Mounjaro no Brasil: Eli Lilly não vai praticar o preço máximo, diz diretor

Luiz André Magno, Diretor Médico Sênior da farmacêutica americana no Brasil, afirma à Bloomberg Línea que medicamento será vendido a partir de 7 de junho com valores ‘competitivos’

Eli Lilly & Co. Mounjaro brand tirzepatide medication arranged in Austin, Texas, US, on Sunday, March 3, 2024. Weight-loss shot users are looking to influencers for guidance absent proper follow-up care. Photographer: Montinique Monroe/Bloomberg
01 de Abril, 2025 | 05:20 AM

Bloomberg Línea — Chamado de “Ozempic dos ricos” pelo preço mais elevado, o Mounjaro começará a chegar às farmácias brasileiras no início de junho, um ano e meio depois da aprovação do medicamento do laboratório Eli Lilly para diabetes tipo 2 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A “demora para a venda no varejo refletiu o desafio da companhia norte-americana de garantir o fornecimento diante de uma crescente demanda global pelas “canetinhas”, em movimento iniciado pelo Ozempic, da dinamarquesa Novo Nordisk.

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O lançamento oficial do Mounjaro no país, cuja data foi marcada para o próximo dia 7 de junho, terá a apresentação formal do produto para a comunidade médica, principalmente endocrinologistas e cardiologistas.

Nessa data, as principais redes do varejo farmacêutico do país devem já contar com o medicamento disponível para a venda aos pacientes, segundo um porta-voz do laboratório no país.

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Inicialmente, a bula do Mounjaro no Brasil traz a indicação somente para pacientes com diabetes tipo 2. Nos Estados Unidos, por outro lado, o medicamento já obteve aprovação do FDA (Food and Drug Administration) para ser prescrito para tratamento de obesidade.

“A indicação para obesidade já foi submetida no Brasil e está sob análise da Anvisa. Em outros países, essa indicação adicional já foi aprovada. O tempo de aprovação depende da autoridade regulatória”, disse Luiz André Magno, Diretor Médico Sênior da Eli Lilly do Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

Estudos conduzidos pelo laboratório também demonstram a indicação do Mounjaro para apneia obstrutiva do sono em obesos ou pessoas com sobrepeso, segundo Magno.

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Esse distúrbio se caracteriza por uma pausa respiratória durante o sono devido à obstrução das vias aéreas, o que leva à interrupção do descanso e à fadiga diurna.

Leia mais: Eli Lilly testará remédios para obesidade em vícios como o álcool, diz CEO

No mundo, o Mounjaro se tornou um medicamento best seller com vendas equivalentes a US$ 11,54 bilhões em 2024, com um crescimento de 124% na comparação com o ano anterior.

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A estratégia de redução de preços ajudou ampliar as vendas em volume, segundo resultado anual apresentado ao mercado no começo de fevereiro.

Na ocasião, ao apresentar o guidance (projeção) para o ano de 2025 de expansão das receitas globais em 32% - no ponto médio da faixa indicativa -, o laboratório farmacêutico mencionou entre os fatores o começo das vendas em novos mercados e a ampliação das indicações médicas.

Uma eventual troca do Ozempic pelo Mounjaro será uma decisão dos médicos dos pacientes, segundo Magno.

O executivo citou estudos clínicos realizados pelo laboratório que demonstram a eficácia do Mounjaro (dose de 15 mg) no controle de glicemia e para a perda de peso, com mais potência na comparação com a dose máxima do Ozempic (1 mg).

A molécula do Mounjaro é chamada de tirzepatida, enquanto a do Ozempic é a semaglutida.

O executivo da Eli Lilly do Brasil disse que o preço do Mounjaro no varejo não será equivalente ao teto (da ordem de R$ 3.780) definido na lista da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) da Anvisa, que inclui o valor da alíquota do imposto cobrado pelos estados (ICMS).

Esse valor aproximado corresponde a quatro doses semanais, para um mês de tratamento.

