatilidade nos resultados ao longo dos trimestres e dos anos.

No mercado, investidores e analistas avaliam as perspectivas para a empresa e a operação específica em frangos.

“A questão crítica é determinar quando esse ciclo [no segmento de aves] irá se reverter. Os ciclos de aves geralmente são mais curtos, cerca de nove meses, mas a situação atual espelha 2015, quando um problema genético limitou o crescimento da oferta”, escreveram os analistas do BTG Pactual.

Pagamento de dividendos ao BNDES

Diante do momento favorável e dos resultados apresentados, a JBS anunciou na última semana o pagamento de R$ 4,43 bilhões em dividendos, dos quais R$ 923 milhões serão destinados ao BNDES, ainda um dos principais acionistas da companhia, com o equivalente a 20,81% do capital. A valores de mercado, essa participação é avaliada em cerca de R$ 17 bilhões.

O banco estatal de desenvolvimento, então sob a liderança do economista Luciano Coutinho, se tornou um dos principais investidores e acionistas da empresa com aportes que somaram R$ 8,1 bilhões entre 2007 e 2011.

Foi um momento em que a política industrial do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva priorizou o que ficou conhecido como estratégia das “campeãs nacionais”, de apoio financeiro a empresas que, em tese, teriam melhores condições de serem competitivas no mercado global.

Com o novo pagamento anunciado, os dividendos distribuídos ao BNDES desde 2007 somam R$ 4,143 bilhões. Além disso, houve a venda de ações ao mercado pelo banco estatal ao longo dos anos, que chegaram a R$ 10,080 bilhões.

- Matéria atualizada às 20h desta quarta (21) com a informação da cotação no fechamento do dia.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.