Na Espaçolaser, os planos de expansão passam pela América Latina, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Magali Leite explica os desafios na operação internacional em países como Chile, Argentina, Colômbia e Paraguai e a agenda de ganhos de eficiência no Brasil

Magali Leite, CEO da Espaçolaser
24 de Setembro, 2024 | 06:17 AM

Bloomberg Línea — Na Espaçolaser, a estratégia para o crescimento tem buscado conciliar a ampliação da rede com a preservação da rentabilidade, o que significa privilegiar parcerias e franquias em vez de depender apenas de capital próprio. Um exemplo dessa abordagem tem sido a expansão gradual em alguns dos principais mercados da América Latina.

“Continuamos a crescer na operação internacional”, disse a CEO da Espaçolaser, Magali Leite, em entrevista à Bloomberg Línea. A executiva assumiu o comando em março, em substituição a Paulo Camargo, que renunciou alegando razões pessoais - então CFO da companhia, ela acumulou o cargo até julho.

Segundo Leite, a Espaçolaser (ESPA3) tem conseguido um crescimento acima da média no Chile e na Colômbia com um plano que inclui parcerias estratégicas (no segundo caso). No segundo trimestre, o Chile superou a Argentina como o principal mercado da empresa no exterior.

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“No Chile, há uma forte cultura de compra online de produtos de estética. As operações vão muito bem. No segundo semestre, houve a cyber week, principal campanha de vendas com descontos no país”, disse a CEO, que é também presidente do IBEF SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo).

As vendas no país andino atingiram recorde de R$ 11,4 milhões no segundo trimestre, com ganhos de 46,1% em 12 meses. No primeiro semestre, o crescimento foi de 34,5%, para R$ 18,6 milhões.

O grupo opera no Chile desde 2021, quando adquiriu o controle do grupo Cela, marca adotada em 27 lojas, das quais 18 são próprias. Uma franquia foi aberta no segundo trimestre.

A maior rede de depilação a laser do Brasil, que também está presente na Argentina e no Paraguai, possui 60 unidades fora do país, entre lojas próprias, com parceiros e franquias.

Esse número representa 7% do total de clínicas próprias e franqueadas do grupo (858), segundo dados até junho. As vendas brutas da operação na América Latina acumularam cerca de R$ 40 milhões no primeiro semestre, dos quais R$ 24 milhões no segundo trimestre, um aumento anual de quase 10%.

No prospecto de seu IPO concluído em fevereiro de 2021, que movimentou R$ 2,64 bilhões, a Espaçolaser descrevia sua estratégia de crescimento internacional em países da América Latina por meio da abertura de lojas próprias, franqueadas ou por meio de aquisições e joint ventures com parceiros locais.

Espaçolaser tem 60 lojas na América Latina

Leite contou que a expansão internacional começou antes anos do IPO, em 2018, com a inauguração de uma clínica na Argentina por meio de joint venture com a marca Definit by Espaçolaser.

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Há 25 unidades no país vizinho, sendo 18 próprias e sete franquias, incluindo duas aberturas do segundo trimestre. No total, são 858 lojas, das quais 798 lojas no Brasil e 60 na América Latina.

“Quando entramos como sócios na Argentina, já existia um negócio maduro, que funciona bem e opera mais conectada com a classe A, um público que conhecendo profundamente a tecnologia do laser. Foi um casamento que deu muito certo”, disse a executiva.

A operação argentina sofreu, no entanto,os efeitos da crise econômica prolongada, com hiperinflação, instabilidade política e desvalorização do peso. No primeiro semestre, as vendas caíram 16%, para R$ 19,7 milhões, enquanto o número de procedimentos recuou 2,2% para 133,2 mil na base anual. Mas isso não mudou os planos de manter negócios no país.

“Continuamos a apostar na Argentina, pois é uma operação rentável”, disse a executiva.

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A presença da Espaçolaser na Colômbia, por sua vez, conta com sete lojas franqueadas. Em janeiro, a companhia anunciou uma parceria estratégica com a F3L, que assumiu a operação iniciada em 2020 em Bogotá com lojas próprias. Em maio, houve um rebranding e o relançamento da marca Espaciolaser. As vendas totalizaram R$ 3 milhões no primeiro semestre, um aumento de 32,4%.

A companhia atua ainda no Paraguai com duas lojas.

O plano para desembarcar no México, segunda maior economia da América Latina, foi citado no prospecto para o IPO, mas está em suspenso no momento diante do endividamento do grupo, o que limita a ambição do capex (investimento) para a expansão com recursos próprios.

Expansão e ganho de eficiência no Brasil

A CEO disse que o foco atual é aumentar a capilaridade no território brasileiro, em que a penetração dos serviços de depilação a laser ainda é considerada baixa.

A companhia também busca expandir o tíquete médio dos clientes e ampliar a rentabilidade com medidas de maior eficiência operacional e disciplina com despesas.

Ela destacou que, ao mesmo tempo, a companhia tem se esforçado para aumentar a geração de caixa e fortalecer sua estrutura de capital para fazer frente aos vencimentos de títulos de dívida.

No primeiro trimestre de 2025, o grupo tem programado o pagamento da primeira parcela trimestral do principal de uma recente emissão de debêntures, cujos recursos foram captados para refinanciar dívidas de curto prazo.

A emissão, no montante de R$ 346,5 milhões, terá vencimento final em 2029 e faz parte de uma operação conjunta com a subsidiária integral e fiadora (Corpóreos Serviços Terapêuticos), totalizando R$ 733 milhões. O grupo tinha uma dívida bruta de R$ 770 milhões no final do primeiro semestre.

A CEO afirmou que a companhia negociou com bancos uma estrutura de capital capaz de atender todas as necessidades de recursos da companhia e que considera todos os cenários macroeconômicos, como a alta da taxa básica de juros.

Em julho, o conselho elegeu Fabio Itikawa como novo CFO e DRI da companhia, cargos que eram acumulados pela CEO desde março. Antes, ele trabalhava na São Carlos Empreendimentos (SCAR3).

“Temos uma contínua melhoria operacional, maior conversão de Ebitda em caixa e redução da alavancagem financeira. Terminamos o segundo trimestre com nível de 2,2 vezes, sendo que o covenant da emissão de debêntures é de 3 vezes”, disse Leite.

A companhia tem reajustado sua tabela de serviços desde o final do primeiro semestre, segundo ela, sem revelar os percentuais, com expectativa de vendas fortes no último trimestre do ano devido à sazonalidade do período e o apelo de campanhas como Outubro Off e Black Friday. A CEO acrescentou que o investimento em marketing digital tem se convertido em receita com mais eficiência.

A agência de classificação de risco Fitch, que adotou perspectiva estável para o rating da companhia em fevereiro, avaliou que houve uma redução das pressões sobre a liquidez da Espaçolaser e dos riscos de refinanciamento em decorrência da última emissão de debêntures. E destacou a liderança do grupo no setor, sua diversificação geográfica e a força da marca.

“A Espaçolaser deve continuar se beneficiando dos ajustes realizados em sua operação ao longo de 2023, a fim de aumentar eficiência e ganhos de produtividade em suas lojas. O crescimento de 2024 deve ser apoiado por mais vendas a preços cheios que em 2023, em detrimento do volume de clientes. A estratégia anterior era aumentar a quantidade de novos clientes por meio de promoções agressivas”, disse a Fitch.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.