Mudanças no comando da Stellantis evidenciam o tamanho de seus desafios

A substituição da CFO Natalie Knight e as trocas na operação da América do Norte ocorrem em meio às tentativas da montadora de reverter a queda significativa dos lucros

Homem branco de cabelos grisalhos e óculos de armação fina. Ele parece consternado
Por Albertina Torsoli - Stefan Nicola - Daniele Lepido
13 de Outubro, 2024 | 07:12 AM

Bloomberg — O CEO da Stellantis (STLA), Carlos Tavares, conseguiu sobreviver a um desastroso colapso nos lucros ao dispensar a CFO do grupo, como parte de uma ampla revisão de sua equipe de liderança.

Mas a medida apenas aumenta a pressão sobre o executivo de 66 anos para corrigir os tropeços da montadora. Com o fim - previsto para o começo de 2026 - de seu mandato de quase cinco anos, Tavares terá menos poder de influência para lidar com a queda nas vendas, estoques inchados e uma linha de veículos americana ultrapassada nas marcas Jeep e RAM.

O conselho de administração já está à procura de um sucessor para Tavares quando seu contrato terminar em pouco mais de um ano, e o episódio custou ao executivo veterano uma credibilidade duramente conquistada junto a Wall Street, que anteriormente havia aplaudido sua mentalidade de corte de custos.

As mudanças na diretoria anunciadas na quinta-feira (10), além de uma lista crescente de saídas de executivos, “provavelmente não serão capazes de acalmar os nervos dos investidores”, disseram analistas da Bernstein, incluindo Daniel Roeska. Em vez disso, a Stellantis deve “abordar claramente os erros e os desafios”.

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Esses desafios vão muito além do mandato da CFO Natalie Knight, que se juntou à empresa em julho de 2023.

A Stellantis sofreu com a queda nas vendas na América do Norte, com o atraso no lançamento de novos modelos na Europa, com problemas de qualidade e com a ameaça de greves nos Estados Unidos e na Itália. Os contratempos coincidiram com uma desaceleração mais ampla da demanda por veículos elétricos.

As ações da Stellantis caíram até 4,8% na sexta-feira (11) em Milão, somando-se a um declínio de 45% no acumulado do ano, à medida que suas perspectivas - os guidances - diminuíram.

Tavares buscou cortes rigorosos nos custos para combater a queda nas vendas e a intensificação da concorrência dos fabricantes chineses. Nos EUA, as marcas Jeep, RAM, Dodge e Chrysler enfrentam problemas de qualidade e declínio na participação de mercado.

Em setembro, os líderes da rede de concessionárias norte-americanas da Stellantis criticaram o CEO por presidir uma “rápida degradação” das marcas da montadora no país.

Os varejistas acusaram Tavares de “tomar decisões de curto prazo” que aumentaram os lucros no ano passado e eleveram a remuneração do CEO. As medidas acabaram diminuindo a participação de mercado da empresa e prejudicando suas marcas, disse o conselho nacional de revendedores em uma carta aberta a Tavares datada de 10 de setembro.

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Embora a declaração da empresa na quinta-feira tenha citado o apoio “unânime” ao CEO, o conselho começou a procurar um substituto para assumir o lugar de Tavares quando seu contrato terminar no início de 2026.

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O presidente do conselho, John Elkann, lidera o comitê especial que supervisiona esse esforço, que deverá ser concluído no final do próximo ano. A holding Exor, de sua família, é a maior acionista da Stellantis.

Knight, que será substituída por Doug Ostermann, enfrentou reações negativas em relação a um aviso sobre resultados em 30 de setembro, que fez com que as ações despencassem. Isso aconteceu uma semana depois que ela caracterizou a meta de margem para o ano inteiro da empresa como “ambiciosa”.

Knight foi a primeira executiva a dar o alarme inicial sobre as expectativas da Stellantis durante uma call com analistas em 30 de abril. Embora as ações já estivessem em uma tendência de queda antes desse evento, seu declínio se acelerou a partir daquele momento.

Uwe Hochgeschurtz, que atuou como diretor de operações da região ampliada da Europa, também deixará a empresa.

A Stellantis também fez mudanças em sua liderança na América do Norte e no topo das marcas Maserati e Alfa Romeo. As mudanças ocorrem depois que o conselho de administração da Stellantis realizou uma reunião de dois dias nos EUA nesta semana.

A Bloomberg News informou na quarta-feira (9) que Tavares estava de olho em uma mudança na administração em resposta ao momento difícil da montadora.

A revisão incluiu uma projeção de fluxo de caixa livre industrial para, na pior das hipóteses, 10 bilhões de euros negativos (US$ 10,9 bilhões) – um recuo dramático em relação ao guidance anterior de um resultado positivo. Os analistas rebaixaram as ações e disseram que a magnitude dos cortes levou a uma perda de credibilidade da alta administração.

Como parte da mudança, Antonio Filosa foi nomeado COO da América do Norte, além de sua função como CEO da marca Jeep. O ex-presidente da Stellantis para a América do Sul substitui Carlos Zarlenga, cujo próximo cargo “estará sujeito a um novo anúncio”, disse a Stellantis em comunicado. Santo Ficili foi nomeado CEO da Maserati e da Alfa Romeo.

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