Na batalha das contas globais, Wise avança com produto para pequenas empresas

Em entrevista à Bloomberg Línea, Enio Almeida, diretor executivo para o Brasil da fintech global, disse que estudos apontaram a demanda para o produto, que terá transações em mais de 40 moedas

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Bloomberg Línea — A conta global se tornou um dos novos produtos de maior demanda para brasileiros no sistema financeiro. De fintechs a bancos digitais e incumbentes, muitos passaram a oferecer esse serviço não só para a base já formada de clientes mas como forma de atração de novos consumidores.

Nessa batalha, um novo passo importante do ponto de vista de mercado endereçável acaba de ser dado pela Wise, fintech britânica de alcance global, que acaba de lançar uma conta global PJ voltada para pequenas empresas e microempreendedores no Brasil.

“É uma demanda que escutamos dos nossos clientes em diferentes pesquisas. Cerca de 30% da nossa base é de donos de empresas e muitos têm planos de oferecer serviços para o exterior”, disse Enio Almeida, diretor executivo da Wise para o Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

Essa característica envolve a recorrência tanto de recebimento como de pagamento em outras moedas, muitas vezes além do dólar e do euro, para citar as duas mais utilizadas.

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Inicialmente, o produto é voltado para empresas com um único dono e até dez funcionários, mas há, segundo Almeida, naturalmente planos para que isso seja estendido para companhias maiores - sem citar um cronograma específico.

Segundo ele, a nova conta global, denominada Wise Empresas, é a primeira do mercado brasileiro para pessoas jurídicas com esse tamanho que permite receber pagamentos em até 18 moedas e realizar transações como compras em outras jurisdições em mais de 40 moedas e acima de 150 países. São funcionalidades já presentes para a conta global da Wise para pessoas físicas.

A plataforma multimoedas será um dos diferenciais do produto, além de custos em geral mais baixos - atestados em diferentes pesquisas independentes de mercado - e transparência sobre as taxas cobradas. Os valores vão ficar disponíveis imediatamente, 24x7 (24 horas por dia, sete dias por semana), com a conversão para a conta brasileira que pode ser realizada por meio de Pix.

O limite por operação de transferências realizadas de reais para outra moeda é de R$ 29.000, enquanto transferências de outras moedas para reais tem o teto de R$ 250 mil. Segundo ele, limites mensais variam de acordo com a natureza legal e o faturamento de cada empresa.

O executivo citou como estimativa de mercado endereçável um dado do IBGE de 2022 que calculou em 16 milhões o número de microempreendedores no país, dos quais cerca da metade em atividades do setor de serviços. “É um dos públicos que procuramos atender”, afirmou.

A nova conta global poderá também evitar a prática não recomendada por especialistas, mas comum na vida prática do dia-a-dia do empreendedor, de uso da conta pessoa física para realizar transações em moeda estrangeira, na avaliação do executivo.

Outras funcionalidades da nova conta global para pequenas empresas incluem um cartão de débito internacional com a bandeira Visa que poderá ser distribuído para colaboradores das mesmas.

Cada titular de conta poderá solicitar um cartão físico e até cinco cartões digitais. Também é possível definir limites de gasto nos cartões de despesas dos funcionários e monitorar as transações em tempo real, com o objetivo de proporcionar um controle financeiro mais eficiente.

“Esse foi o primeiro cartão desenvolvido especificamente para microempresas brasileiras com operações globais. Junto com a Wise, queremos construir um ecossistema que capacita empresas no Brasil a crescer internacionalmente,” disse Eduardo Abreu, VP de Novos Negócios da Visa do Brasil, em nota.

No processo de desenvolvimento do produto, que levou perto de um ano, a Wise realizou pesquisas para entender o mercado. Em uma das mais recentes, com cerca de 470 microempreendedores (com até dez funcionários), em parceria com a Opinion Box em outubro, dois terços disseram que planejavam oferecer serviços a empresas ou indivíduos fora do país nos próximos 12 meses.

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Por outro lado, quase um terço (31%) disse que os planos de expansão da operação para outros países tinham como fator de risco os custos elevados envolvidos nas transações de câmbio.

“Esperamos atrair muitas empresas com a conta global”, disse Almeida.

O diretor executivo também afirmou que o novo produto levou em conta também lições aprendidas em outros mercados em que o Wise Business - nome em inglês - está presente, como Estados Unidos, Canadá e em países asiáticos.

Evolução do mercado

Em abril passado, a Wise anunciou uma parceria para oferecer o serviço de conta global para clientes de alta renda do Nubank (NU), no segmento chamado de Ultravioleta.

Não há previsão imediata para que o novo Wise Empresas esteja disponível também para a base de clientes PJ do Nubank, que chegou perto de 3 milhões de empresas, nos critérios hoje atendidos.

O banco digital se tornou o maior do país para PMEs (pequenas e médias empresas), segundo disse Guilherme Lago, CFO do Nubank, em entrevista recente à Bloomberg Línea.

O segmento de conta global para clientes e investidores de varejo começou a ganhar “tração” nos últimos anos com o início da oferta por fintechs, neobanks e grandes bancos. A pioneira foi a Avenue, fundada por Roberto Lee, que lançou a empresa em 2018 com a visão de que haveria demanda e necessidade pelo serviço até então disponível apenas para clientes de private banking e wealth management.

A Avenue entrou naquele momento com o serviço de corretora para investimentos nos Estados Unidos tanto para clientes pessoas físicas como empresas.

Nos anos seguintes, neobanks como C6 Bank, Inter e BS2, fintechs nacionais como a Nomad e globais como Wise e Revolut, especializados em investimento como BTG Pactual e XP, e incumbentes como Itaú (ITUB4) - que veio a acertar a compra de 50,1% da Avenue em julho de 2022 - e Bradesco lançaram o serviço. Cada um com sua estratégia e oferta específica de conta global com ou sem investimentos.

No Inter, a estratégia incluiu a abertura de uma operação completa nos Estados Unidos, segundo explicou o CEO, João Vitor Menin, em entrevista à Bloomberg Línea em Miami. Nesse caso, no entanto, a ambição se traduz em uma instituição financeira brasileira com alcance global.

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