Moura Dubeux diversifica atuação para liderar em produtos imobiliários no Nordeste

CEO Diego Villar detalhou em entrevista à Bloomberg Línea os planos da companhia, que acaba de completar cinco anos de listagem na B3, para crescer em todos os segmentos de renda

Primeiro empreendimento da Moura Dubeux
21 de Fevereiro, 2025 | 06:02 AM

Bloomberg Línea — A Moura Dubeux, única incorporadora do Nordeste listada na bolsa, completou em fevereiro cinco anos de sua abertura de capital na B3. A trajetória é marcada pelo crescimento da operação, ainda que essa evolução não tenha sido acompanhada pelo valor de mercado da companhia - a exemplo de muitas empresas cujas ações são impactadas pelos anos de juros altos e amplas incertezas na economia.

Os papéis são negociados na casa dos R$ 13 – abaixo dos R$ 19 do preço de estreia em 2020.

PUBLICIDADE

No mesmo período, a Moura Dubeux cresceu cerca de 40% ao ano, reduziu a alavancagem e multiplicou o VGV (Valor Geral de Vendas) dos lançamento por cerca de sete vezes (veja mais abaixo).

Para o CEO, Diego Villar, o que falta para fechar o gap entre o descompasso dos números da operação e preço de tela da ação é a recuperação do cenário macroeconômico. Mas, enquanto esse momento não chega, a empresa executa planos ambiciosos: “nossa ambição é nos tornarmos a maior plataforma de produtos imobiliários do Nordeste”, disse o CEO em entrevista à Bloomberg Línea.

De acordo com os planos, o motor para o crescimento até 2030 será a diversificação do core business de alta renda para incluir e fortalecer os segmentos de médio e baixo padrão no grupo.

PUBLICIDADE

Anunciada ao mercado no ano passado, a Única será a marca da Moura Dubeux para o MCMV (Minha Casa Minha Vida).

A empresa tem dois projetos no pipeline para 2025 e deve atuar no segmento de renda mais alta do programa habitacional do governo federal, o Faixa 3, que atende famílias com renda de R$ 4.700,01 a R$ 8.000.

A expectativa de Villar é que a Única alcance R$ 1,5 bilhão em vendas até 2030, o que levaria o patamar de vendas do grupo para R$ 3,5 bilhões ao ano, com lucro de R$ 600 milhões. O valor seria equivalente a quase quatro vezes o lucro de R$ 156 milhões no acumulado de 2023, para efeito de comparação.

PUBLICIDADE

Leia mais: Pioneira na ‘Dubai brasileira’ vê nova onda de valorização com revitalização de orla

O modelo construtivo do MCMV deve seguir o padrão da Mood, marca lançada pela Moura em 2023 para atender famílias com renda mensal de R$ 8.000 a R$ 15.000 (renda média).

A Mood faz uso do método construtivo de paredes de concreto em formas de alumínio, que industrializa e reduz custos do processo de construção e é comum em obras do MCMV. O diferencial da média renda para a Faixa 3 do programa são detalhes arquitetônicos e equipamentos do condomínio.

PUBLICIDADE

O segmento de média renda já representa 30% dos lançamentos da Moura Dubeux, e a projeção é que responda por metade dos novos empreendimentos nos próximos dois anos.

“Com a Mood e a Única, ficamos bastante blindados aos riscos sazonais do Brasil”, disse o executivo.

“Temos não só a diversificação regional, que protege a empresa de revisões de plano diretor e momento de mercado de cada praça, como também a diversificação de produto, desde o Faixa 3 do MCMV até o altíssimo padrão com apartamentos de R$ 10 milhões”, afirmou Villar.

Criada em Recife, capital de Pernambuco, a Moura Dubeux tem hoje 70% de sua operação dividida entre Ceará, Bahia e Pernambuco. Outros 30% estão nas demais praças em mercados menores, de Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba.

A Moura Dubeux estima que tenha atualmente uma participação de 25% do mercado imobiliário do Nordeste, sem considerar a participação do MCMV. A empresa não abre projeções de participação, mas estima um crescimento de market share com a chegada da nova frente.

