Carro elétrico ou luxuoso? Nos EUA, receita para vender mais é cortar preços

Apesar do desafio para alavancar os emplacamentos em ambiente de incertezas na economia, empresas como Toyota e Honda reportaram crescimento dos volumes

Foto tirada de um ângulo inferior mostrando uma concessionária Honda. Um homem caminha pelo estacionamento e é possível ver o logotipo da empresa em azul.
Por Gabrielle Coppola - David Welch
06 de Abril, 2024 | 09:44 AM
Últimas cotações

Bloomberg — A Toyota (TM) e a Honda registraram aumento das vendas nos Estados Unidos no início do ano e a General Motors (GM) elevou as entregas no varejo, à medida que a demanda por modelos mais baratos ajudou as montadoras a espantar as expectativas de uma desaceleração da demanda.

A Toyota informou na terça-feira (02) que as entregas aumentaram mais de 20% no primeiro trimestre, impulsionadas pelo sedã Corolla e pelo crossover RAV4. O SUV CR-V e o compacto Civic da Honda levaram a montadora japonesa a um aumento de 17% nas vendas.

PUBLICIDADE

Já a GM relatou uma queda de 1,5% nas unidades vendidas durante o trimestre devido a compras menores no segmento de frotas corporativas, mas aumentou as vendas no varejo em 6%, impulsionadas pelo compacto Chevrolet Trax.

Os primeiros resultados ressaltaram a importância da acessibilidade para o consumidor, depois que a escassez provocada pela pandemia e as altas taxas de juros elevaram os custos nos últimos anos. A bonança de preços que impulsionou os lucros das montadoras durante a pandemia está desaparecendo à medida que a produção se normaliza. Agora que os estoques aumentaram, as montadoras estão distribuindo mais incentivos e os preços estão em queda.

Leia mais: Tesla tem vendas abaixo das estimativas e registra queda inédita desde 2020

PUBLICIDADE

Os carros de entrada e os SUVs compactos tiveram ganhos de participação impressionantes no primeiro trimestre, com o crescimento de sedãs a SUVs da Toyota. As picapes grandes – uma das categorias mais caras do setor – perderam terreno em janeiro e fevereiro, de acordo com a pesquisadora GlobalData.

Várias marcas, incluindo Jeep, Tesla (TSLA) e Ford (F), reduziram os preços para reconquistar os consumidores cansados da inflação e estimular a demanda no lento mercado de veículos elétricos.

“Estou surpreso com a resiliência do mercado”, disse David Oakley, analista da GlobalData. “A acessibilidade é um grande problema para o setor, e continuará sendo. Mas, no momento, parece que o mercado está resistindo aos problemas, e as pessoas estão de alguma forma conseguindo pagar”.

PUBLICIDADE
Gráfico

A GM disse que as vendas de seus SUVs grandes e caros, incluindo o Chevrolet Tahoe e o GMC Yukon, caíram. Enquanto isso, os emplacamentos de seu novo Chevy Trax, um SUV compacto com preço de venda inicial de US$ 20.400, aumentaram quase seis vezes como parte do impulso da empresa para veículos mais acessíveis.

A empresa notou um progresso lento na solução de problemas de produção em suas operações de baterias para veículos elétricos que fabricam o novo pacote de baterias Ultium do grupo. Embora o volume ainda seja relativamente pequeno, a GM teve seu melhor trimestre com a nova geração de eletrificados, com a venda de 5.800 unidades do Cadillac Lyriq e 1.668 caminhões elétricos Hummer.

Os analistas esperavam que o ritmo anual de vendas do setor atingisse cerca de 15,8 milhões em março, acima dos 14,9 milhões de um ano atrás, de acordo com a estimativa média de oito analistas pesquisados pela Bloomberg. O número real foi ligeiramente inferior, 15,5 milhões, de acordo com a análise do Wards Automotive Group.

PUBLICIDADE

Leia mais: Por que grandes locadoras têm reduzido a frota de carros elétricos no Brasil

Na terça-feira, a Toyota divulgou vendas de 565.098 veículos novos nos Estados Unidos no trimestre, com o maior crescimento de sua marca homônima em comparação com a linha de luxo Lexus. A empresa foi impulsionada por um ganho de quase 40% nas vendas do Corolla. Os emplacamentos do RAV4 aumentaram quase 50%.

As vendas da Nissan aumentaram 7,2% no trimestre, lideradas pelo crossover Nissan Rogue e pelo sedã Sentra, que registrou um salto de 78% nas entregas. A empresa não quis informar qual porcentagem das vendas foi para compradores de varejo ou frota (que são normalmente as locadoras).

As vendas da Kia caíram 2,5% no período de três meses, apesar de um aumento de 10% nas vendas de seu carro compacto Forte. Os emplacamentos da Hyundai nos Estados Unidos ficaram praticamente estáveis no trimestre.

Gráfico

Os consumidores parecem ter se afastado dos veículos totalmente elétricos devido à falta de infraestrutura de carregamento e altos preços. Embora as vendas de elétricos tenham aumentado em relação ao ano anterior, o volume no primeiro trimestre provavelmente diminuiu sequencialmente pela primeira vez desde o início da pandemia, de acordo com a pesquisadora Cox Automotive. Enquanto isso, as vendas de veículos híbridos, que oferecem boa economia de combustível e preços mais próximos aos de modelos a gasolina, aumentaram.

Leia mais: BYD planeja picape elétrica ainda em 2024 para enfrentar Hilux e Ranger

Steve Gates, revendedor que possui dez concessionárias nos estados de Kentucky, Tennessee e Indiana, contou que as vendas no primeiro trimestre foram melhores do que ele esperava, considerando que a acessibilidade ainda é uma questão para os compradores. Isso se aplica principalmente aos híbridos.

Em um sinal da pressão financeira sobre os consumidores, ele não consegue adquirir carros usados suficientes para atender à demanda dos compradores que não têm acesso aos modelos novos.

“A demanda ainda existe”, disse Gates, que vende várias marcas, incluindo Toyota, Lexus e Ford. Com apenas a versão plug-in do RAV4 da Toyota, “eu poderia ganhar a vida”.

Veja mais em Bloomberg.com