Bloomberg Línea — José Isaac Peres, pioneiro dos shopping centers de alto padrão no Brasil, decidiu ampliar a posição de controle de sua família na Multiplan (MULT3), grupo mais valioso do setor e que possui um faturamento anual de R$ 2,2 bilhões (dados de 2023).
O empresário bilionário pretende exercer seu direito de preferência na recompra de uma parte das ações colocadas à venda pelo seu sócio canadense de longa data, o fundo de pensão OTPP (Ontario Teachers’ Pension Plan), em uma transação avaliada em cerca de R$ 470 milhões, segundo fato relevante divulgado ontem (19). A conclusão do negócio está prevista para novembro.
A maior parte da recompra caberá à própria Multiplan, no valor aproximado de R$ 2 bilhões, o que levará o total da operação para algo perto de R$ 2,5 bilhões. A fatia de 18,52% do capital nas mãos dos canadenses será dividida, portanto, entre a família (19,26% do lote) e a companhia (80,94%).
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A participação da holding da família Peres (MPAR) na Multiplan deve subir de 26,20% para 35,37%. O OTPP, segundo maior acionista do grupo, detém 19,06% e formalizou em junho a decisão de desinvestimento.
O negócio elevará o nível de alavancagem da Multiplan. A companhia ainda avalia alternativas para reduzir o patamar de endividamento, entre as quais a venda de certos ativos do portfólio.
“Estudamos desalavancar a companhia de diversas formas. Uma das possibilidades é talvez negociar alguma participação em algum lugar. Isso pode acontecer em um futuro próximo, porque desejamos estar pronto se uma próxima oportunidade aparecer”, disse Eduardo Peres, CEO da Multiplan, em teleconferência com analistas e investidores nesta sexta-feira (20).
Filho do fundador da Multiplan, Eduardo Peres assumiu o cargo de CEO em fevereiro do ano passado. Naquela época, disse em entrevista à Bloomberg Linea que o pai continuaria como uma voz ativa dentro do conselho da companhia como chairman e à frente dos projetos imobiliários do grupo. O fundador conduziu a sucessão em um momento de desempenho recorde de vendas.
José Isaac Peres, 84 anos, fundou a Multiplan em 1975. Em quase cinco décadas, ergueu empreendimentos de referência para o setor, especialmente em seus primeiros anos, como o BarraShopping e o New York City Center, no Rio de Janeiro, e o MorumbiShopping, em São Paulo.
Hoje a companhia administra 20 shoppings espalhados em seis estados e no Distrito Federal. Tem como principais concorrentes no segmento de alta renda os 16 shoppings do Iguatemi (IGTI11) e sete da JHSF (JHSF4). A Multiplan executa hoje obras de revitalização em 14 shopping centers.
A Allos (ALOS3), empresa resultante da fusão da brMalls com a Aliansce Sonae, tem cerca de 50 empreendimentos e perto de R$ 2,5 bilhões em faturamento líquido anual.
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O CEO da Multiplan descartou uma mudança significativa nos projetos de expansão com o aumento da alavancagem decorrente da recompra da fatia dos canadenses. O nível de endividamento já era considerado baixo (1,4x o Ebitda) e a expectativa é a de continuidade do crescimento de receitas.
“Temos bastante tranquilidade para fazer esse investimento e aproveitar essa oportunidade”, disse o executivo, em referência ao preço acordado de R$ 22,21 por ação, o que representa um desconto de 16% em relação ao preço de fechamento recente.
Próximos passos
O próximo passo do negócio é a sua análise em assembleia geral de acionistas convocada para 21 de outubro. O mercado vê a probabilidade de aprovação como alta.
Em relatório enviado a clientes, os analistas Ygor Altero e Ruan Argenton, da XP, citaram “a natureza atrativa” da proposta para os acionistas da Multiplan para embasar esse cenário.
“Se a recompra for concluída, os acionistas verão sua participação aumentar em 18,5%, com o free float [ações de circulação livre] alcançando 64,6% [excluindo ações em tesouraria]. Acreditamos que isso pode aumentar a liquidez das ações, ao mesmo tempo em que melhora os resultados por ação”, escreveram os analistas.
Eles também disseram considerar que o aumento de participação da holding da família Peres para 35,4% das ações (ex-tesouraria) é positivo, dado que ela mantém uma posição de controle, e não enxergaram risco no maior nível de alavancagem projetado com o negócio.
“A posição de caixa atual da Multiplan de R$ 997 milhões sugere que a captação de dívida pode ser necessária para concluir as recompras de ações de R$ 2 bilhões. Do ponto de vista de originação, não vemos isso como um risco, visto a forte demanda do mercado por recebíveis imobiliários (CRIs), com spreads em queda”, apontaram os dois analistas da XP.
O CFO da Multiplan, Armando d’Almeida Neto, explicou durante a teleconferência que a recompra pela companhia terá três etapas: uma operação inicial e cancelamento total de 36 milhões de ações (R$ 800 milhões), seguida por uma recompra de 33 milhões de ações (R$ 733 milhões) com cancelamento total ou parcial, e, finalmente, uma recompra restante de 21 milhões de ações (R$ 468 milhões).
“A decisão sobre o cancelamento integral ou parcial do terceiro lote ainda será tomada”, disse o executivo.
Avaliada na Bolsa em cerca de R$ 16 bilhões, a Multiplan tem valorização de 5,5% em 12 meses. Em 2024, as ações tinham queda de 6,47% até ontem, em um ano de queda do Ibovespa (-0,79%). O papel oscilou nesta sexta-feira próximo da estabilidade e encerrou com queda de 0,75%.
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