Diego Villar, CEO da Moura Dubeux

Projeção de longo prazo

O executivo expressou a expectativa de que o novo ciclo de crescimento seja reconhecido pelo mercado no momento em que as condições da economia melhorarem, em um quadro de médio prazo.

“Até 2030, o Brasil vai passar por uma janela de oportunidade. Ainda que não seja igual: por exemplo, se for equivalente 70% da oportunidade que tivemos em 2019, essa empresa tem espaço para duplicar o preço da ação”, afirmou.

Em 2019, ano que antecedeu o IPO, os juros básicos no país estavam na casa dos 6,5% ao ano. Atualmente a Selic está em 13,25% ao ano, com projeção do mercado de alcançar os 15% ainda em 2025. “Ninguém vai olhar para o mercado imobiliário [na bolsa] enquanto os juros estiverem tão altos”.

Havia uma expectativa da administração de que o pagamento de dividendos funcionasse como um “gatilho” para os papéis – a distribuição era promessa feita à época do IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). O primeiro pagamento, de R$ 55 milhões, foi anunciado junto com o balanço do terceiro trimestre.

O sell side renovou o otimismo: analistas da XP Investimentos, por exemplo, elevaram o preço-alvo de R$ 16,5 para R$ 19 após o anúncio. Já os da Safra têm recomendação acima do preço do IPO, de R$ 20,60. Mas as ações ainda não acompanharam as novas projeções.

Leia mais: Como esta incorporadora mineira planeja avançar no mercado de São Paulo

“Não tenho como administrar o preço de tela da ação e tenho minha própria frustração por conta disso”, disse o CEO. “Mas é uma frustração de dez segundos. Depois eu lembro como a empresa está [operacionalmente e financeiramente]”.

O balanço fechado de 2024 será divulgado em março, mas a prévia operacional mostrou números em crescimento. Mesmo com o lançamento de 14 projetos em 2024, um a menos que no ano anterior, o Valor Geral de Vendas (VGV) da Moura Dubeux cresceu para R$ 2,5 bilhões no acumulado do ano.

Os dados mostraram um aumento de 58% no VGV na comparação com o ano anterior – e um resultado perto de sete vezes o valor do ano de 2019, que antecedeu o IPO.

“Com o lucro alcançado de forma consistente, boa distribuição de dividendos e baixa alavancagem na empresa, uma hora o mercado se curva ao resultado”, afirmou o CEO.

Leia também: Tenda e Direcional buscam destravar valor com novos sócios em subsidiárias

IPO da Moura Dubeux em 2020

Engenheiro de formação, Villar começou sua trajetória na Moura Dubeux em 2011, aos 27 anos. Cinco anos depois, foi convidado para ocupar o posto de CFO da incorporadora. Em 2019, chegou à posição de CEO com a missão de liderar o processo de busca de capital na bolsa para desalavancar a empresa.

“Antes do IPO, estávamos encolhendo, consumindo caixa. Desde então, crescemos cerca de 40% por ano”.

A abertura de capital aconteceu em fevereiro de 2020, mesmo ano em que Cury (CURY3), Plano & Plano (PLPL3), Mitre Realty (MTRE3) e Lavvi (LAVV3), do grupo Cyrela, chegaram à bolsa, o que evidenciou o apetite de investidores pela tese de longo prazo de incorporadoras.

Nesse grupo, os melhores resultados na bolsa são apresentados pela Cury e pela Plano&Plano, voltadas para o Minha Casa Minha Vida, com valorização de 128,4% e 23,8% em cinco anos.

Moura Dubeux, Mitre e Lavvi, voltadas para o médio-alto e alto padrão, tiveram maior dificuldade na bolsa. A Lavvi acumula leve alta de 3,2%, enquanto Moura e Mitre recuam 27,9% e 83,3%, respectivamente.

Leia mais

Bolsa do mercado imobiliário: ex-BC avança com plataforma de tokenização de imóveis

Do Mercado Livre à RD: as empresas que mais ocuparam galpões logísticos em 2024

Beatriz Quesada

Jornalista especializada na cobertura econômica. Formada pela USP, escreve sobre mercados, negócios e setor imobiliário. Tem passagens por Exame, Capital Aberto e BandNews FM.