“Não vamos praticar o preço máximo no Brasil. O preço do Mounjaro superior ao do Ozempic se deve ao efeito duplo da molécula do medicamento comprovado por estudos”, explicou.

Os medicamentos no Brasil vão sofrer um reajuste de 5% desta terça-feira (1º de abril).

No fim de março, o preço da caixa do Ozempic em farmácias da cidade de São Paulo oscilava entre R$ 1.200 e R$ 1.400, segundo verificou a reportagem da Bloomberg Línea em consulta às plataformas de e-commerce das principais redes farmacêuticas presentes nesse mercado.

Confira a seguir trechos da entrevista com o Diretor Médico Sênior da Eli Lilly do Brasil, Luiz André Magno, editada para fins de clareza e compreensão.

Qual é a previsão de chegada do Mounjaro ao mercado brasileiro?

O Mounjaro está previsto para chegar ao mercado brasileiro no dia 7 junho. A Lilly trabalha para garantir a disponibilidade do medicamento nas principais farmácias do país.

Qual é o preço previsto para o Mounjaro no Brasil?

O preço não será o teto máximo permitido pela Anvisa, mas, sim, um que seja competitivo com outros medicamentos da mesma classe. A Lilly está comprometida em garantir o acesso ao medicamento para os pacientes que precisam e trabalha para oferecer um preço justo e competitivo.

Quem toma hoje o Ozempic ou outro tipo de semaglutida pode trocar para o Mounjaro sem que sofra efeitos colaterais?

Não, a troca deve ser feita sob avaliação médica individualizada. Embora o Mounjaro seja um medicamento mais potente que o Ozempic, a troca deve ser feita com cautela e sob orientação médica. O médico deve avaliar a resposta do paciente ao Ozempic e determinar se a troca para o Mounjaro é apropriada.

Leia mais: Efeito Ozempic: bulas são atualizadas para tratamento além de obesidade e diabetes

O que difere o Mounjaro de outros medicamentos no tratamento da diabetes tipo 2?

O Mounjaro é um agonista duplo dos receptores de GLP-1 e GIP, imitando os efeitos desses hormônios. Ele se difere de outros medicamentos da classe das incretinas, que são agonistas específicos do GLP-1. A ação dupla do Mounjaro permite uma resposta mais eficaz no controle da glicemia e na perda de peso, tornando-o uma opção mais eficaz para pacientes com diabetes tipo 2.

Como o Mounjaro afeta os níveis de insulina e glicose no sangue?

O Mounjaro demonstrou eficácia em reduzir os níveis de glicose no sangue e melhorar o controle da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2. Além disso, o Mounjaro também ajuda a reduzir a resistência à insulina, tornando mais fácil para o corpo utilizar a insulina de forma eficaz.

Quais são os efeitos colaterais mais comuns associados ao uso do Mounjaro?

Os efeitos colaterais mais comuns são gastrointestinais, como náusea e diarreia. Esses efeitos colaterais são geralmente leves e temporários e podem ser minimizados com a titulação adequada da dose. Além disso, é importante lembrar que o Mounjaro é um medicamento que deve ser utilizado sob prescrição médica e acompanhamento regular.

Existem contraindicações ou precauções especiais para o uso do Mounjaro em certos grupos de pacientes?

Sim, existem contraindicações formais para pacientes com história familiar ou pessoal de câncer de tireoide medular. Além disso, é importante iniciar e fazer acompanhamento com o médico para evitar efeitos colaterais.

Em quais situações o Mounjaro pode ser utilizado em combinação com outros medicamentos para tratamento de diabetes?

O Mounjaro pode ser utilizado em combinação com outros medicamentos para tratamento de diabetes, exceto com outros agonistas da mesma classe. Isso significa que o Mounjaro pode ser utilizado em combinação com metformina, inibidores de DPP-4, inibidores de SGLT2, entre outros. No entanto, é fundamental consultar o médico antes de iniciar qualquer combinação de medicamentos.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.